Obras e memórias de Leonilson ocupam casa onde o artista passou a infância, em São Paulo
Localizado no bairro Vila Mariana, o sobrado da família foi reformado para receber o projeto que preserva os trabalhos e o legado do artista plástico José Leonilson
Não era difícil encontrar José Leonilson (1957 - 1993) na casa dos pais, mesmo depois de ter tomado a decisão de se mudar para um espaço que lhe permitia guardar os sonhos, a vida e os pincéis. O sobrado da família, que fica em uma subida do bairro Vila Mariana, em São Paulo, estava a poucos passos do lugar que ele escolheu para viver. Tão perto que dona Carmen Dias, quando perguntada, respondeu que não sentiu falta nenhuma do filho quando ele decidiu se mudar. "Ele não saiu de casa, só dormia lá", justificava, de maneira bem-humorada, a mãe do artista cearense.
O local é também personagem recorrente nas fitas cassetes que o pintor, desenhista e escultor gravava como uma espécie de diário - mais um, além da própria obra. Foi lá onde ele chegou, após sair de Fortaleza, aos quatro anos, para morar com a família na capital paulista.
Passou tardes colhendo retalhos da mãe no quarto de costura, almoçou às sextas-feiras em grandes encontros familiares e acompanhou o crescimento dos sobrinhos. Na residência da Vila Mariana, Leonilson contou aos pais sobre a aids que lhe invadiu o corpo, o pensamento e impactou a própria obra.
Inevitavelmente, as lembranças do artista cearense estão naquela casa, mas se ampliaram desde maio do ano passado, quando a família optou transferir para lá a sede do projeto que administra e preserva as obras e a memória de Leonilson.
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A decisão foi tomada pelos filhos de dona Carmen, após o falecimento da matriarca em agosto de 2017. O sobrado da Vila Mariana foi, então, o presente que os irmãos resolveram ofertar a Leó, visto que seus trabalhos estavam abrigados há 23 anos em uma sede alugada.
"Mesmo lá, a gente sentia muito a presença do Leonilson. O projeto é um jeito de ele estar com a gente, de ele permanecer. Foi muito gostoso juntar isso com as coisas da minha mãe. Nós temos muitas lembranças nessa casa", conta Ana Lenice Dias, a Nicinha, presidente do projeto e irmã do artista.
Mudança
Uma reforma preparou os cômodos para acolher o trabalho e as memórias de Leonilson. No primeiro piso do sobrado, estão expostas parte das obras do acervo da família, entre desenhos, bordados, pinturas e esculturas. O espaço também recebe objetos pessoais de Leonilson, como móveis, cadernos de anotações, diários e trabalhos de amigos artistas plásticos.
No piso superior, o quarto das irmãs agora é escritório do projeto e também mantém a biblioteca de Leonilson, com os atlas, mapas e cadernos de viagens que também se inserem constantemente nas obras dele. O quarto onde o cearense passou parte da infância e da adolescência ao lado dos irmãos hoje acolhe o arquivo, com a documentação de exposições e obras.
Sobrinha do artista e coordenadora-geral do projeto Leonilson, Gabriela Dias comenta que o espaço, além de ser mais adequado para o trabalho, ainda permite que as tradições da família sejam respeitadas, como o almoço de sexta. "A gente achou que ia ser uma adaptação difícil, porque a gente estava há 20 anos na antiga sede, mas no momento em que entramos aqui e vimos tudo no lugar, não sentimos falta nenhuma. Leonilson voltou para casa. Aqui é a casa dele", compartilha.
Serviço
Projeto Leonilson
Rua Major Maragliano, 94, Vila Mariana - São Paulo. Visitas por agendamento. Contato: (11) 5572.1534 ou projetoleonilson.com.br