Gal Costa lança álbum de duetos, ao lado de nomes como Rodrigo Amarante, Criolo e Rubel

Gravado ao lado de nomes da música brasileira recente, como Tim Bernardes e Silva, “Nenhuma Dor” traz canções de Caetano Veloso, dentre outros compositores

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@svm.com.br
Legenda: Gal já tinha lançado vários singles do álbum, antes de lançar o trabalho completo
Foto: Carol Siqueira

Gal Costa convidou 10 homens “corajosos” para formar um dueto com ela. Em plena exuberância vocal aos 75 anos de idade, a cantora baiana lança o álbum “Nenhuma Dor”, pela gravadora Biscoito Fino. Com um repertório composto em sua maioria pelo conterrâneo Caetano Veloso, Gal ora “exagera” por conta de seu talento e solidez técnica, ora dá espaço às vozes – normalmente suaves – dos parceiros. O disco está disponível nas plataformas digitais.   

Numa levada de samba-rock, em “Avarandado” Gal divide a voz com Rodrigo Amarante, um dos vocalistas do Los Hermanos (RJ). Bem diferente do Amarante consagrado pelo público durante a carreira da banda carioca (1999-2007), o artista, depois de tocar um trabalho solo e todos os projetos pós-fama, hoje canta com mais clareza, sem perder a “leseira” característica de sua interpretação.  

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A música de abertura do disco sintoniza com o conceito do álbum. O público que se fidelizou aos Hermanos reverbera dentre os apreciadores de Rubel (parceiro de Gal na interpretação de “Coração Vagabundo”), Silva (“Só Louco”) e Tim Bernardes (“Baby”). Um nicho de fãs de música ligados na ponte entre o rock e as vertentes da MPB.  

Gal termina, como ela mesma tem dito a respeito do álbum, sendo apresentada a esse público - cujos pais eram crianças ou sequer tinham nascido quando ela iniciou sua discografia (meados da década de 1960). Com “Só Louco”, na sequência, o repertório segue minimalista – com um arranjo suave e que joga “a favor” das vozes.  

Silva, no entanto, cuja voz já é muito suave, soa “isolado” no dueto. Não existe o apelo orgânico de se ouvir uma dupla, com a mesma sintonia que ocorre em performances ao vivo. O mesmo acontece com Rubel, em “Coração Vagabundo”.  

Em “Paula e Bebeto” (composição clássica de Milton Nascimento e Caetano Veloso), Gal lembra porque João Gilberto chegou a dizer que ela era a melhor cantora do Brasil. Parceiro na faixa, o rapper Criolo faz um complemento interessante à exuberância vocal da baiana, com um tom mais tímido e – conforme é típico no rap – também “falado”.      

O português Antonio Zambujo também soa complementar ao timbre de Gal. Seja pelo tom mais grave, como pelo próprio sotaque do “português de Portugal”, em “Pois é”.  

Beleza 

“Meu bem, meu mal”, outra pérola feita por Caetano Veloso, ganha (mais uma) versão emocionante e Gal abusa do direito de cantar bonito, acompanhada por um piano. O timbre agudo de Zé Ibarra é uma cereja do bolo sofisticadíssima na melhor faixa do disco.  

Foto: Júlia Rodrigues

Referência da obra de Luiz Melodia (1951-2017), “Juventude Transviada” começa devagar, com o grave de Seu Jorge. Conhecida pelos versos “Lava roupa todo dia/ Que agonia”, a versão soa como um samba melancólico e é uma das poucas faixas do álbum em que a interpretação de Gal se equilibra (e não se sobressai demais) em relação ao parceiro do dueto. O mesmo acontece em “Negro Amor” e “Nenhuma Dor” - ambas ainda preenchidas por um belo arranjo de cordas.   

Virada 

Em “Baby” (Caetano Veloso de novo), essa balança também muda. A composição ganha uma (ótima) versão “jovem”, acompanhada por um ukulelê, e Tim Bernardes solta bem a voz, com a cantora em uma postura mais discreta na canção.      

O disco termina com uma versão de “Negro Amor” (Bob Dylan, traduzido por Caetano Veloso e Péricles Cavalcanti), ao lado de Jorge Drexler. E a faixa-título, com Zeca Veloso.   

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