Desfile político marca abertura do Minas Trend

O passado, cantou Belchior, é uma roupa que não nos serve mais. A composição do artista cearense foi lembrada para o conceito de uma das marcas autorais que desfilaram na abertura do Minas Trend Inverno/2019, a Meniax. Junto a ela, estavam outros 20 novos talentos escolhidos para ilustrar o tema inspiracional dessa edição - "Agora e para sempre” - que irá abordar a diversidade e inclusão para falar da moda para os próximos anos.

Com direção criativa de Ronaldo Fraga, já era de se esperar uma abertura marcada por forte tom político, tendo em vista a coincidência da data com o resultado segundo turno das eleições presidenciais. E foi exatamente o que aconteceu. A presença da banda drag The Pulso in Chamas foi uma das declarações mais expressivas para além da passarela.

Com a canção "Divino Maravilhoso", as drags pediam "atenção para o refrão", ressaltando que "é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte". Em seguida, bradavam em "Vaca Profana": "derrama o leite bom na minha cara e o leite mal na cara dos caretas".

 
Enquanto isso, modelos carregavam no corpo o futuro pensado por Anne Est Folle, Box 19, Camila Akemi, Candê, Diwo, Fe-Lis, Heleve, Jardin, Jessica Andrade, LED, Libertees, Lucas Magalhães, Miêtta, Moda Moon, Nouveau Jour, Not Equal, Nuu Shoes,Tatiana Marques, Virgilio Couture e Virgínia Barros. 

O estilista mineiro Célio Dias, dono da LED, fez uma releitura de peças de brechó para vestir qualquer gênero. Já a Meniax, referenciada em "Velha roupa colorida", apresentou a coleção Explosion, que desconstrói as modelagens tradicionais para o público masculino. Azul, laranja, preto e branco figuravam na cartela de cores.

A marca Libertees desfilou cinco looks intitulados de "Resiste", optando pelo brilho, preto e branco. Todas as peças foram confeccionadas em uma fábrica que fica dentro de uma penitenciária feminina.

Música e moda de mãos dadas no Minas Trend

Outras duas bandas, Poison Gas e Velotrol, trouxeram crítica para a abertura, com canções de Nirvana, Metallica, The Beatles, Black Sabbath e do indiscutivelmente político Roger Waters. Foi "Another Brick in the Wall", tocada e cantada em conjunto pelos três grupos musicais, que encerrou os desfiles, enquanto o mineiro Célio Dias carregava uma bandeira LGBT+ na passarela.

As drags ainda seguiram no palco intercalando entre as canções "Top Top", dos Mutantes, e "Erva Venenosa", de Rita Lee, sonoros "Ele não! Ele nunca!", em referência ao presidente eleito Jair Messias Bolsonaro.

Ronaldo Fraga já havia reforçado que "a moda é um retrovisor do tempo. Queiramos ou não, ela tem que refletir isso”, diz. A proposta, portanto, ficou bem clara nessa primeira noite.