“O melhor filme brasileiro de todos os tempos” completa 90 anos com programação especial da Unifor

“Limite”, de Mário Peixoto, ganha exibição nesta segunda-feira (17) e debate na terça (18)

Escrito por Redação ,
Cena de Limite
Legenda: Sem força ou desejo de viver, os personagens do filme atingem o "limite" de sua existência
Foto: Reprodução

No topo da lista dos 100 melhores filmes brasileiros, publicada em livro no ano de 2016, pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), está “Limite”. A obra do carioca Mário Peixoto (1908-1992) foi exibida pela primeira vez em 17 de maio de 1931, no Cinema Capitólio, na Cinelândia, Rio de Janeiro. Nesta segunda-feira, exatos 90 anos depois, às 20h, o trabalho ganha transmissão pela TV Unifor, em programação comemorativa deste marco na cinematografia nacional.

“Dialogar com essa experiência é importantíssimo para a compreensão da cultura do País”, introduz a  coordenadora do Curso de Cinema e Audiovisual da Unifor, Bete Jaguaribe, a frente da atividade que inclui também um debate com o cineasta Sérgio Machado e o pesquisador Denilson Lopes na terça-feira (18).

Para Bete, a principal contribuição do filme, cujo enredo discute essencialmente a passagem do tempo e a condição humana, é a inovação de linguagem, a possibilidade de um novo cinema. “O legado da arte de experimentação é especialmente contribuir com a liberdade de criação, sugerindo novas formas artísticas, instaurando novos regimes estéticos”, destaca.

Cena de Limite
Legenda: Em um pequeno barco à deriva, duas mulheres e um homem relembram seu passado recente
Foto: Reprodução

Impacto da linguagem

Márcio Peixoto tinha 22 anos quando dirigiu "Limite". Investir na linguagem silenciosa quando o cinema mudo perdia espaço causou espanto. Afinal, o campo cinematográfico movimentava-se no sentido de uma produção inspirada no modelo norte-americano e “Limite” foi na contramão disso.

Bete Jaguaribe conta que na primeira vez que assistiu o filme ainda nem estudava audiovisual, mas, com o olhar de espectadora comum, sentiu o impacto.

“Foi uma experiência radical, que abriu outras possibilidades de cinema, um cinema que instaura novos modos de ver”, partilha.
Bete Jaguaribe
Coordenadora do Curso de Cinema e Audiovisual da Unifor

“Obra secreta”

Logo de início, o filme não entrou no circuito comercial. Por isso mesmo, "Limite" virou uma espécie de “obra secreta”, que poucos viram e alguns duvidavam até mesmo da existência.

Cena de Limite
Legenda: Cansados, os protagonistas do filme param de remar e se conformam com a morte
Foto: Reprodução

Guardado durante anos, foi restaurado pela primeira vez em 1971, pelo crítico Saulo Pereira de Mello. Em 2007, ganhou uma restauração definitiva, em operação conjunta da Cinemateca Brasileira com a de Bolonha (Itália), supervisionada pessoalmente por Saulo.

A iniciativa da operação partiu de Walter Salles Júnior, e o financiamento veio da World Cinema Foundation, dirigida por Martin Scorsese. 

Espécie de guardião especial do filme de Mário Peixoto, Saulo morreu em abril passado, aos 87 anos, vítima da Covid-19. Na ocasião, Salles escreveu ao Jornal O Globo que o crítico foi “o homem que salvou ‘Limite’”.

Debate

É com o objetivo de possibilitar que as novas gerações conheçam o filme e o artista Mário Peixoto que o Curso de Cinema e Audiovisual da Unifor consolidou uma programação celebrativa para estes dias. “É importante saber que o cinema brasileiro tem um experiência extraordinária, uma trajetória diversa”, pontua Bete Jaguaribe.

A primeira atividade aconteceu no domingo (16), quando a TV Unifor exibiu o documentário “Onde a Terra Acaba” (2001), de Sérgio Machado. A obra é uma homenagem ao segundo filme que o diretor Mário Peixoto tinha a intenção de realizar, mas nunca concluiu.

Sérgio Machado é cineasta, roteirista, produtor e jornalista

Nesta segunda (17), a TV Unifor promove a exibição especial do filme. Já na terça, a programação encerra-se com uma conversa sobre "O artista Mário Peixoto e o filme Limite", às 19h30.

“O debate reúne o pesquisador Denilson Lopes (que está lançando um livro sobre Mário Peixoto) e Sérgio Machado (diretor do filme ‘Onde a terra acaba’). São suas aproximações, dois olhares diferentes e complexos sobre Limite e Mário”, explica Bete Jaguaribe, que mediará o encontro. Os professores Isaac Pipano e Marcelo Muller também participarão da mesa virtual.

Denilson Lopes
Legenda: Denilson Lopes é autor de “Mário Peixoto antes e depois de Limite'' (São Paulo, e-galáxia, 2021).

“Acho que a conversa será bem bacana e contribuirá para um melhor entendimento da importância do artista e de sua obra”, conclui a coordenadora do Curso de Cinema e Audiovisual da Unifor.

Serviço

17/05 - às 20h - Exibição do filme “Limite” (Mário Peixoto, 1931). (na TV UNIFOR, canal 14, da TV por assinatura Multiplay e NET 181)

18/05 - às 19h30 - Debate sobre o filme “Limite” e o artista Mário Peixoto, com as presenças do cineasta Sérgio Machado, o pesquisador Denilson Lopes, e os professores Isaac Pipano, Marcelo Muller, com a mediação da professora Bete Jaguaribe. (no YouTube da TV UNIFOR)

Assuntos Relacionados