Especialistas orientam a lavagem nasal, dentre outras soluções, para cuidar da respiração

Condições ambientais e comportamentais do cotidiano nas grandes cidades têm desafiado o trato respiratório. O hábito de lavar o nariz é uma das saídas para prevenir doenças

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br

Respirar é básico para a vida. Ato de inspirar e exalar o ar, o respiro sem obstruções é visto por especialistas em saúde como algo que requer, hoje, cuidados preventivos, além das medicações voltadas a problemas habituais feito a gripe, o resfriado e a rinite.

As obstruções do nariz são tão corriqueiras que os pacientes passam a carregar a impressão de que viver com catarro e entupimento nas narinas é algo inevitável na dinâmica da vida nas grandes cidades. No entanto, especialistas chamam atenção para os "fatores irritantes" do fluxo respiratório, envolvendo as condições ambientais do espaço urbano, as mudanças de comportamento social desde a primeira infância dos indivíduos e a falta de medidas preventivas para manter a saúde nasal.

O movimento dos médicos, agora, indica que a lavagem nasal - um hábito difundido pela medicina oriental há muito tempo - passa a ser, para o trato respiratório, tão comum quanto escovar os dentes. Conforme Maura Neves, otorrinolaringologista do Hospital da Universidade de São Paulo (USP), o desafio para consolidar o cuidado de lavar o nariz, na criação das crianças de hoje, envolve revisão dos hábitos dos pais. "Eles (os pais) precisam fazer uma transição, já que a maioria não teve o nariz lavado pelos pais".

De passagem recente por Fortaleza para participar do encontro @familiarespira, da Libbs Farmacêutica, Maura sugere que, embora a lavagem seja trivial para prevenir doenças respiratórias, esse hábito deve ser bem acordado entre pais e filhos.

O melhor método de lavagem (seja com soro, ou com outra substância) é o que a criança aceita. Depende muito da faixa etária", orienta Maura Neves.
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De acordo com a pediatra Brena Tavares, de Juazeiro do Norte, membro da Sociedade Brasileira de Pediatria, quanto mais cedo os pais introduzirem o hábito na rotina de cuidado com os filhos, melhor. "As mães têm medo de fazer a limpeza porque acham que pode afogar o filho, por exemplo. Mas se você acostumar desde cedo, toda criança gosta de saber o que vai acontecer na rotina dela", detalha Brena.

Cuidados

Segundo Maura Neves, há quatro pilares sobre os cuidados com a saúde do trato respiratório: manter a vacinação em dia, boa alimentação (uma dieta que inclua alimentos coloridos, "in natura"), tomar bastante água e lavar o nariz. A doutora embasa as orientações, conforme observa as mudanças sociais e comportamentais dos últimos 20 anos.

"Do início dos anos 2000 pra cá, a gente teve uma mudança importante nos níveis de poluição (ambiental), de comportamento social, as mulheres tendo menos filhos, e essas crianças indo precocemente para a escola. Essas mudanças têm impacto no nosso corpo", explica Maura.

No colégio, em casa, no transporte ou nos espaços de lazer, as crianças convivem cada vez mais com ambientes equipados com ar condicionado, sem circulação do ar natural. E nem sempre há manutenção dos filtros dos equipamentos.

"Há uma dificuldade de ventilar. Uma criança espirra e o ar fica preso ali. Quando fui escolher a escola da minha filha pequena, esse foi um dos critérios: não ter ar condicionado nas salas", alinha a pediatra Brena Tavares.

Diagnóstico

A médica Maura Neves contabiliza que, hoje, 30% da população brasileira tem rinite alérgica. Obstrução nasal, nariz entupido, coriza, espirros e coceira são os sintomas clássicos da enfermidade. Além disso, gripes, resfriados e sinusites levam os brasileiros a visitar os postos médicos com assiduidade.

Indagada sobre como a condição ambiental das cidades grandes se torna um gatilho para desencadear doenças respiratórias na população, a otorrinolaringologista explica que as metrópoles são mais ricas em "irritantes respiratórios". Dentre outros fatores, cita a poluição ambiental, fumaça de cigarro, poeira domiciliar, variações bruscas de temperatura, vírus e bactérias no ar.

"Tem o nosso estilo de vida, convivendo no ar condicionado. Mas isso não se dá só em grandes cidades: é de qualquer ambiente urbano. Há regiões do interior de São Paulo, por exemplo, que têm muita indústria. Ou então você tem uma região árida, com muita poeira, terra, isso também é um irritante respiratório", situa a médica.

Integração

Em paralelo ao risco iminente de infecções respiratórias, a população procura se equilibrar nesse contexto, ainda, ao adotar práticas de saúde integrativa, como o yoga e a meditação. Ambas favorecem o trato respiratório. No entanto, Maura Neves reconhece que boa parte dos especialistas em medicina convencional ainda está tateando a questão.

"Alguns profissionais têm inclinações para uma medicina mais integrativa, que está cada vez mais em voga. Mas nos congressos de otorrinolaringologia, isso não se discute, por exemplo. É outro foco. Tenho buscado entender isso e vejo que 30 minutos de meditação diária têm feito muita diferença na vida das pessoas", observa a médica da USP.

Prevenção

Para equilibrar a respiração, é necessário:

01. Manter a vacinação em dia

02. Boa alimentação, adotando uma dieta natural e colorida

03. Tomar bastante água

04. Lavar o nariz com soro fisiológico ou outra substância recomendada em consulta médica

Fonte: Dra. Maura Neves (USP)

 

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