Conheça Danielle Gondim, chef de referência em Fortaleza que aposta na culinária afetiva

Desde que deixou de lado o Direito para se dedicar à Gastronomia, a chef cearense afirma acreditar na graça e em um sabor diferenciado no ato de criar boas memórias por meio dos alimentos

Escrito por Mylena Gadelha , mylena.gadelha@svm.com.br
Legenda: Danielle Gondim, chef executiva de um grupo de restaurantes em Fortaleza, investe no conceito da cozinha afetiva
Foto: Thiago Gadelha

Perseguir os sonhos que se fincam em nossa mente e no coração nem sempre parece fácil. É uma atitude que exige coragem e, na maioria dos casos, uma certa dose de loucura. Para Danielle Gondim, esses dois elementos são precisos para definir os últimos anos. Não foi muito diferente desse cenário quando, há pouco mais de dez anos, já formada em Direito, decidiu abandonar a primeira formação e buscar o que desejava: estudar gastronomia.

Das necessidades afetivas, como o fato de ser apaixonada por doces, até as ações práticas, que diriam como seria possível cursar uma nova faculdade, Dani, como é mais conhecida, investiu com firmeza nos propósitos nutridos por ela.

"Me formar em Direito foi uma questão familiar. Acabei o curso, estava estudando para a OAB e, do nada, me deu vontade de fazer algo que eu realmente queria. Descobri que gostava de cozinha quando fui morar sozinha e aí senti essa relação do gostar do fazer", explica ao deixar claro como o ato de cozinhar rondava cada pensamento.

Legenda: Em um restaurante, Dani comanda a cozinha com foco nos cortes de carne
Foto: Thiago Gadelha

Os bolos feitos em casa, justamente por acreditar que a confeitaria era uma das áreas de interesse, foram cruciais nesse momento. A partir daí, seguir o caminho trilhado anteriormente não era mais opção.

Pulo no escuro

Como uma "aposta muito alta", expressão usada por ela mesma para definir a decisão, daquelas na qual a sensação é de "tudo ou nada", encontrou o curso de gastronomia, na Universidade Vale do Rio Doce (Univale), em Santa Catarina, onde viveu as primeiras experiências como uma chef de cozinha.

"Era uma aposta muito alta porque eu estava saindo de um curso e precisava definir minha vida profissional. Quando cheguei lá, era realmente tudo do jeito que eu imaginava. Tudo tão real que chorei nas primeiras aulas", revela entre as memórias felizes.

Escutar, ver e presenciar os ensinamentos de como transformar os alimentos dentro da cozinha foram tarefas quase inacreditáveis. "Os professores falavam e eu chorava de emoção. Não imaginava que pudessem dizer tudo aquilo que um dia eu sonhei em ouvir", revela.

As vivências da época ainda são força motriz para o seu trabalho. Segundo Dani, o encantamento inicial se mantém até hoje, ao ocupar o cargo de chefe executiva do grupo Social Clube em Fortaleza, composto por sete restaurantes, dentre eles Santa Grelha e Ryori.

No dia a dia, enquanto cria e aperfeiçoa cardápios e conceitos destes restaurantes, ela não esquece das lembranças marcantes sentidas naqueles primeiros dias. "Minha função diz muito disso, de garantir o "bem servir". É disso que eu gosto no meu trabalho: do contato com cliente, com o funcionário, com essa questão de lidar com pessoas", pontua.

Passos seguintes

Lá no fim da segunda graduação, a cearense seria designada ao primeiro trabalho como uma verdadeira chef de cozinha. Um hotel no Rio de Janeiro serviu como porta de entrada e, não demorou muito até surgir uma bolsa de estudos na França. Essa etapa, entretanto, não se concretizou. "Acabei retornando a Fortaleza, quando perdi um irmão. Fiquei para dar o suporte à minha família. Seria um estágio fechado de dez meses em um restaurante com três estrelas do Guia Michelin. Como precisei ficar por aqui, meus planos mudaram".

Já em Fortaleza, muita coisa foi se realizando e mostrando para Dani como os sonhos se transformam continuamente, evidenciando a capacidade de conceder novos contornos à vida. Trabalhou em um hotel da Capital, e sentiu na pele as dificuldades e belezas da maternidade. Deu aulas na área e passou a dar consultorias. O último passo, inclusive, foi essencial para chegar ao cargo ocupado atualmente. Antes disto, também assumiu a chefia executiva de outro grupo gastronômico e, desde então, não parou de crescer.

Legenda: Para atender a diversos paladares, a chef investe nas das raízes da culinária italiana e da cozinha mediterrânea
Foto: Thiago Gadelha

Atualmente, quando pensa no que faz, Dani inspira gratidão. Basta ouvir na risada e na voz encantada que transparece ao falar sobre a alegria de cozinhar. Adepta do conceito de cozinha com afetividade, aquela em que as memórias e sensações são essenciais na hora de produzir um prato, ela ressalta a necessidade de desenvolver opções autorais, mesmo com referências.

"O ato de cozinhar é tão cheio de simbologia, sabe? Para mim, isto está ligado ao amor pelo outro. Eu acho que as pessoas têm, e eu também, obviamente, uma relação muito afetiva voltada à comida", diz.

Do doce, ela diz ter tirado a vontade constante de desenvolver algo novo, mas foi dele do qual também vieram as afinidades com diferentes vertentes da cozinha. "Eu criava muito em confeitaria. Hoje em dia gosto do que leva fogo. Me encanta essa transformação culinária por meio dele. É a massa, é a carne, o doce. Me admira poder ver isso na prática".

Se antes, cozinhar como profissional estava no campo dos sonhos, a realidade mostrou a Danielle como, muitas vezes, pode ser mais que recompensa. Para ela, os encontros continuam como essenciais na hora de comer, e é onde fica claro a convergência entre o querer e o realizar.

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