Conheça cinco ilustradoras nordestinas que retratam figuras femininas

Motivadas por empatia, ilustradoras nordestinas utilizam sua arte para expressar afetos, dores e vivências de mulheres. Obras tornam-se "autorretratos" a partir da identificação pessoal

Escrito por Redação ,
Legenda: "Meu Próprio Lar", aquarela de Ju Chooo

Louca, exagerada ou dramática. Concepções machistas herdadas pela sociedade tentaram definir as mulheres por gerações. Do cinema à música, o hábito engessado não se distanciou da arte.

Em vista disto, cinco ilustradoras nordestinas utilizam traços e cores para confrontar questões retrógradas. Com empatia, elas desenham formas femininas.

Raisa Christina

A escritora e artista visual Raisa Christina cria porque não sabe viver de outro modo. Sempre observadora e atenta, para ela, o seu processo criativo parte do compartilhamento de vivências. "Várias mulheres da minha família foram silenciadas por inúmeros fatores e já sabemos que isso é uma questão social generalizada. Portanto, me interessa tremendamente escutá-las narrando a si mesmas", diz.

Os traços delicados no papel fazem surgir outras personas e também expressam a própria Raisa. "O autorretrato é recorrente em minha produção e nem sempre acontece de forma consciente. Penso que esse ir ao encontro do outro também faz o caminho de volta e ouço melhor a mim mesma". A artista ainda ministra oficinas de desenho e criação literária com atividades que exploram experiências íntimas e memórias afetivas.

Silvelena Gomes

Inúmeras questões relacionadas à mulher ainda precisam ser debatidas. O tempo não deixa esquecer que a pele escura ainda é alvo de descaso. A meta da artista Silvelena Gomes é conseguir se ver em suas obras e tocar mulheres que também se sentem invisíveis.

"Quase toda ilustração nasce ou de uma profunda reflexão dolorosa ou de um sentimento de necessidade da representação. Desenho o que não consigo encontrar, crio o que não foi criado antes para mulheres como eu. O feminismo de modo geral, em certas ocasiões, não consegue abarcar as mulheres negras, gordas e lésbicas", afirma.

Para a estudante de Publicidade, desenhar iguais é criar novas narrativas, somando os trabalhos já produzidos por outras mulheres negras. "Retratá-las é ir de encontro a toda uma lógica visual de representação. É me ver, dar olhos e assumir as próprias falhas, dores e vontades", reflete.

Alexsandra Ribeiro

Também inspirada pelo feminismo negro, a artista urbana e ilustradora Alexsandra Ribeiro colore folhas de papel e muros. Incentivada pela avó que pintava tecidos, começou a produzir arte ainda criança.

"Para mim, a importância de retratar mulheres negras é relacionada à representatividade. Isso importa muito. Foi por falta dela na minha infância que a retrato, para que outras meninas tenham a quem se espelhar, ver e inspirar".

Susanna Mota

A designer de moda Susanna Mota retrata o feminismo como algo natural, mas atualmente afirma que ele tornou-se um posicionamento estético-politico. "Depois de ver tantos artistas homens nos objetificando como suas musas, fazendo fama e ganhando reconhecimento com nossos corpos, hoje eu desenho a mulher que eu sou e as mulheres que estão ao meu redor", reforça.

De acordo com Susanna, produzir arte também é uma forma de combate às opressões. "Desenhar acreditando no meu trabalho autoral, e fazer disso minha forma de sustento, em uma sociedade tão misógina como a nossa, a meu ver, é um ato de resistência feminista". Apesar de poucas mudanças significativas no cenário profissional da arte, segundo a artista, hoje ela se encontra esperançosa. "Nós estamos cada vez mais unidas e atentas", afirma.

Ju Chooo

Mulheres independentes também são representadas com cores vivas nas obras da ilustradora Ju Chooo. Elas mostram figuras em plenitude, e a inspiração da artista parte de pessoas próximas. "Vivo rodeada de diversas mulheres que me inspiram muito. Corajosas, fortes e resilientes".

As pinturas surgiram na vida de Ju após a descoberta de uma antiga paleta de aquarela encontrada no fundo de uma gaveta. Após alguns testes e o incentivo de amigas, ela se dedicou ao estudo das artes. O feminismo também surgiu naturalmente. Ju Chooo ainda cita a escritora Maya Angelou. "Tenho sido mulher há tanto tempo, seria estúpido não estar do meu próprio lado".

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