Em 2020, 30ª edição do Cine Ceará mantém tradição de projetar o cinema local

A partir da "Mostra Olhar do Ceará", 26 produções (entre longas e curtas-metragens) feitas por cineastas cearenses serão apresentadas ao público

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Cenas dos longas-metragens
Legenda: Cenas dos longas-metragens "Cabeça de Nêgo", "Pajéu", "Swingueira" e "Rio de Vozes"
Foto: Divulgação

A força de projetar a cultura, os costumes, a voz e imagem do cearense. O Cine Ceará repercute o fazer cinematográfico do Estado ao reunir filmes desenvolvidos por profissionais, bem como iniciantes do ramo.

Tal perspectiva é recorrente desde o primeiro ano de realização, 1991, quando ainda era denominado "Vídeo Mostra Fortaleza". 20 curtas-metragens foram exibidos naquela oportunidade. Em 1995, o festival é rebatizado.

Já Cine Ceará, tornou-se território também para os longas-metragens. Outra mudança considerável dessa jornada ocorre em 2006, quando a filmografia ibero-americana passa a compor a programação da iniciativa. Correram as décadas. As profundas mudanças urbanas e sociais em torno da Capital foram gradualmente testemunhadas a partir do escuro do cinema.

A 30ª edição iniciada no último sábado (5) reafirma este tradicional espaço para o audiovisual local. Em 2020, a "Mostra Olhar do Ceará" apresenta aos fãs da sétima arte um total de 26 produções (quatro longas e 22 curtas).

De hoje até quinta-feira (10), sempre às 14h, o festival exibe no Cineteatro São Luiz "Cabeça de Nêgo" (atração desta segunda-feira), "Swingueira", "Pajéu" e "Rio de Vozes". Diante da pandemia causada pela Covid-19 foi preciso readequar o modelo de exibição. No caso dos curtas, o público pode acompanhar por meio de transmissão via TV Ceará (TVC) e canal de YouTube do evento.

Em relação à plataforma de streaming, os trabalhos serão distribuídos em oito sessões. Cada uma delas fica disponível para acesso durante um dia da programação, das 9h às 22h.

Realidades

Da ficção ao documentário, a sessão dedicada aos longas costura temas urgentes do contemporâneo. Destaque da 23ª Mostra de Cinema de Tiradentes (realizada entre janeiro e fevereiro deste ano), "Cabeça de Nêgo", de Déo Cardoso, finalmente é exibido no Ceará. Na trama, o introvertido Saulo Chuvisco (Lucas Limeira) luta por mudanças.

Após reagir a um insulto racista em sala de aula, ele é expulso, mas recusa-se a deixar as dependências da escola por tempo indeterminado. A luta solitária do personagem desafia não só a direção como todo o sistema educacional. Temas como educação, racismo e corrupção, pontos nevrálgicos dos atuais debates políticos no Brasil, costuram o universo da narrativa.

Coprodução entre Ceará e Bahia, o documentário "Swingueira" é assinado por Bruno Xavier, Roger Pires, Yargo Gurjão e Felipe de Paula. Em cena, as periferias do Nordeste brasileiro. O ritmo musical nos leva até à história de quatro jovens que disputam um campeonato de dança enquanto tentam sobreviver. Música e a arte ressoam em meio a condições precárias de moradia, falta de dinheiro e políticas públicas voltadas para estes brasileiros.

O diretor Pedro Diógenes aproxima sonho e realidade em "Pajeú". A ficção de 74 minutos nos apresenta a personagem Maristela. Atormentada por um sonho constante, a de uma criatura emergindo das águas do Riacho Pajeú, a protagonista passa a pesquisar sobre a história e desaparecimento deste rio. Mesmo com a investigação, os pesadelos não param.

Completa a "Mostra Olhar do Ceará" o doc "Rio de Vozes", de Andrea Santana (CE) e Jean-Pierre Duret (FRA). As lentes da dupla desbravam o Rio São Francisco. O desmatamento das margens e a exploração das terras reduzem a diversidade deste ecossistema. Por sua vez, a vida dos ribeirinhos é retratada em seus dilemas profundos. O Rio São Francisco é o fluxo vital destas existências, além de espaço de esperanças.

No campo dos curtas, os gêneros mais presentes são documentários e ficção, com dez produções de cada. Há ainda um trabalho experimental e um drama-suspense. Dos 22, nove foram feitos por alunas e alunos egressos de cursos de cinema e audiovisual da Universidade de Fortaleza, Universidade Federal do Ceará (UFC) e dos Cursos Básicos de Cinema do Porto Iracema das Artes.

São eles: "A fome que devora o coração" ( Raiane Ferreira), "Aqui entre nós" (Alexia Holanda e Daniel Sobral), "Noite de Seresta" (Sávio Fernandes e Muniz Filho), "Cacau" (Tom Martins), "Cidade Pacata" (Ezequias Andrade), "Santa Mãe" (Thiago Barbosa), "Todos Nós Moramos na Rua" (Marcus Antonius Melo), "Terceiro Dia" ( Jéssica Queiroz) e "Plástico", de João Paulo Duarte.

Esse "Olhar do Ceará" também traz os filmes "Scelus", com roteiro, direção e atuação de Edmilson Filho (Cine Holliúdy); "Pequenas Considerações sobre o Espaço-Tempo", da diretora Michelline Helena; "A Gaiola", de Jaildo Oliveira e "Aqui é Flamengo", de Rafael Luiz Azevedo.