Morre Januário Garcia, militante e fotógrafo de capas clássicas da MPB

Reconhecido por registrar o movimento negro, ele tinha 77 anos e faleceu de covid-19 na última quarta-feira (30). Artista da imagem, suas fotografias estampam os discos de ícones como Raul Seixas, Belchior, Tom Jobim e Patativa do Assaré

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Pesquisador guarda importante contribuição à memória brasileira e capturou capas de disco como
Legenda: Pesquisador guarda importante contribuição à memória brasileira e capturou capas de disco como "Alucinação" e “Há Dez Mil Anos Atrás”
Foto: Reprodução/site IMS

O Brasil perde Januário Garcia. O fotógrafo de 77 anos é mais uma vítima da covid-19  faleceu nesta quarta-feira (30). Em mais de 50 anos de carreira, este profissional premiado tornou-se uma das referências à documentação da realidade do povo negro brasileiro.

Atuou com o mesmo brilho em áreas como a música, publicidade e jornalismo. "Fotógrafo, negro, brasileiro", assim descrevia o próprio realizador em seu site oficial. Natural de Belo Horizonte, Garcia é também conhecido por captar imagens de um time de peso da MPB.

Legenda: "Alucinação" (1976)

Suas fotos estampam discos considerados mágicos como “Há Dez Mil Anos Atrás” (Raul Seixas), "Alucinação" (Belchior) e "Urubu" (Tom Jobim).  A lista ainda inclui nomes como Tim Maia, Caetano Veloso, Leci Brandão, Chico Buarque, Fafá de Belém e Fagner. Suas lentes registraram Patativa do Assaré (1909-2002) para o LP "Poemas e Canções". 

Legenda: "Poemas e Canções" (1979)

A cantora Leci Brandão homenageou o amigo via redes sociais. Ela citou a importância de Garcia no processo de produção de seus discos.

"Foi ele quem me apresentou a musicalidade e as cores do Olodum, além de introduzir na minha vida o pensamento de Lélia Gonzales", compartilhou a artista em outra publicação, 

Imagem como militância

"Januário usou seu olhar para documentar a realidade dos brasileiros afro-descendentes nos mais diversos aspectos - social, político, cultural e econômico - e criou um imenso acervo sobre a história contemporânea no Brasil", descreve o Instituto Moreira Sales. O fotografo participou do "Programa Convida" (2020), iniciativa que reúne obras de 170 artistas brasileiros. 

É autor dos livros “25 Anos do Movimento Negro”, “Diásporas Africanas na América do Sul” e "História dos Quilombos do Estado do Rio de Janeiro".

Legenda: "Eu Canto - Quem Viver Chorará" (1978)

Januário Garcia realizou exposições em diversos países como Estados Unidos, Japão, Alemanha, Nigéria e Senegal. Atuou como presidente do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN) e membro do Conselho Memorial Zumbi.