Famosas removem próteses de silicone dos seios e expõem os motivos nas redes sociais

As queixas vão desde incômodos estéticos aos sintomas da Síndrome de ASIA, também conhecida como “Doença do Silicone

Escrito por Zilda Queiroz , zilda.queiroz@svm.com.br
Imagem: José Leomar
Legenda: Incômodos estéticos e sintomas sistêmicos relacionados aos implantes de silicone são os principais motivos pelos quais, portadoras de próteses na mama optam pelo explante
Foto: José Leomar

Famosas, a exemplo da ex-BBB Amanda Djehdian, a escritora e fundadora do movimento Corpo Livre, Alexandra Gurgel, a influencer Fernanda Neute, a instrutora de Yoga e terapêutica Marília Levy e a Youtuber Evelin Regly são algumas das mulheres que, em algum momento da vida, adotaram o implante de silicone nos seios em uma busca para elevar a autoestima e conquistar a imagem física padrão. Porém, elas e outras mulheres vêm  mudando de opinião e se submetendo ao explante das próteses. Os motivos vão desde incômodos estéticos e emocionais aos sintomas da síndrome de ASIA, também conhecida como “doença do silicone".

Em nota de esclarecimento apresentada pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica SBCP, a instituição diz que, a síndrome de ASIA (síndrome autoimune-inflamatória induzida por adjuvante) ou "doença do silicone" foi descrita em 2011 por Schoenfeld e consiste em desenvolvimento de doenças autoimunes em indivíduos geneticamente predispostos como resultado de exposição a adjuvantes (por ex: vacinas e implantes de silicone). Muitos estudos estão sendo realizados para determinar a relação direta entre ASIA e implantes, e também quais seriam os indivíduos potencialmente predispostos.

Imagem: Reprodução/Instagram
Legenda: O cirurgião plástico Dr. George Régis diz ser de fundamental importância para além de ouvir e acolher as queixas das pacientes, apresentar opções seguras e éticas para as que desejam se submeter ao explante

Dor nas articulações, musculares, fadiga crônica, distúrbios do sono, depressão, alterações visuais são alguns dos sintomas da síndrome. Porém, o cirurgião plástico Dr. George Régis alerta:  “Para chegar ao diagnóstico da 'doença do silicone', a paciente precisa ser minuciosamente avaliada, em busca de outras causas para esses sintomas, pois, distúrbios hormonais ou doenças autoimunes são mais comuns para esses sintomas, os quais ao serem identificados por exames laboratoriais podem ser tratados”, ressalta o médico.

Depoimentos
A ex-BBB Amanda Djehdian fez o explante de silicone da mama no fim de 2020. Em postagem no Instagram, ela disse estar muito feliz por ter se livrado dos incômodos.

“Não poderia ter presente melhor neste Natal!! Estou LIVRE, livre de dores, livre de choro, livre dessa bomba-relógio! Há 14 anos por vaidade, pressão, insegurança coloquei algo que me disseram que era super seguro e não me faria mal. Sempre fui muito vaidosa, e comecei a ter uma visão distorcida de quem eu era, e pra me sentir mais bonita coloquei o silicone. Mal sabia a maldade que estava fazendo com meu corpo no momento que tomei a decisão”.

Mesmo com queixas, em 2014 Djehdian fez a troca das primeiras próteses. A partir daí, tudo piorou, pois os exames solicitados apresentavam resultados normais. 

“De um ano pra cá, os sintomas (Doença do silicone) passaram a gritar no meu corpo, como se fosse um pedido de socorro, cabelo caindo, fadiga crônica, desmaios, vômitos, enxaquecas, sudorese noturna, névoa cerebral, insônia, dores musculares, perda de memória , moscas volantes na visão, dentre outros, também veio a contratura num nível maior, dores absurdas, 15 dias no mês passava chorando, sem dormir, sem ter uma vida normal”, escreveu a ex-BBB.

Na publicação, ela declara ter procurado ajuda médica, e recebeu a seguinte resposta. “Disseram que era tudo coisa da minha cabeça, essa tal doença do silicone, e que sim estava com contratura, mas era SÓ TROCAR de próteses, porque eu não ficaria bonita sem elas. Neste momento eu tive a CERTEZA que eu não precisava mais delas, que eu não iria passar pela mesma pressão que passei com 20 anos e que eu queria ter vida e saúde”, revelou a influencer.

Em vídeo publicado no seu Instagram, a escritora e fundadora do movimento Corpo Livre,  Alexandra Gurgel traz reflexões sobre o implante e explica porque optou pelo explante das próteses.

Em participação no programa “Encontro com Fátima Bernardes”, no começo do mês, Gurgel revelou que há 9 anos fez o implante. No entanto, mesmo se sentindo bonita não estava feliz. Três meses depois ela estava completamente insatisfeita e entrou em um quadro depressivo. Na conversa com a apresentadora, Alexandra também chamou atenção para necessidade do acompanhamento psicológico antes de a pessoa se submeter à cirurgia de implante.

