Lançamento de singles e videoclipes movimentam a cena musical cearense

A cena autoral cearense segue efervescente. Aliada à qualidade musical, o cuidado nas estratégias de divulgação ganha espaço enquanto ferramenta preciosa. O lançamento de singles e o investimento na produção de vídeos são alternativas reais à dinâmica dos artistas independentes.

Em paralelo, essa produção ressalta a participação de profissionais ligados à outras expressões artísticas e culturais. É música, mas também envolve, entre outras linguagens, o cinema, a moda, o teatro e as artes plásticas. 

A pandemia da Covid-19 segue afetando drasticamente o setor cultural. O fechamento dos espaços voltados à fruição da arte exigiu reinvenção. Talento, união e coragem são fatores essenciais para quem produziu (e continua) em tempos tão espinhosos. A periodicidade dos lançamentos possibilita estes artistas estarem em constante contato com o público. 

Desde 2019, Lorena Nunes trabalha incansavelmente em “La Mar”, seu próximo álbum. Uma generosa mostra desse universo foi apresentada ao mundo na última semana, quando a cantora entregou o single de “Calma”. A canção ganhou clipe caprichado e a expectativa com o novo projeto só ganhou força. “Vejo muito como um abre alas. Ajuda a situar você no rolê”, detalha. 

Em outra expectativa, a possibilidade da dobradinha clipe/single permite que a estética singular da artista, elaborada continuamente desde “Alegria Amarela”, prossiga em evidência. “O lançamento demarca um lugar que ocupei e ocupo. Um trabalho novo, completamente diferente do primeiro. Continua sendo eu, com outro lugar”, explica a cantora. 

Mateus Fazeno Rock assina a composição. O serviço de cordas e percussão, respectivamente, de Cláudio Mendes e Igor Caracas, evidenciam o primor destinado ao material. “Calma que a poesia vem. Ela vem com essa calma que tu tem no peito”, nos diz os versos iniciais.

O clipe teve roteiro, direção de cena e direção de fotografia assinada por Camila de Almeida. A montagem e finalização é de Gabriel Araujo. As atrizes Silvia Moura, Jéssica Teixeira e Maria Vitória estão presentes e acentuam esse caráter de multiplicidade da inédita obra. 

Unidas

Na sexta-feira (25), Camila Marieta e Rayane Fortes apresentam o clipe de “Respirar”. A faixa conta com produção do norte americano Dee James e do produtor brasileiro Matt B. Nas caixas de som, um pop envolvente e marcado pelo entrelaçamento da música brasileira e internacional. “É uma conquista muito grande para nós cearenses. Nordestinos”, avalia Rayane Fortes. 

O registro vem sendo trabalhado desde 2018. É especial na trajetórias das realizadoras por ser a primeira obra conjunta das duas. “Eu sinto calma, eu sinto paz, eu sinto a falta que ela me faz, ela me faz”, nos conta o tema.

O contexto do isolamento social, na ótica de Rayane, esgarçou a urgência das mentes criativas se aproximarem. “Se reinventar. De enxergar que devemos nos unir. A necessidade para todos crescerem juntos”, avalia. 

Novos caminhos

Uma “desconstrução” acompanha o multi-instrumentista Caio Castelo. Em maio, o músico lançou a terceira parte do álbum “Pontes de Vidro”. Desde então, a alternativa dos singles ganhou espaço. Produtor requisitado, a experiência do cearense no mercado evidencia o quanto esse tipo de produto (o single) pode ser um terreno fértil.

“Fico chamando de álbum, singles, dizendo pra mim mesmo que é um álbum. Cada mês eu lanço. Cada um tem uma história particular. De comum entre eles é que eu fiz. São da mesma época e refletem o mesmo momento”, avalia. 

O mais recente projeto é “Parcial”, que já está disponível nos serviços de streaming. Tanto a música quanto o clipe foram inteiramente produzidos e executados por Caio, até mesmo a grafia das legendas.

Esta é a segunda música de “ir reconhecível”, seu quarto álbum, do qual vem lançando novas faixas mensalmente. A primeira foi em agosto: uma releitura para “Berro”, de Clau Aniz.

O cenário artístico é fértil, no entanto, as dificuldades para quem se dedica à música autoral continuam. O desafio para quem almeja viver apenas do trabalho musical ainda é imenso. União é um dos primeiros passos no objetivo de fortalecer essa cena, observa Lorena Nunes.

"A realidade é que as coisas estão apertadas. O momento é de primeiro se reencontrar num novo contexto, todos entendo como é. E pensar como tornar sustentável. Ainda não é. Falta muito", alerta a cantora. 

Estreia

Luiza Nobel canta o amor em “Estamos bem”, primeira música de sua carreira. No dia 30 de setembro, o trabalho chega a todas as plataformas de streaming. A música é resultado de um laboratório de criação da escola Porto Iracema das Artes e tem produção da cantora e compositora carioca Mahmundi.

“Estamos bem” narra vivências de afeto entre mulheres que se apoiam, mesmo cada uma enfrentando o pior. Inspirada pela estética dos anos 2000, Luiza construiu o universo visual desta canção em parceria com as artistas Marissa Noana e Dhiovana Barroso. Dupla que comanda o coletivo Terroristas del Amor.

Mesmo ser ter sido composta no período da pandemia, a obra é atual por trazer a necessidade mais urgente e comunitária: ficarmos bem. Luiza busca em artistas negras — novas e já consagradas —  inspirações para seu trabalho, como Elza Soares, Yzalú, Tássia Reis, MC Carol e a própria Mahmundi, produtora da canção.