Com desfiles virtuais e coleções cápsula, DFB Live Moda aposta em novas formas de comunicar a moda

Em mais uma ação reformulada para o formato digital, DFB Digifest 2020 apresenta, a partir desta terça-feira (28), desfiles virtuais de estilistas renomados da moda autoral; a transmissão será gratuita, por meio do canal oficial do DFB no Youtube

Escrito por Redação ,
Legenda: Entre as coleções criadas para o DFB, várias foram repensadas e adaptadas para caber em um novo formato e passar uma nova mensagem. Acima, detalhe da coleção de Marina Bitu
Foto: Anie Barreto

Reflexo mutável do que somos e dos tempos em que vivemos, a moda tem como caráter essencial sua capacidade de adaptação e transformação, seja no propósito identitário de quem usa, seja no conjunto de hábitos que a rege. Em plena pandemia, essa ajustabilidade é presente - e necessária - mais uma vez: nos modos de produzir, de consumir e de comunicar. Ao redor do mundo, eventos e semanas de moda migraram para o ambiente virtual como uma forma de não parar, mesmo que em ritmo diferente. Mas como, por exemplo, levar a experiência física e sensível de um desfile presencial para o formato digital?

Com o princípio fundamental de promover a moda autoral do Ceará, o DFB Digifest 2020, versão online do festival, realiza 14 desfiles virtuais transmitidos no canal do evento no Youtube. O DFB LiveModa ocorre entre os dias 28 e 31 de julho e conta com marcas e criadores que, já confirmados para a edição física, também tiveram que se renovar para o momento. Entre eles estão Bruno Olly, Ivanildo Nunes, Lindebergue Fernandes, Coletivo (Bruno Queiroz + Gisela Franck + Bikiny Society), Vitor Cunha, Almerinda Maria, Rendá por Camila Arraes, Ronaldo Silvestre, Kalil Nepomuceno, Baba, Marina Bitu e Theresa Montenegro, sendo as duas últimas estreantes no evento.

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Legenda: Coleção Ivanildo Nunes
Foto: Igor Cavalcante

O propósito de aproximar ao máximo a experiência digital de um desfile real, físico e ao vivo, é desafiador. As coleções criadas desfilaram em uma passarela sem público, com gravações que duraram dois dias e seguiram cuidados e protocolos de segurança necessários para garantir a saúde das modelos e da equipe de produção, beleza e técnica. Ficou por conta da produção e da edição das imagens a grande responsabilidade de fazer transparecer as sensações dos tecidos, as vibrações das cores e a energia das criações.

De acordo com Cláudio Silveira, diretor geral do DFB, a experiência do digital foi trabalhosa, porém, recompensadora. “Se antes uma sala de desfile recebia cerca de mil pessoas, agora uma live tem mais de 18 mil visualizações. Eu acho que, a partir disso, abrimos um novo normal de desfile, com novas possibilidades. Não acho que vai ter mais o shooting apenas em foto e em catálogo, mas tem que ter essa pegada virtual e dinâmica. As pessoas têm que acreditar e investir no híbrido, com um pouco de físico ainda, porque não podemos deixar esquecer”, afirma.

Nos bastidores

De um modo geral, os desfiles já eram digitais, visto que, há cerca de 10 anos, muitas das apresentações são transmitidas ao vivo pela internet ou disponibilizadas na íntegra logo em seguida. A maior mudança não é exatamente sobre as possibilidades de quem assiste, mas as novas exigências para quem faz acontecer. A designer Marina Bitu, cuja marca teria seu primeiro desfile solo nesta edição, afirma que um dos grandes desafios foi o trabalho de se flexibilizar e pensar em novos arranjos para concretizar as ideias originais.

