Clássico do quadrinhista Angeli, Bob Cuspe ganha filme; animação é premiada na França

Filme dirigido por Cesar Cabral é um dos dois representantes brasileiros na atual edição do Festival de Annecy,

Escrito por Dellano Rios , dellano.rios@svm.com.br
Legenda: Bob Cuspe vive num mundo pós-apocalíptico, na mente de seu criador, o quadrinhista Angeli
Foto: Divulgação

Inédito no Brasil, o longa-metragem "Bob Cuspe - Nós Não Gostamos de Gente", de Cesar Cabral, ganhou neste sábado (19) o prêmio da mostra Contrechamp do Festival de Annecy, o mais importante dedicado à animação no mundo. O evento é na cidade francesa conhecida como a "Veneza dos Alpes" e promovido pela Associação Internacional de Filmes de Animação. 

O filme leva para o cinema um clássico dos quadrinhos brasileiros, Bob Cuspe, criado por Angeli em 1983. Um punk esverdeado, mal-humorado e niilista, o personagem nasceu nas tirinhas diárias, publicadas na Folha de S. Paulo e ganhou espaço em outras produções do quadrinhista. É um de seus personagens mais conhecidos e teve a íntegra de suas aventuras publicada em 2015 ("Todo Bob Cuspe", da Cia. das Letras).

"Bob Cuspe - Nós Não Gostamos de Gente" é uma animação em stop-motion. A trama joga com realidade e ficção, como em "Eu quero ser John Malkovich". Angeli é também personagem do filme. A trama se desenrola a partir da vontade do quadrinhista de matar o punk esverdeado. Bob Cuspe habita um mundo pós-apocalíptico, que existe dentro da cabeça de seu criador.

Legenda: Angeli, o artista por trás de Bob Cuspe, é também personagem do filme
Foto: Divulgação

As andanças de Bob Cuspe por um mundo à Mad Max já foram vistas nos quadrinhos - quando ele enfrentava criaturas mutantes que pareciam miniaturas do cantor Elton John. A morte do personagem pelas mãos de seu criador Angeli não é um episódio insólito. Um de seus trabalhos mais conhecidos é a morte de Rê Bordosa, em 1987.

Contracampo

Não foi a primeira vez que as criações de Angeli e o próprio quadrinhista foram para no cinema, em versões animadas. Há 15 anos, "Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock'n'Roll" pôs suas criações em movimento, numa animação tradicional em 2D. Protagonizado pela dupla de hippies criada pelo artista, o filme de Otto Guerra contava com a participação do punk (dublado por Lobão).

Legenda: O punk de Angeli já teve outras duas encarnações no cinema
Foto: Divulgação

Seguiram-se adaptações em stop-motion - o curta "Dossiê Rê Bordosa (2008), a série "Angeli - The Killer" (2017). Nesta, desfilam personagens famosos do cartunista, caso de Rê Bordosa, Wood, Stock, Skrotinhos, Bob Cuspe e, claro, o próprio autor.