Itaú Cultural lança streaming gratuito de cinema e audiovisual brasileiro; confira detalhes

Estreia da plataforma acontece neste sábado (19), com três fases de lançamento e homenageando a filmografia do cearense Luiz Carlos Barreto

Escrito por Diego Barbosa* , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Cena de "Garrincha, alegria do povo", documentário sobre o mais famoso driblador do futebol brasileiro, com roteiro e produção do cearense Luiz Carlos Barreto
Foto: Divulgação

Itaú Cultural Play é o nome da nova plataforma de streaming disponível para o público, a partir deste sábado (19). A data é oportuna: trata-se do Dia do Cinema Brasileiro, segmento que é o grande contemplado pelo projeto, realizado pelo Itaú Cultural.  O acesso às produções acontecerá de forma gratuita, abarcando desde obras clássicas do cinema nacional a trabalhos contemporâneos. 

No total, o catálogo inicial reunirá 135 títulos dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal. São filmes em diferentes metragens e a partir de múltiplos gêneros – a exemplo de ficção, documentários, animações para crianças e para adultos, palestras, entrevistas, produções experimentais e séries documentais e de ficção.

A ideia é que haja três etapas de lançamento da plataforma, conforme divulgado na coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (17). Na primeira, o foco é sobretudo o acesso e reprodução do conteúdo em navegadores de internet; no segundo momento, deve acontecer a chegada do Itaú Cinema no streaming; a última fase, por sua vez, compreende a chegada da plataforma às Smart TVs. Até setembro deste ano, todas as etapas serão concluídas.

Legenda: Trabalhos do fotógrafo e diretor sobralense Luiz Carlos Barreto ganharão destaque na plataforma a partir de títulos relacionados ao futebol, que ele dirigiu ou produziu
Foto: Divulgação

A estreia do projeto homenageia dois dos mais importantes nomes do cinema brasileiro: o cineasta, ator e escritor baiano Glauber Rocha (1939-1981) – a partir de trabalhos assinados por ele entre 1959 e 1985; e o fotógrafo e diretor cearense, natural de Sobral, Luiz Carlos Barreto. Deste, ganharão fôlego os principais títulos relacionados ao futebol, que ele dirigiu ou produziu. Entre os filmes, estão “Garrincha, alegria do povo” (1962), “Isto é Pelé” (1974) e “O casamento de Romeu e Julieta” (2005).  

O componente da diversidade é outro chamariz do streaming que, de acordo com os idealizadores, promoverá um cuidadoso olhar sobre produções capitaneadas por indígenas, mulheres diretoras, de autoria negra, por realizadores estreantes, por realizadores periféricos, com temática LGBTQIA+, de caráter experimental e independente, entre outros recortes. A proposta é que, até o mês de dezembro, haja produções novas no catálogo a cada 15 dias, seja para ocupar curadorias já existentes ou novas curadorias.

Alcance e parcerias

Esta primeira culminância do projeto acontece após dois anos de maturação e desenvolvimento da ideia, com gerência do Núcleo de Audiovisual e Literatura da instituição. “É um momento histórico para o Itaú Cultural, em virtude dessa jornada de dois anos e devido à associação que a plataforma faz com os primeiros dias da própria entidade”, sublinhou, durante a coletiva, Eduardo Soron, diretor da casa.

Ele também destacou que um dos diferenciais da plataforma é a possibilidade de exibir a produção audiovisual realizada por instituições culturais de todo o País, primando por recortes curatoriais próprios. Não sem motivo, neste primeiro instante os filmes selecionados obedeceram à curadoria das instituições parceiras, que escolheram os produtos a partir de seu acervo. São elas: a Festa Internacional Literária de Paraty (Flip); a São Paulo Companhia de Dança; os institutos CPFL e Alana, além de dois canais de televisão – Arte1 e TVE/Bahia. 

Outras curadorias, nesta primeira mostra, advém da programação de três festivais de cinema: forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte, responsável pela seleção de filmes de autoria indígena; IN-Edit – Festival Internacional do Documentário Musical; e o É Tudo Verdade, com uma retrospectiva de curtas-metragens premiados em suas edições. 

Cerca de outros 30 parceiros já estão atrelados ao projeto, a fim de organizar novas programações para os tempos vindouros. Entre eles, estão o Instituto Moreira Salles, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, o Canal Futura e o Sesc São Paulo. 

“Consideramos toda essa curadoria bastante relevante, uma vez que ela representa, traduz e explicita um pouco da própria história do Itaú Cultural. Não há um filme na plataforma que não faça parte de alguma curadoria – seja de diretor, de tema, de questões mais específicas… Nenhuma produção está lá por acaso. Nós fizemos um movimento bastante forte para que, nesta primeira fase de lançamento, nenhum Estado pudesse estar fora do catálogo, do ponto de vista de conteúdo. Assim, todos os Estados brasileiros têm, pelo menos, um filme na plataforma. Para nós, isso é fundamental”, situou Eduardo Soron.
Eduardo Soron
Diretor do Itaú Cultural

Além dos números já citados, o catálogo inicial inclui 16 mostras temáticas, totalizando 56 longas-metragens, 50 curtas-metragens, 36 ficções, 69 documentários e 15 filmes de animação para adultos e para crianças. Os filmes foram realizados por 56 diretoras e 64 diretores – demonstrando uma preocupação da instituição pelo equilíbrio de gênero por trás das câmeras. No futuro, a plataforma poderá ter salas com sessões especiais pagas, contudo, de acordo com os idealizadores, sem afetar o propósito central de ofertar conteúdo gratuito.

