Surpresas e decepções no Oscar 2021: críticos avaliam se houve injustiças na premiação

Na entrega das estatuetas, neste domingo (25), Anthony Hopkins levou o prêmio de Melhor Ator e Glenn Close, mais uma vez, saiu de mãos vazias

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: O filme "Mank", a atriz Glenn Close e o ator Chadwick Boseman: injustiçados no Oscar 2021?
Foto: Divulgação

Neste domingo (25), na cerimônia de premiação do Oscar 2021, o filme “Nomadland" saiu consagrado, vencendo em três das mais cobiçadas estatuetas da noite – Melhor Filme, Melhor Direção (Chloé Zhao) e Melhor Atriz (Frances McDormand).

Se essas premiações não foram surpreendentes, outras escolhas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas supreenderam apostadores e cinéfilos. O Diário do Nordeste conversou com críticos de cinema para ouvir dos especialistas uma avaliação: o Oscar 2021 cometeu injustiças? 

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Três pontos foram discutidos. O primeiro diz respeito ao filme “Mank”, de David Fincher, que, apesar das 10 indicações, venceu apenas em duas categorias – Melhor Fotografia e Melhor Design de Produção. 

O segundo está relacionado à vitória de Anthony Hopkins na categoria Melhor Ator, mesmo após a grande quantidade de prêmios recebida por Chadwick Boseman (1976-2020), um de seus concorrentes, em outras grandes premiações.

Por fim, o fato de Glenn Close mais uma vez não ser reconhecida por sua atuação, depois de ter sido indicada oito vezes, no total – durante toda a história do Oscar  nas categorias Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante. Neste ano, ela foi desbancada pela atriz Youn Yuh-jung, do filme “Minari".

Os críticos por nós consultados foram unânimes, prevalecendo a opinião de que esta edição do prêmio foi bastante equilibrada, sem grandes injustiças e prezando pela diversidade, tanto na lista de indicados quanto na de vencedores. Confira:

Mank vencedor em duas das dez categorias

Lucas Salgado, jornalista e crítico de cinema, colaborador do site CinePOP

Sinceramente, acho que “Mank” ganhou até mais prêmios do que esperava. Todo ano, temos um grande filme que é recordista em indicações, mas acaba levando poucas estatuetas. Foi assim com “O Irlandês”, no ano passado. Eu, particularmente, gosto de “Mank”, mas acredito que não podemos apontá-lo como injustiçado.

Robledo Milani, crítico de cinema e criador do site Papo de Cinema

Essa grande quantidade de indicações e poucos prêmios é muito comum de acontecer no Oscar. No ano passado mesmo, nós tivemos o filme "O Irlandês", indicado em 10 categorias e vencedor de nenhuma. Também aconteceu com "Gangues de Nova York" (2002), "Momento de Decisão" (1977) e "A Cor Púrpura" (1985). "Mank" ainda ganhou dois prêmios e em categorias técnicas, que é realmente o forte do filme. As bolsas de aposta indicavam apenas uma vitória, na categoria Melhor Design de Produção, e ele ainda acabou levando também de Melhor Fotografia.

Foi um filme que gerou muitas controvérsia nos bastidores. Apesar de estar em dez categorias, ele não concorreu em duas que são fundamentais na escolha de Melhor Filme, que são as categorias de Melhor Montagem e, principalmente, de Melhor Roteiro. Isso já indicava que a obra não tinha tanta força assim. “Mank” é um filme mais admirado do que 'gostado'. As pessoas admiram muito o filme, principalmente por questões que não dá muito para discutir, e isso volta para as questões técnicas – a fotografia, a produção, o figurino, é tudo muito lindo, o som é muito perfeito. Ou seja, as questões técnicas são muito fortes, mas, quando fala o coração mesmo, outras produções acabam sendo mais eficientes nesse sentido. “Mank” ainda se saiu bem demais dentro das expectativas.

Vitor Búrigo, crítico de cinema e editor-chefe do site Cinevitor

É cada vez mais comum a gente ver esses filmes com muitas indicações, mas que saem quase sempre com poucas estatuetas. Acredito que isso se dá por conta da diversidade que, recentemente, temos encontrado também entre os indicados. Filmes menores, digamos, tem outros pontos que chamam mais a atenção em determinadas categorias, e essa diversidade das produções acaba tomando conta das premiações. Por isso, cada vez mais a gente vê também uma entrega diversa das obras. São muitos filmes premiados numa só cerimônia. Antigamente, era mais comum a gente ver um ou dois filmes ganhando todas as estatuetas. Mais recentemente, isso mudou bastante.

Vitória de Anthony Hopkins sobre Chadwick Boseman

Lucas Salgado, jornalista e crítico de cinema, colaborador do site CinePOP

A vitória do Anthony Hopkins foi a grande surpresa da noite, até pela forma que a cerimônia foi desenvolvida, com a categoria de Melhor Ator sendo deixada para o fim. Mas também acho que a palavra não é “injustiça”. Até porque a atuação do Anthony Hopkins em “Meu Pai” foi, sim, a melhor do ano. Se Chadwick Boseman fosse premiado, estaríamos claramente diante de uma homenagem, de uma celebração de sua vida e obra. Os votantes, no entanto, preferiram premiar o melhor trabalho, e eu concordo com a decisão.

