Pais de crianças precisam de "jogo de cintura" pra evitar uso exagerado de eletrônicos na quarentena
O alerta é da terapeuta ocupacional Sabrina Ibiapina. Ela ainda sugere que os adultos acompanhem e interajam com as crianças, caso seja inevitável o contato com as telas
Durante o período de quarentena, evitar o uso excessivo de eletrônicos dentre as crianças tem sido um desafio maior para os pais em relação à rotina pré-pandemia. Com a suspensão da programação escolar, as crianças ficaram sem rotinas definidas, os adultos não podem sair de casa com elas e os pequenos ainda não devem ter muito contato físico nem com amigos na vizinhança de suas residências.
A questão da interação entre crianças e telas tem sido recorrente nas recomendações sobre uma educação infantil mais equilibrada. Sensível sobretudo dentre os pequenos do período da primeira infância (0 a 7 anos), o contato com celulares, tablets, dentre outros dispositivos tecnológicos, é encarado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) com muita restrição. A entidade não recomenda nenhuma interação para os bebês de até 2 anos. E para as crianças maiores, a recomendação ainda é de menos de 1 hora por dia.
A terapeuta ocupacional Sabrina Ibiapina reconhece que a situação da quarentena exige muito "jogo de cintura" dos pais. Ela recomenda que, enquanto a criança estiver diante da tela, é bom que um adulto acompanhe a situação e procure interagir com o filho. "Se for um vídeo musical, por exemplo, é bom dançar junto, interagir com objetos. E isso por menos de 1 hora, porque não faz sentido a criança estar na frente da tela por muito tempo", observa a terapeuta.
Diante do isolamento provocado pela prevenção à pandemia do coronavírus, a especialista percebe como os próprios pais têm passado muito tempo à frente de celulares e dispositivos eletrônicos. Dessa forma, os adultos mesmo ficam mais tensos, com o excesso de notícias sobre a gravidade da situação, e dessa forma a família toda tem dificuldade de emplacar uma rotina equilibrada.
"Na rotina normal, é mais fácil controlar esse uso, porque tem o período da escola. A sequência de fazer as tarefas, brincar, descer para a área comum do prédio, e até deixar ver um desenho no celular por pouco tempo. Sem rotina para adultos e crianças, os filhos demandam mais da atenção dos pais. A saída mais cômoda acaba sendo os eletrônicos", explica Sabrina.
Para a terapeuta, as crianças, sobretudo as menores, não conseguem entender racionalmente o que ocorre. No entanto, conseguem compreender que vivem uma situação de exceção, diante da maior impaciência dos pais, ou da presença de ambos em casa o dia inteiro.
Celular
As telas pequenas de celulares e tablets, segundo Sabrina, ainda trazem um problema maior em relação à televisão e ao notebook. "A forma com que esses dispositivos eletrônicos chamam atenção da criança é bem maior do que a TV. A distância fica a menos de um braço, entre a criança e o aparelho. Então não tem possibilidade dela nem compartilhar a atividade com outra pessoa direito", expõe ela.
Saídas
A terapeuta ocupacional orienta que o Instagram (como no vídeo abaixo, de seu próprio perfil) está repleto de perfis com sugestões para equilibrar essa relação. Porém, Sabrina pontua uma saída básica para a criança não se expor tanto às telas: a família montar uma nova rotina do lar, durante a quarentena.
Ela frisa que não há uma receita de bolo ideal para todas as famílias. No entanto, é importante encontrar uma rotina adequada para o tamanho da residência e favorável à interação entre as crianças e os pais.
"Um exemplo: de manhã, é horário de fazer tarefinhas. Depois, pode assistir um desenho de 20 minutos. E depois pode fazer uma atividade mais dinâmica. Atividades matinais exigem mais atenção. Depois do almoço, pode ter atividades (como brincadeiras) mais dinâmicas, e no final da tarde dar uma volta de carro. Se não organizar assim, as crianças ficam soltas, brincam na hora que querem, e enjoam rápido do que estão fazendo", complementa.