Monólogo "Florbela" volta ao circuito teatral e será exibido neste sábado (31)

A vida breve da poetisa portuguesa Florbela Espanca foi uma experiência rápida (1894-1930), e ao mesmo tempo da maior intensidade. Com legado que inspira o fazer artístico até hoje, 90 anos depois de sua morte, a artista virou tema do monólogo "Florbela", criado e encenado pela atriz cearense Daniella de Lavôr. O espetáculo foi criado em 2009, como reflexo de uma pesquisa que já dura há 19 anos. E agora a peça será reexibida no retorno do Teatro Brasil Tropical (Meireles) neste sábado (31), às 20h.

A entrada do espetáculo é gratuita e o espaço deve trabalhar com 30% da capacidade de público habitual. São permitidas até 100 pessoas na plateia, seguindo os protocolos de segurança quanto à transmissão do coronavírus. Daniella conta como, na véspera de voltar a se apresentar, precisa lidar com um misto de emoções fortes.

"Ansiedade, tensão, expectativa, felicidade, nervosismo... Eu estava ensaiando um novo trabalho, sobre (a cantora) Maysa, uma artista que amo, e o processo foi todo prejudicado pela pandemia. Voltar com o Florbela agora, depois de tanto tempo e ainda no meio disso tudo, é algo assustador também. Nós trabalhamos aglomerando pessoas e ficamos sem poder trabalhar por meses", desabafa a atriz.

Além da tensão com as restrições da pandemia, ela fala da saudade para atuar de novo e sentir a energia da plateia. "O público estará de máscara, respeitando o distanciamento. Vamos precisar nos adaptar. Até porque nosso espetáculo é muito intimista", acrescenta Daniella.

Lançado há 11 anos, o monólogo não era apresentado desde julho de 2018. Na época, o espetáculo passou um mês em cartaz no Teatro do Dragão do Mar e a atriz temia que o público não tivesse interesse pela obra. "Mas me surpreendi! A plateia fica em cima do palco comigo. É como se a Florbela recebesse as pessoas na sala de casa. Só podíamos ter até 90 pessoas no teatro. E a cada apresentação, a gente tinha lotação máxima", lembra a atriz.

Parceiros

Com direção de Hertenha Glauce, o monólogo também conta com a participação do ator e músico Bruno Teixeira. Ele vai tocar violão, acompanhando a atriz em três poemas musicados, de autoria de Florbela Espanca. Dois deles, "Fumo" e "Fanatismo", são bem conhecidos pela interpretação de Raimundo Fagner. O espetáculo ainda traz outras canções, feitas a partir da poesia de Florbela, na voz da cantora Nicole Borger.

Sobre o contato com a obra da artista portuguesa, Daniella não economiza adjetivos.

"Florbela é necessária. Ela tinha uma alma intensa, violenta, atormentada, como ela mesma dizia. Quem for assistir ao espetáculo, vai poder conhecer uma mulher que amou em carne viva. E a direção delicada e precisa de Hertenha Glauce foi fundamental pra nos trazer essa mulher que amou tanto, mas tanto, que não suportou viver", reflete a atriz cearense, a partir dos 36 anos de vida da poetisa.

O texto do monólogo se trata de uma "transcriação" de cartas e do diário de Florbela. Daniella interpreta as palavras da poetisa, só alterando a ordem. "Peguei, por exemplo, 20 cartas que ela escreveu pro pai e tirei um trecho de cada uma. Aí transformei em uma carta que não existe nos livros dela, mas que foi escrita por ela, de alguma forma", revela a atriz.

Dupla

Para conciliar a carreira de atriz com a profissão de jornalista (ela também trabalha para a Rádio Verdes Mares), Daniella de Lavôr sugere que a dupla de ocupações "se confunde e se complementa". Ela começou com o teatro e só depois se formou no jornalismo. "Eu não seria a jornalista que sou se eu não tivesse a experiência que tenho no teatro. O teatro me ensinou a ler uma notícia com naturalidade, a fazer o ouvinte - já que trabalho em rádio - compreender o que informo. Me ensinou a improvisar no ar", detalha.

Segundo a atriz e jornalista, vale o conselho para estudantes de jornalismo: "façam teatro! Mesmo que não sigam carreira, mas façam. O único risco é se apaixonar pela profissão e precisar conciliar os dois ofícios. O teatro nos dá noção de interpretação de leitura, de postura, de tudo!".

Serviço
Florbela
Exibição do monólogo, com a atriz Daniella de Lavôr (CE). Direção: Hertenha Glauce. Neste sábado (31), às 20h, no Teatro Brasil Tropical (Av. da Abolição, 2323, Meireles). Acesso gratuito. Capacidade permitida: Até 100 pessoas (protocolo covid). Contato: (85) 3458.1900