Robledo Milani, crítico de cinema e criador do site Papo de Cinema

Na verdade, foi uma justiça o que aconteceu. O Chadwick Boseman não era favorito, mas o provável vencedor por uma simples questão matemática. Nas demais premiações, ele estava ganhando, então era de se imaginar que vencesse o Oscar também. Mas, na verdade, basicamente o Chadwick Boseman estava ganhando por uma questão de homenagem. Ele faleceu, é um cara que tinha uma representatividade muito forte em Hollywood, afinal era o Pantera Negra. Mas, é um profissional que, enquanto vivo, com uma carreira que passou por mais de uma década com diversos trabalhos, nunca tinha sido considerado para prêmio nenhum. Então, não é um ator de "poxa, estão devendo o Oscar há tempos e agora vai". 

Então não era uma injustiça, não era alguém que a Academia estava devendo. Se ganhasse, seria estritamente uma questão de homenagem. Acho que está mais do que bom o fato da indicação dele. Pelo trabalho em si, o Anthony Hopkins é infinitamente superior ao que o Chadwick Boseman mostra em cena. Aliás, acho que essa é uma atuação maior de uma carreira super estrelada do Hopkins. Ele mereceu muito o prêmio. Certamente, era muito melhor do que qualquer um dos outros indicados. E, se fôssemos olhar apenas para os cinco concorrentes, o Riz Ahmed e até o Gary Oldman, para mim, ainda estavam melhor que o Chadwick Boseman. Então, foi feita justiça e que bom, porque o Anthony Hopkins mereceu muito essa segunda estatueta.

Vitor Búrigo, crítico de cinema e editor-chefe do site Cinevitor

Não acho que foi uma injustiça. Chadwick Boseman era, sim, o favorito nessa temporada, ganhando praticamente todos os prêmios. Ele fez um trabalho incrível em "A voz suprema do blues" –  o filme, na verdade, é ele e a Viola Davis, são os dois que carregam a obra. Mas, quando a gente vê o Anthony Hopkins no filme "Meu Pai", já nos damos conta que estamos diante de um grande ator. Ele é muito bom no que faz, já estamos acostumados com isso. Porém, ao longo do filme, a entrega dela é tão genuína para aquele personagem que ele cresce de uma maneira enorme e ficamos embasbacados vendo aquele homem atuando de uma maneira tão forte com um tema tão delicado.

Então, quando assisti a "Meu Pai", vi que o Anthony Hopkins era o meu favorito. Eu queria muito que ele ganhasse o prêmio. O Chadwick Boseman, ainda que tenha apresentado um trabalho muito elogiável, talvez tivesse um peso de um prêmio-homenagem, talvez um Oscar póstumo, de tributo ao cinema e ao belíssimo trabalho dele. Por sua vez, o Anthony Hopkins, antes de ganhar o Oscar, ganhou o Bafta, que é considerado o Oscar britânico, e acho que isso cresceu muito para os membros da Academia. Ali, eles viram que era possível, sim, que o Anthony Hopkins se destacasse. 

Derrota de Glenn Close

Lucas Salgado, jornalista e crítico de cinema, colaborador do site CinePOP

Historicamente, Glenn Close é uma das grandes injustiçadas do Oscar. Ela poderia ter ganho por “Atração Fatal”, “Ligações Perigosas” e “A Esposa”. Em 2021, no entanto, penso que sua derrota foi justa. Por sua história, seria lamentável que fosse premiada por uma obra tão fraca como “Era uma Vez um Sonho”.

Robledo Milani, crítico de cinema e criador do site Papo de Cinema

Injustiçada? Eu acho que sim, mas não neste ano. Neste ano, ela não devia nem ter sido indicada. Ela tem uma atuação caricatural num filme horroroso – aliás, estava também concorrendo no Framboesa de Ouro como Pior Atriz Coadjuvante. Então, não, neste ano de forma alguma, ela não foi injustiçada mesmo, aliás foi agraciada demais. 

Mas, historicamente, Glenn Close é uma injustiçada, sim, porque ela tem, no mínimo, quatro atuações que mereciam ter sido premiadas em anos anteriores, dessas oito indicações que ela possui – que é “O mundo segundo Garp” (1982), primeira indicação dela como Atriz Coadjuvante; por “Atração Fatal” (1987) e “Ligações Perigosas” (1988), dois filmes dos anos 1980 muito marcantes e que fizeram a carreira dela. Com qualquer um dos dois, ela poderia ter ganho. E por “A Esposa” (2017), a penúltima indicação dela como protagonista, que ela perdeu para Olivia Colman –  uma injustiça, uma vez que Colman estava até na categoria errada, pois deveria ser atriz coadjuvante do filme "A Favorita" (2018)

Vitor Búrigo, crítico de cinema e editor-chefe do site Cinevitor

Acho que está faltando sorte na vida da Glenn Close. Porque ela é uma grande atriz, merece muitos prêmios. O ano em que ela chegou mais perto, recentemente, foi com “A Esposa”, na qual era ela a favorita, mas perdeu para Olivia Colman. Foi uma grande surpresa naquele ano, e, neste ano, ela não vinha como a favorita. 

Acho que isso também se deve talvez à escolha dela pelos seus filmes, pelos seus projetos. “Era uma vez um sonho”, que era a produção com a qual ela concorria, não é um grande filme, não fez sucesso de crítica, não ganhou um grande destaque, tinha uma maquiagem que chamava muito a atenção e, claro, tinha a atuação dela. Eu gosto muito da Glenn Close, acho que ela é o grande destaque do filme. Mas, talvez, seja falta de sorte dela. Dizem que ela vem aí com a adaptação de um musical que possivelmente será o grande momento de sua carreira.

Neste ano, não vejo como injustiça. Mas ela ainda vai ganhar esse Oscar, será consagrada com certeza num teatro lotado e super aplaudida

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