De cinema à literatura, as reflexões de Arnaldo Jabor para o Diário do Nordeste

Além de atuar como colunista, a arte desenvolvida pelo cineasta e escritor carioca foi registrada ao longo das décadas

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Durante as filmagens de “A Suprema Felicidade” (2010)
Legenda: Durante as filmagens de “A Suprema Felicidade” (2010)
Foto: Diário do Nordeste 30/10/2010

Além da arte cinematográfica e da literatura, a carreira de Arnaldo Jabor também pode ser contada por sua contribuição ao jornalismo brasileiro. Atuando como colunista, registrou em diferentes veículos de imprensa a sua visão do complexo cotidiano nacional. 

Em 1995, o Diário do Nordeste começou a publicar os textos do cineasta e jornalista. Em entrevista, Jabor explicou como funcionava em sua mente o encontro destas duas paixões. “Diria que faço um cinema escrito nestes meus artigos. Tem muito a ver com o que eu falava sobre o cinema que mostre as misérias brasileiras”. 

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Poucos anos depois do sucesso de “Eu Sei que Vou Te Amar” (1986), o então premiador diretor de cinema precisou mudar de ofício. Na juventude, atuou como diretor do jornal “O Metropolitano” (ligado à União Metropolitana dos Estudantes do Rio de Janeiro) e chegou a trabalhar no Diário Carioca como crítico de teatro.  

“Na verdade, cinema e jornalismo são duas coisas próximas. O Glauber fundou uma revista na Bahia, ‘O Mapa’, Nelson Pereira trabalhou como jornalista e o Caetano também. Jornalismo é uma arte brasileira”. 

Profissão angustiante 

Jabor voltou a produzir no meio jornalístico em 1991, quando se integrou à equipe da “Folha de S. Paulo”. De lá, sua coluna passou a circular em outras regiões brasileiras. Perguntado sobre a mudança profissional, o escritor contextualizou que o “realizador de cinema é uma profissão muito angustiante”. 

“Você faz um filme e passa de três a quatro anos para fazer outro. Entre tudo, escrever, descolar dinheiro, filmar, montar e lançar são quatro anos de sua vida. Então, a vida do cineasta puro, que vive exclusivamente da profissão, é dividida em filmes. Pergunte a um deles: quantos anos você viveu? E ele vai dizer: ‘bem, eu vivi nove filmes e morri’. 
Arnaldo Jabor

Além dos artigos voltados ao conteúdo de opinião, a arte de Jabour também foi noticiada nas páginas do Diário do Nordeste ao longo das décadas. Em 1986, a exibição de “Eu Sei que Vou Te Amar” no Cine São Luiz (hoje, Cineteatro) foi tema de reportagem. 

Já nos anos 1990, o autor veio a Fortaleza participar da II Feira Brasileira do Livro de Fortaleza (Febralivro). No evento realizado em 1996, ele lançou “Brasil na Cabeça”, livro que reunia alguns de seus artigos escritos para a Folha de São Paulo.  

Em novembro de 1989, Arnaldo Jabour participou do III Fest Rio, festival de cinema cuja edição foi realizada naquele ano em Fortaleza
Legenda: Em novembro de 1989, Arnaldo Jabour participou do III Fest Rio, festival de cinema cuja edição foi realizada naquele ano em Fortaleza
Foto: Diário do Nordeste 29/11/1989

Mesmo com o jornalismo e as letras ocupando sua produção, Jabor sempre falava da sétima arte em suas entrevistas. “Entendi que era hora de dar um tempo no cinema, o que não quer dizer que não possa retornar a filmar daqui a uns dois anos se for o caso”, afirmou em dezembro de 1995. 

Olhares do cinema 

Bem diferente da previsão original acima, Jabor só voltaria a dirigir um filme 15 anos depois. Em 2010 entrava em cartaz o seu último trabalho para as telonas. “A Suprema Felicidade” trouxe inspirações na família do cineasta e outros personagens que conheceu durante a vida.  

Sétimo longa-metragem de Arnaldo Jabor,
Legenda: Sétimo longa-metragem de Arnaldo Jabor, "Eu Sei Que Vou Te Amar" trouxe na bagagem o sucesso internacional
Foto: Diário do Nordeste 20 /05/1986

Durante o lançamento da obra, o diretor abordou questões referentes ao cinema e política. Na sua ótica, a cultural daquele tempo passava por uma crise até então sem precedentes. “Uma das coisas que acometem o cinema mundial, e também a literatura, a poesia e as artes em geral, é a ausência de clareza sobre o que falar. O mundo está muito difícil de ser decifrado”. 

Para ele, movimentos como o Neorrealismo italiano, a Nouvelle Vague e o Cinema Novo tinham objetivos específicos. “O neorrealismo queria denunciar, de forma quase documental, todos os horrores ocorridos na Itália durante a 2ª Guerra. Isto influenciou o cinema mundial porque ele era um cinema ‘de rua’, o uso dos estúdios para mostrar a realidade”. 

Legenda: "Nossa turma (a do Cinema Novo) sempre acreditou muito na mudança. Isso hoje no Brasil virou uma coisa arcaica. Mas mantenho a mesma crença"
Foto: Diário do Nordeste 20 /04/1996

Mesmo com o ar nostálgico de “A Suprema Felicidade”, o criador fez questão de afirmar que a obra não era autobiográfica. Além disso, o filme tinha a força de refletir como a sétima arte é capaz de nos afetar e causar comoção.  

“O grande depoimento do cinema é a entrega para o espectador do que você sente. Somos parecidos com o que acontece na tela, temos relações difíceis mesmo no amor. A gente vai sendo influencia do por si mesmo”, contou Arnaldo Jabor.