'Paira nuvem negra de intolerância sob o país', diz homem hétero que deu beijo gay na SPFW

Eles estavam acompanhados das respectivas mulheres, que apoiaram o beijo.

Escrito por Folhapress ,

Para abordar a intolerância, Ronaldo Fraga decidiu levar à passarela da São Paulo Fashion Week, na noite desta terça-feira (23), pessoas de diferentes raças, idades e gênero. Muitos não eram modelos, mas amigos do estilista que toparam o desafio de desfilar pela primeira vez.
Não era a estreia do personal trainer Bruno Alencar, 29, e do mágico Vagner Molina, 48, mas ambos tiveram um desafio ainda maior: heterossexuais, eles protagonizaram o beijo gay que abriu a apresentação. 

"O lance do beijo foi uma surpresa para nós também, porque ele só nos contou na prova de roupas. Mas entendemos que a causa era nobre e fazia parte de todo um conceito criado por ele", disse Alencar.
Conhecido por sempre fazer desfiles políticos, Fraga contou que tirou a inspiração para a coleção no conflito entre Israel e Palestina. Ele afirmou, porém, que, mesmo com toda a intolerância, palestinos e israelenses, quando se sentam à mesa, convivem em paz. "A guerra, na verdade, acontece aqui no Brasil, onde negros, travestis e gays morrem todos os dias."  

Legenda: Vagner Molina, 48 anos, ressalta a importância do beijo para o conceito do desfile e para o combate contra a intolerância no Brasil
Foto: Agência Fotosite

Molina ressalta a importância do beijo para o conceito do desfile e para o combate contra a intolerância no Brasil. "Entendemos a importância que o beijo tinha para a mensagem do desfile e diante dessa nuvem negra de intolerância que paira sob o nosso país. Esperamos que tenha chocado, porque era essa a intenção dele", afirmou. 
A cena foi muito aplaudida pelo público presente, assim como os outros beijos de casais de mulheres e idosos. O desfile de aconteceu em um galpão na Vila Leopoldina, na zona oeste de São Paulo.
Molina e Alencar já se conheciam e tinham até trabalhados juntos em um desfile do próprio Fraga, na SPFW 2017, que abordou a diversidade e a inclusão. Ambos usam próteses em uma das pernas e tiveram o membro amputado em acidente de moto. 

Eles estavam acompanhados das respectivas mulheres, que apoiaram o beijo. "Pelo evento, pela causa, pela história que ele [Fraga] quis contar, por tudo, o beijo era importante. Esse é o momento para mostrar que a diversidade existe e deve ser respeitada", contou Silvia Molina, 47, casada há 32 anos com Vagner.
O desfile de Fraga contou também com a presença de famílias inteiras, idosos e crianças. O menino Enzo Paschoalin, 10, disse que estava "envergonhado", mas fez bonito na passarela. Ele participou do desfile ao lado de toda a família, que é amiga de Fraga: a mãe, Marcela Ballardin, 36, o pai, Marcos Paschoalin, 39, e a irmã, Maria Eduarda, 13 anos.

Também amigo de Fraga, o produtor musical Felipe da Cunha, 22, estreava na passarela. "É esquisito desfilar, mas divertido. Sou muito fã dele e do seu trabalho. É um dos poucos estilistas que é politizado na moda e sempre muito ligado com o que está acontecendo no mundo e no Brasil."   

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