Acesso e visualizações

Na coletiva, também foi apresentado o layout do Itaú Cultural Play, a partir da condução de Claudiney Ferreira, gerente do Núcleo de Audiovisual e Literatura da instituição. O modelo não se diferencia muito do que já se pode encontrar em outras plataformas, com uma especial atenção pela funcionalidade.

Chama a atenção, porém, o esmero na apresentação dos conteúdos, a partir de um arrojado design de tela – os títulos das produções, por exemplo, aparecem ao espectador como se fossem grandes fotografias, capturando um instante do filme de modo a já embarcar o visitante na trama. 

Legenda: Tela inicial do Itaú Cultural Play
Foto: Reprodução/Itaú Cultural Play

Além disso, contornando apenas as breves linhas da sinopse de cada obra, há uma pequena seção destinada a apontar ao usuário os motivos para que ele assista ao filme – intitulada “Por que ver” – e também links de acesso a outros canais de informação da entidade, como a Enciclopédia Itaú Cultural, bem como para os canais mantidos pelos parceiros do projeto.

Não há um único filme avulso. Tudo está embalado, tudo foi pensado dentro de um sistema orgânico. Isso para nós é bem importante porque diz respeito à formação de público; no sentido de que haja um caminho para enxergar dentro da plataforma, evitando que se passe mais tempo procurando um filme do que efetivamente assistindo-os”, apontou Claudiney Ferreira.

Ainda estão no percurso da plataforma outras ações, como o apoio à produção audiovisual, por meio, por exemplo, do programa Rumos Itaú Cultural – com títulos como “Edna”, de Eryk Rocha; “Almofada de penas”, de Joseph Specker Nys; “Ela volta na quinta”, de André Novais.

Legenda: Dirigido por Marcio Debellian, o filme "Fevereiros" estará presente na plataforma, compondo a seção "Mulheres na música: nomes próprios"
Foto: Divulgação

No mesmo movimento, o incentivo a produções próprias da instituição, como a série “Iconoclassicos” – a partir de obras sobre nomes como Zé Celso, Rogério Sganzerla, Nelson Leirner, uma livre inspiração de Cao Guimarães da obra Catatau, do poeta Paulo Leminski, e  um filme sobre Itamar Assumpção, dirigido por Rogério Velloso.

Entre os carrosséis permanentes do catálogo, estão mostras que destacam diretores mais alternativos ou independentes – a exemplo de Carlos Nader, Joel Pizzini, Júnia Torres, Otto Guerra e Joel Zito Araújo; e o cinema de autoria negra, começando por André Novais Oliveira, Viviane Ferreira, Joel Zito Araújo, Juliana Vicente e Zózimo Bulbul.

A representação dos estados brasileiros está presente nas mostras de autoria indígena e do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, cuja seleção de filmes foi feita por convidados do universo audiovisual. A curadoria ficou à frente de coletivos das próprias regiões. São eles: Mercado Sapi (GO), Nordeste Lab (Salvador) e a documentarista Júnia Torres, curadora e diretora do forumdoc.bh – Festival do Filme Documentário e Etnográfico de Belo Horizonte. A realizadora fez a seleção de filmes de autoria indígena.

Legenda: O curta "Banho de cavalo", com uma sucessão de micronarrativas poéticas sobre uma arvore, na Amazônia, integra a seção "O ser amazônico"
Foto: Divulgação

Além disso, uma atenção especial para a seara de curtas-metragens, de filmes de autoria de mulheres e de animações voltadas tanto para crianças – com o “Cine Curtinhas”quanto para adultos, são outros carros-chefes do catálogo. A Coleção Itaú Cultural também ganhará espaço vitalício, a partir da exibição de realizações contempladas via programas ou outras formas de apoio e produção própria do Itaú Cultural, democratizando com que outras ações e projetos de todo o País possam ganhar espaço no streaming.

“A questão da parceria sempre diz respeito à curadoria, de um acerto dela dentro dos conceitos da plataforma”, explicou Claudiney Ferreira. Ao que Eduardo Soron, diretor do Itaú Cultural, complementou: “Por isso que alguns parceiros estão nesse processo de chegada”.

“Com o Itaú Cultural Play, nós instauramos um espaço de divulgação de uma produção audiovisual brasileira diversa. A plataforma não substitui as salas de cinema, mas atua no papel de formação de público, propondo uma nova elaboração dos diferentes Brasis a partir da ótica do cinema”, concluiu o gestor.
Eduardo Soron
Diretor do Itaú Cultural

Serviço
Itaú Cultural Play 
Lançamento neste sábado (19). Endereço para cadastramento e acesso à plataforma neste link

 

*O repórter participou da coletiva a convite do Itaú Cultural

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