Mulheres adotam alternativas durante o período menstrual

Autoconhecimento e sustentabilidade são as principais questões que têm levado à procura por novas opções. Coletor, bioabsorvente e calcinhas absorventes figuram entre as possibilidades

Escrito por Roberta Souza , roberta.souza@diariodonordeste.com.br
Legenda: Bruna Ianara, Jane Oliveira e Isadora Machado são adeptas dos métodos alternativos e naturais durante o período menstrual
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

Do tempo da vovó, a utilização do "paninho" durante o fluxo menstrual vem sendo aperfeiçoada por uma nova geração de mulheres, preocupadas com o autoconhecimento e a sustentabilidade. Aqui, o "novo" produto é conhecido como bioabsorvente. Ele, o coletor menstrual e a calcinha absorvente constituem o trio alternativo para quem busca uma espécie de reconexão consigo e também com o planeta.

A psicóloga e terapeuta Bruna Ianara, 26 anos, lembra bem de quando ainda era estudante, nem tinha passado pela menarca, e a avó Maria insistia para que levasse na bolsa um paninho, por precaução. "Eu ficava irritadíssima, mas quando decidi usar, em 2014, pesou muito essa influência dela", recorda a empreendedora - que, além de usar, revende os bioabsorventes e os coletores.

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Tanto a questão ecológica quanto a relação com o próprio ciclo menstrual influenciaram Bruna na mudança de hábito. Sobre a primeira questão, mais ou menos 12 mil absorventes higiênicos são descartados por uma única mulher em cerca de 40 anos. Mas nem sempre isso serve de alerta, conforme observa a psicóloga.

"A primeira ideia que vem é de que é nojento entrar em contato com aquele líquido, que vai direto para o lixo. Então, por que mudar esse paradigma? Como o fator ambiental parece supérfluo aos olhos de algumas pessoas, mostro logo os prejuízos dos descartáveis para o corpo", conta.

A ginecologista Anna Dorotheia reforça essa ideia quando explica as vantagens de utilizar os métodos alternativos. "Eles são livres de produtos químicos. Então as mulheres que apresentam processos alérgicos, irritação na pele, que chegam a causar coceira, têm menos chances de sofrer com isso com a utilização desses produtos novos", salienta.

Confecção

A fornecedora dos bioabsorventes que Bruna revende é a fotógrafa caririense Jane Oliveira, 32 anos. Desde 2014, quando começou a usá-los, intuitivamente ela aprendeu a costurá-los. "Já estava imersa nesse processo de conexão com corpo, autoconhecimento, então decidi comprar uma máquina de costura. Aprendi sozinha. Minha mãe e minha avó paterna costuravam, tenho lembranças vivas", recorda.

Os bioabsorventes confeccionados pela fotógrafa são produzidos com tecidos 100% algodão, e o forro possui quatro camadas intercaladas de flanela e toalha, ambos de alta absorção. A pergunta mais recorrente das curiosas, segundo Jane, é: "Vai vazar?". Ela responde: "Assim como o coletor, que uma hora vai transbordar, o bioabsorvente é um tecido que respira, deixa a pele respirar, por isso é frio, não causa incomodo, não esquenta, não deixa a pele irritada. Ele vai vazar e a gente vai precisar sair da zona de conforto e adentrar a zona de autoconhecimento do corpo", declara.

"Conhecer o fluxo, o ritmo do fluxo, do próprio corpo, dar vazão às sensibilidades para compreender que nosso corpo fala e a gente quase nunca escuta. O processo de autoconhecimento é saber quanto tempo você pode ficar com o bioabsorvente e em quanto tempo vai trocar", completa ela.

Tendências

Isadora Machado, 28 anos, cliente de Bruna e Jane, usava o coletor há cerca de seis anos. O copinho feito de silicone hipoalergênico, sem corantes ou produtos químicos, funciona como um absorvente interno, mas reutilizável, que armazena todo o fluxo menstrual.

Nos últimos três meses, porém, a consumidora resolveu investir somente nos bioabsorventes. "Achava o coletor incrível, mas comecei a sentir que o absorvente de pano fazia o sangue percorrer o fluxo todo no canal vaginal, não ficava retido na região interna. E isso é também uma forma de reconhecer a menstruação como limpeza", observa.

Também preocupada com o meio ambiente, Isadora devolve seu sangue diluído para a terra, utilizando-o como biofertilizante das plantas de seu jardim. "O que eu achei mais significativo foi poder observar meu sangue, que antes só ia pro absorvente e ficava lá. Agora faço o reconhecimento de algo que constitui meu corpo, símbolo da minha fertilidade, sem gerar poluentes", pontua.

As calcinhas absorventes são outra tendência que tem sido muito buscada por aqui, como aponta Bruna, mas ainda não há produção local e as consumidoras têm recorrido ao frete. A primeira marca brasileira a produzi-las foi a Pantys.

"Realizamos uma pesquisa com as mulheres perguntando se elas estavam dispostas a testarem novos produtos absorventes e concluímos que 50% delas estavam abertas para alternativas confortáveis, sustentáveis e que tenham maior duração. Lançamos a Pantys em agosto do ano passado e já vendemos para todos os estados do Brasil. Inclusive, tivemos uma ótima aceitação em Fortaleza, de onde recebemos inúmeras mensagens de blogueiras e clientes interessadas", conta Emily Ewell, sócia e desenvolvedora da Pantys.

Entre os tabus que a marca quebrou estão a associação da menstruação a algo sujo e nojento e o fato de que deve haver higienização a cada três horas, com a troca do absorvente. "A calcinha foi feita para ser usada durante o dia inteiro e não existe problema nisso. Esse aspecto também faz com que seja mais aceita a ideia de reutilização e sustentabilidade", conclui.