'O Labirinto', filme de terror com Dustin Hoffman, se enrola até virar beco sem saída

Escrito e dirigido por Donato Carrisi, baseado num livro dele mesmo, longa estreia nos cinemas a partir desta quinta-feira (12)

Escrito por Inácio Araújo , Folhapress
Legenda: Filme mistura terror, terror psicológico e filme policial, e é dividido quase simetricamente em duas metades
Foto: Divulgação

Hitchcock contava, que certa vez, pensou em fazer um filme na Itália. Mas ele diz que recuou por estar convencido de que os escritores italianos - latinos em geral? - não tinham muita noção de estrutura, o que dificultaria a execução de um suspense policial.

É nesse conjunto de filmes com problemas de estrutura que parece estar "O Labirinto", escrito e dirigido por Donato Carrisi, baseado num livro dele mesmo. Estamos aqui em uma mistura de terror, terror psicológico e filme policial, dividido quase simetricamente em duas metades.

De um lado, temos o detetive particular interpretado por Toni Servillo procurando o criminoso responsável por sequestros de jovens. Na outra metade, o psiquiatra vivido por Dustin Hoffman busca penetrar na mente de Samantha , uma jovem que foi sequestrada há mais de uma década, período quando viveu encerrada no labirinto que dá título ao filme.

Na primeira dessas partes, que correm paralelas, o detetive se depara com uma série de obstáculos misteriosos, por vezes terríveis, que protegem o criminoso, de quem as raras testemunhas não sabem dizer nem mesmo que aparência têm - ou antes: o personagem esconde o rosto com uma cabeça de um coelho.

Trata-se, assim, de um percurso bem labiríntico. Mas também aresriscado, naturalmente, como convém a um bom personagem de filme noir que deriva para o terror.

Elaboração labiríntica

A segunda metade supõe que Samantha aos poucos liberte-se das drogas que turvavam a sua mente e embaralham sua memória, começando a descrever o que se passava efetivamente no labirinto em que andou encerrada.

Enquanto o detetive busca não apenas o homem que faz semelhantes maldades mas também as sombrias motivações que motivaram as ações, o psiquiatra contenta-se com as descrições que a vítima faz de sua vida no local. Contenta-se não é bem a palavra - tudo se passa num quarto de hospital, sendo que Hoffman informa que há policiais ouvindo o testemunho.

Enquanto a atividade do detetive é objetiva, a busca do psiquiatra parece bem subjetiva. Ele e Samantha não parecem saber quando a moça está delirando e quando não está. A partir disso, tudo se torna possível. O que é imaginação e o que não é? O que houve de real efetivamente? Conhecer esses detalhes todos leva a história a quê?

Ficamos um pouco perdidos nessa elaboração labiríntica, para, ao final da sessão, concluirmos que esse jogo entre real e imaginário constitui ele próprio um labirinto em que o filme se embrenha e de onde só encontra saída graças a uma série de trapaças. Na verdade, é possível chegar a essa conclusão bem antes do fim.

O espectador acaba desfrutando muito mais da busca levada por Servillo, o detetive, que poderia ser o assunto único do filme. A investigação conduzida pelo psiquiatra parece só ter a dimensão que tem porque o ator escalado se chama Dustin Hoffman.

Existe ainda uma outra dimensão no filme - a de jogo, ou quebra-cabeça. Talvez o objetivo seja chegar ao vasto setor do público que se interessa muito mais por jogos de computador do que por intrigas ficcionais. "O Labirinto" pode ser bem-sucedido na busca por esses espectadores - e é possível que eles encontrem mais rigor nas artimanhas do senhor do labirinto do que eu, por exemplo, encontrei.

Legenda: A investigação conduzida pelo psiquiatra parece só ter a dimensão que tem porque o ator escalado se chama Dustin Hoffman
Foto: Divulgação

O certo é que tais artifícios conduzem o filme a perguntas como "será que a vida existe?". A escolha parece mais uma saída do autor ao labirinto narrativo em que ele se enfiou do que, de fato, uma opção da história.

O fato é que "O Labirinto" só não é um filme aborrecido graças à parte dedicada ao detetive e à boa atuação de Servillo, que é ótimo ator.

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