Legenda: Coleção Marina Bitu
Foto: Anie Barreto

“Já tínhamos todo um pensamento sobre atmosfera, trilha sonora, atitude e atuação das modelos na passarela e precisamos rever tudo isso. Além da perda de apoios e patrocínios, existia ainda a dificuldade processual de desenvolvimento das peças. Não podíamos ir pessoalmente nas casas das costureiras, nossos fornecedores de tecidos ficam fora do Ceará, então precisamos adaptar a coleção, redesenhar, enxugar processos e detalhes e simplificar”, explica.

Para Ivanildo Nunes, estilista participante há uma década do evento, o que mais fez falta foi a energia do público, que tanto o motiva. Entretanto, ele também cita a capacidade impulsionadora da moda e de quem trabalha com ela, pois, como declara, “sempre buscam, de uma forma ou de outra, levar para o público o que está acontecendo e as coleções que estão desenvolvendo”.

Eu prefiro o presencial, porque existe um feedback automático. As pessoas se emocionam, conseguimos ver suas reações. Mas isso não impede de mostrarmos um trabalho que tem respeito por esse público. Tivemos a possibilidade de criar novas formas de apresentar e de fazer moda, além de corrigir antes do resultado final, para entregar ao público, em primeira mão, algo mais elaborado e feito com cuidado”, afirma Ivanildo.

Legenda: Coleção Ivanildo Nunes
Foto: Igor Cavalcante

Transformações possíveis

Se a criatividade e a maleabilidade são características fundamentais para quem vive o mundo presencial da moda, as possibilidades infinitas do universo virtual abrem ainda mais portas para a imaginação. Dentre as inovações, frutos do momento, um desfile em 3D com modelos invisíveis foi a escolha da estilista congolesa Hanifa Mvuemba, da grife Hanifa. Já a italiana Gucci apostou em caminhos plurais, dividindo sua apresentação em conversas, shootings dinâmicos e muitas referências.

Sendo apenas a ponta de um iceberg fashion, essas formas possíveis ratificam questionamentos que há muito permeiam a produção de moda, no tocante ao seu ritmo, quantidade e qualidade. Esses aspectos marcam designers como Theresa Montenegro, estreante no DFB. Para ela, esse é o momento de reafirmar propósitos e refletir sobre as contribuições para a sociedade e para o planeta.

Legenda: Coleção Theresa Montenegro
Foto: Igor Cavalcante

“A moda é a segunda indústria que mais emprega no País e precisamos fazer nossa parte para ajudar o setor. Isso exige preparação, cuidados, novas habilidades e adaptabilidade. Precisamos ainda resgatar o trabalho manual, fortalecer nossa moda cultural e, principalmente, valorizar nossa mão de obra. Por meio do ‘slow fashion’, ajudamos também no desenvolvimento socioambiental”, diz.

É possível perceber que a maior mudança do formato é sobre informação e comunicação. Em consonância com a proposta, Marina instiga o mesmo hibridismo citado por Cláudio: “A experiência vivida ‘offline’ tem um valor insubstituível. As sensações de uma roupa, para mim, são sentidas de forma mais intensa quando pessoalmente. Podemos encurtar as distâncias usando a internet, mas ainda acredito nas trocas vividas longe dos ‘smartphones’. Acho que levaremos para o futuro a lição de que, sempre que necessário, estaremos prontos e dispostos para nos transformarmos”.

Line-up dos desfiles

Terça (28)

19h - Bruno Olly

19h30 - Ivanildo Nunes

20h - Lindebergue


Quarta (29)

19h - Coletivo: Bruno Queiroz / Gisela Franck / Bikiny Society

19h30 - Vitor Cunha

20h - Almerinda Maria


Quinta (30)

19h - Rendá por Camila Arraes

19h30 - Ronaldo Silvestre

20h - Kallil Nepomuceno


Sexta (31)

19h - Marina Bitu

19h30 - Thereza Montenegro

20h - Baba

 

Serviço

DFB LiveModa

De 28 a 31 de julho, a partir das 19h, no canal do DFB no Youtube.

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