A terapeuta Marília Levy é outra que se queixa de nunca ter se sentido plena ou feminina com o implante. Por isso, optou pelo explante. Nas redes sociais ela desabafou.

“Há exatos seis meses me livrei das próteses de silicone que ficaram dentro do corpo por sete anos e me prejudicaram em inúmeros aspectos, tanto emocionais quanto de saúde física. Hoje respiro profundamente sem peso e sem amarras”, descreveu.

“Há 4 meses eu me livrei de uma das coisas que mais causou sofrimento na minha vida: essas próteses de silicone. Eu sempre fui autoconfiante e obcecada em ser a melhor versão de mim mesma e isso incluía também a aparência física”, assim começa o texto da influenciadora Fernanda Neute em sua rede social.⁣

⁣Na publicação, a influenciadora acrescenta. “Por causa da minha tendência ao perfeccionismo, eu ficava constantemente procurando defeitos no meu corpo e formas de "melhorar" tudo o que eu pudesse. Foi assim com o silicone. Uma tentativa de arrumar algo que nunca foi um problema real, mas eu tinha dinheiro (e na época eu achava que dinheiro resolvia tudo), tinha tempo, já tinha 35 anos, então por que não fazer?”, se perguntava Neute.⁣

Consciente ela, revela. “A verdade é que, buscando melhorar, eu só piorei. As próteses desencadearam um processo inflamatório que serviu de gatilho para que eu desenvolvesse uma série de doenças autoimunes e causaram uma infecção de baixo grau que estava destruindo o meu sistema imunológico lentamente nos últimos 4 anos. Depois de ter passado por tudo isso, eu fiquei tentando lembrar em que momento eu comecei a me sentir inadequada fisicamente e acho que eu era tão nova que não me lembro da vida sem ter alguma reclamação em relação à minha aparência...”

Na vibe de aceitação do corpo e libertação dos padrões estéticos, a Youtuber, Evelyn Regly  também postou um vídeo no seu canal contando  os motivos que a levaram à retirada do silicone. Nas imagens, ela mostra as cicatrizes deixadas pela cirurgia.

Só por estética
Já a advogada cearense Marcele Alencar conta ter feito o implante na mama, em 2009 e gostou muito do resultado. Na época, ela tinha amamentado os dois filhos e os seios ficaram com bastante flacidez. Marcele diz que sempre foi vaidosa e a imagem que via no espelho não a deixava muito feliz. Porém, a ideia de colocar silicone partiu do próprio cirurgião. “Minha queixa principal era a barriga. Ele achou que o preenchimento das mamas com silicone resolveria meu caso. Realmente ficou muito bom na época e não me arrependo”, declara.

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Legenda: A advogada Marcele Alencar pensa em fazer o explante apenas por incômodos estéticos
Foto: Reprodução/Instagram

A advogada também diz sentir vários dos sintomas citados pelas influencers, mas ela não os associa ao implante. Mesmo assim, ela estuda a possibilidade de explante. O motivo? Simplesmente porque nos últimos anos, ela ganhou peso e percebeu a prótese muito exagerada.

"Penso em tirar, mas ainda não falei com o cirurgião, estou fazendo primeiro um programa de emagrecimento com acompanhamento nutricional para ver se essa sensação de exagero na prótese permanece”.

Ao ser questionada sobre como ela se imagina sem as próteses, se a remoção vai mexer com seu emocional, Marcele solta. “Eu só penso que vou ficar magra, mas me preocupa a cicatriz”.  ⁣

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A Nota divulgada pela SBCP afirma ainda que a falta de dados científicos não permite concluir relação direta do BII com implantes de silicone. Não existem exames para diagnosticar a Síndrome nem técnicas especiais para a realização de explante, e sim uma combinação de técnicas utilizadas em cirurgia mamária. E ainda, em pacientes com sintomas sistêmicos não existe evidência científica comprovando melhora destes sintomas com a retirada do implante e da cápsula.

Explante
O cirurgião Dr. George Régis pontua duas situações para a remoção das próteses: na paciente quando os seios são pequenos e sem queda, a cirurgia é bem simples, desde que não tenha alterações na cápsula que envolve o implante, pois retirar uma cápsula doente é mais trabalhoso.  A segunda é quando a paciente tem mamas grandes.

“Nesses casos conseguimos remodelar a mama com o próprio tecido e o silicone é descartado. Na primeira situação a cirurgia é feita em uma hora, a segunda em três horas. Em ambas, o tempo de convalescênça e de uma semana”, complementa o médico.

Realizar o implante de mama ou removê-lo é uma decisão muito pessoal. Mas, o Dr. George Régis afirma, o implante de silicone continua sendo um procedimento seguro. O médico também alerta.  "Antes de a paciente decidir por uma das cirurgias, é de fundamental importância que o profissional escute e acolha suas queixas. Além de apresentar opções seguras, éticas e o mais transparentes possível", finaliza.

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