Centro Cultural Bom Jardim celebra 12 anos de atividades com a II Mostra de Artes

O espaço é definido como "sombra e água fresca em forma de conhecimento" por sua diretora, agregando diferentes linguagens artísticas

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@diariodonordeste.com.br
Legenda: Equipamento criado em 2006, O CCBJ se firma no cenário local como espaço para educação e disseminação da cultura entre jovens e adultos de uma das periferias de Fortaleza com maior índice de vulnerabilidade social
Foto: Foto: Yago Albuquerque

Distante de outros equipamentos públicos culturais situados na região central de Fortaleza, o Centro Cultural Grande Bom Jardim (CCBJ) possui uma trajetória escrita pelo aspecto da resistência. O uso do termo aqui, vale lembrar, se notabiliza pelo aspecto de unir e cuidar da comunidade.

Hoje, completando mais de uma década de atividades, o lugar tornou-se palco para toda a Cidade.

A definição é dada por Trícia Martins, gestora do CCBJ. Prestes a completar dois anos de trabalho nessa função, a organizadora divide informações relevantes aos 12 anos do espaço.

Até mesmo os tijolos que sustentam as paredes do lugar foram levantados por pessoas da comunidade do Grande Bom Jardim.

Uma das primeiras instituições culturais do Governo centrada especificamente na periferia, o CCBJ repassa o histórico enquanto espaço educativo e formativo através da II Mostra de Artes. Desde terça-feira, inúmeras apresentações artísticas iluminam a celebração em torno do prédio.

Performance, música, teatro, dança, artes visuais, entre outras manifestações, todas gratuitas, estão disponíveis ao público até sábado (22).

Trícia reflete sobre o aspecto territorial do Centro. Localizado em uma das regiões da capital cearense mais negligenciadas pelos gestores públicos ao longo das décadas, o chamado Grande Bom Jardim reúne os bairros Siqueira, Canindezinho, Granja Lisboa, Granja Portugal e Bom Jardim.

Em termos populacionais, representa 8,33% da população de Fortaleza e 38% da população da área administrativa V (SER V).

Segundo a lista de bairros estudados pelo aspecto da vulnerabilidade, os cincos bairros que compõem o Grande Bom Jardim encontram­-se entre os 12 mais vulneráveis da Capital. Os altos índices de homicídios da região são centrados na juventude.

De acordo com dados levantados pela própria instituição, dos 312 casos de assassinatos registrados entre 2007 e 2009, ou seja, à época da construção do CCBJ, 60% atingem jovens, homens, de 15 a 29 anos.

"Vejo atualmente o CCBJ como uma espécie de 'oásis' para a comunidade. Diferente daquela coisa seca ao redor, marcada pelo asfalto, o prédio é verde, imponente. Oferece sombra e água fresca na forma de conhecimento. A formação é o grande pilar e a difusão dos produtos elaborados pelos artistas da escola tornou-se uma força nestes mais de 10 anos", comemora a diretora.

Participação

Nos dois últimos dias da Mostra, o teatro exibe a força por meio das montagens "Permissão para Desmoronar" e "Pedra no Sapato". Tem oficina de swingueira, exibição de documentário, espetáculo de humor e muita música. Do reggae da Rebel Lion ao encontro de beatmakers e MC's. Palestras e discussões sobre o patrimônio cultural e memória também estão em pauta.

Legenda: Em "Permissão para Desmoronar", o integrante do Coletivo Quintal aborda a temática acerca dos "desmoronamentos" pessoais como uma característica do contemporâneo

O espetáculo de abertura, "Permissão para Desmoronar", é a pesquisa de um número circense do intérprete-criador Iago (Coletivo Quintal), no qual aborda a temática acerca dos "desmoronamentos" pessoais como metáfora aos acontecimentos recentes do mundo e os processos de desistência pelos quais o artista passou em sua vivência recente.

"O CCBJ segue como uma resposta para a questão da exclusão. O acesso a arte e cultura respeita a complexidade em torno da territorialidade da região. Estamos em um lugar caótico no tocante a direitos fundamentais básicos. O Centro entendeu, diante dessa escassez toda, sua responsabilidade para com a comunidade", organiza Trícia.

O aniversário do CCBJ explicita um determinado otimismo em relação ao futuro do equipamento. A comunidade está sempre atuante e participa de encontros para viabilizar as ações da escola. "É um avanço importante, em 12 anos maturamos e chegamos a um nível que não deixamos a desejar para a Escola Porto Iracema das Artes, que é uma referência nacional", argumenta.

As atividades do Centro vão bem mais além do espaço físico do prédio. É extremamente capilarizado no Grande Bom Jardim. Conta com 74 instituições parceiras, entre ONGs, escolas e grupos da população local. Destas, 55 atuam como se fossem salas de aulas externas, efetivadas por meio de avaliação técnica e pesquisa junto a comunidade, casos de localidades como Santo Amaro e Canudos.

Relevância

Inaugurado em 19 de dezembro de 2006, o CCBJ firmou-se como espaço de convivência entre educação e arte. O complexo é voltado para a profissionalização de jovens e adultos nas áreas de audiovisual, música e dança.

Conta com equipamentos de áudio e vídeo, além de um teatro de arena, salas multiuso, laboratório para gravações musicais e outros espaços destinados a práticas artístico-culturais. A premissa é contribuir para a inclusão dos moradores.

"É um desafio grande e a Mostra resulta desse ciclo formativo. É o palco principal para esses produtos. Nossos alunos estão circulando por aí. Em 12 anos temos isso aqui, ainda tem quem não conheça, mas quando vem se admira e retorna. O CCBJ tem sido muito ativo e crucial para podermos ganhar visibilidade e legitimidade em Fortaleza, hoje é palco da Cidade", finaliza Trícia Martins.

Destaques

Nesta sexta-feira (21)

15h - Palestra: Uso de software livre para edição de vídeos. Local: Cineclube

16h - Roda de conversa: Narrativas cinematográficas no Grande Bom Jardim. Local: Cineclube

17h30 - Apresentação dos games educativos CCBJ. Local: Cineclube

20h30 - Show de humor com Tizil: Ery Soares, "Deixa que eu te conto", Local: Palco Praça Central

22h - Show Alabaiana. Local: Palco Praça Central

Neste sábado (22)

10h30 - "Permissão para desmoronar" (TAC Circo). Local: Teatro Marcos Miranda

11h - "Pedra no sapato" (TAC Circo)

17h - Homenagem aos Guardiões da Memória do Grande Bom Jardim com cortejo (Narte). Local: Palco Praça Central e Teatro Marcus Miranda

20h - Canindezinho Roots. Local: Palco Praça Central

21h - Radiola Soundsystem. Local: Palco Praça Central

22h - Rebel Lion. Local: Palco Praça Central

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