Festival Varilux de Cinema Francês começa hoje (19) em Fortaleza e mais 43 cidades do Brasil

Entre documentário, drama e animação, a programação conta com 17 filmes inéditos e um clássico

Escrito por Mylena Gadelha , mylena.gadelha@svm.com.br
Legenda: O filme “A Boa Esposa” foi o escolhido para a abertura do festival em diversas cidades nesta quinta-feira (19)

O Festival Varilux de Cinema Francês já se tornou tradição em solo brasileiro. É evento marcado no calendário entre os admiradores da sétima arte produzida naquele país. Em um ano repleto de incertezas, marcadas por meses de isolamento social, o cinema europeu ganha espaço hoje (19) com o início do festival. A programação vai até dia 3 de dezembro e acontece presencialmente em diversas sessões pelo Brasil.

A abertura oficial na capital cearense será às 19h, no Cinépolis RioMar Fortaleza. Em cartaz, “A Boa Esposa” (La Bonne Épouse), filme guiado por Martin Provost (“O Reencontro”) e estrelado por Juliette Binoche.

Dezessete longas-metragens inéditos e recentes da cinematografia francesa compõem a seleção. Entre eles, estão um documentário e gêneros como comédia, drama e até animação. Destaque também para a exibição especial do clássico “Acossado”, de Jean Luc-Godard.

Uma mostra gratuita e online reúne oito obras de cineastas da Nouvelle Vague. Para completar a iniciativa, O Varilux terá palestra a distância com Jean-Michel Frodon, crítico e ex-diretor da revista Cahiers du Cinéma. O pesquisador falará deste importante movimento audiovisual francês, cujo início e atuação remetem ao fim da década de 1950. Uma verdadeira ode a produções relevantes para o meio artístico, um dos que mais têm sofrido desde o início da pandemia da Covid.

Comédia

No meio de nomes conhecidos do público mundial, caso de Juliette Binoche, o Varilux se transforma na possibilidade de conferir referências importantes do cinema francês, sejam eles atores, diretores, roteiristas ou produtores. Prato cheio para quem deseja cessar a saudade das salas e telas, enveredando por histórias novas e inventivas.

Um dos trabalhos que compõem a grade de programação, o longa “Donas da Bola” (Une Belle Equipe) exemplifica essa questão. Em tela, a história do time SPAC, de uma pequena cidade francesa, discute a presença das mulheres no futebol com ironia e leveza, apresentando nesse meio uma série de atrizes que brilham diante das câmeras conduzidas pelo diretor Mohamed Amidi.

“O que me interessava é que o futebol é um esporte muito popular e, claro, permite falar de muitos temas por meio dele”, contou de primeira Amidi durante entrevista por vídeo ao Verso.

Segundo ele, o filme se utiliza do esporte para retratar “relações sociais que se cruzam” entre homens e mulheres. Além disso, o cineasta ressalta, a ideia de trazer o futebol para falar de assuntos como machismo e configuração das famílias parece ter surtido o efeito desejado no início da concepção.

Durante a videochamada, o diretor, que também foi o responsável pelo primeiro esboço do roteiro, sorriu ao ser questionado sobre o trabalho das atrizes escolhidas para os papéis. Sabrina Ouazani, como Sandra, e Céline Sallette, como Stéphanie, foram exaltadas por ele, que parece fazer questão de pontuar a importância das mulheres para o elenco.

Como uma boa comédia, o filme faz jus ao gênero, sem deixar de lado as temáticas difíceis as quais se propõe a mostrar. Enquanto brinca com o fato de as personagens femininas não possuírem o mínimo conhecimento da prática esportiva, alfineta ao mostrar como os homens são praticamente inúteis em ações que mulheres praticam quase cotidianamente.

Para Mohamed Amidi, esta já é uma característica de trabalho escolhida por ele há anos: tratar do drama em contornos nos quais o riso funciona como para “quebrar o gelo”. “Quando me perguntam sobre isso, gosto de pensar que faço isso há tempos. Agora estou aqui falando de machismo e acredito nesse gênero cinematográfico como um meio para se aprofundar em algo tão difícil”, comenta ele ao apontar esse recurso como delicado, apesar da utilização recorrente.

Mesma linha

Enquanto as novas apostas fazem parte da programação, produções com atores franceses consagrados são outra figurinha carimbada no Festival Varilux. Talvez por isso o filme “A Boa Esposa”, do diretor Martin Provost, tenha sido o escolhido para dar o pontapé inicial do festival: ele traz Juliette Binoche como protagonista e um enredo também focado na temática da mulher na sociedade.

Um dos longas com maior arrecadação na França desde que os cinemas voltaram a funcionar, “A Boa Esposa” também aposta na comédia francesa como trunfo para tratar da questão. Aqui, no entanto, é a sátira que dá tom e acaba por evidenciar as qualidades da atriz dentro do gênero.

No filme, Binoche é Paulette van der Beck, a administradora de uma escola de “boa governança”. É dela o papel de ser a formadora de jovens em busca do aprendizado relacionado às funções de dona de casa.

Com o dever de abrir com maestria a edição de 2020, a produção francesa consegue divertir e ser agente de reflexão - como é o caso de outros filmes da Mostra -, revelando o potencial do que é vindo de lá. No final, talvez seja essa exatamente uma das grandes proposições do festival como acontecimento. Enquanto se discute a importância da arte em momentos difíceis, ela se transfigura como uma forma de entender a sociedade, seja por meio de filmes como estes ou por outras vertentes.

No Ceará, os organizadores do fetival pontuam que, assim como em todo o País, protocolos de saúde e higienização serão mantidos para garantir a segurança do público.

Serviço
Festival Varilux de Cinema Francês

De 19 de novembro a 3 de dezembro
No Cinema do Dragão (Rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema) e no Cinépolis RioMar (Rua Des. Lauro Nogueira, 1500, Papicu)
Os valores dos ingressos variam de acordo com cada rede exibidora
Programação completa em http://variluxcinefrances.com/2020/

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