Casa em que Vinicius de Moraes viveu, em Salvador, aproxima visitantes da história do músico

A Casa di Vina, antiga morada do artista, funciona como restaurante e hotel. Cheio de bossa, o lugar é um convite ao mergulho na vida e na obra do "poetinha"

Escrito por Ana Beatriz Farias , beatriz.farias@tvdiario.tv.br
Foto: Foto: Jorge Helio Chaves

Da janela da suíte Vinicius é possível avistar a praia de Itapuã, eternizada na obra musical do poeta Azulejos pintados à mão pelo artista alemão Udo Knoff estão em vários ambientes da casa, assim como esculturas de nádegas. A cama original do casal é outra atração do ambiente Na sala, um dos ambientes mais valiosos, me chamam a atenção partituras manuscritas, fotografias do casal e o convite de inauguração da casa em 1974 No restaurante da Casa di Vina tem menu especial com um dos pratos preferidos de Vinicius de Moraes

É provável que fosse uma tarde bonita de sol quando a bossa carioca encontrou a terra de São Salvador. A Bahia, onde nasceu o samba, Bahia de Caymmi e João Gilberto. De certo, a terra boa estava plena das suas cores e sabores, sob sol ardente, quando virou objeto de amor de Vinicius de Moraes.

Intenso, o "poetinha" transformou o Estado em som, romance e casa. O lar, que dividiu com a atriz Gessy Gesse, fica localizado na praia de Itapuã, universalizada na música Tarde em Itapuã. Hoje, o espaço recebe o nome de Casa di Vina e está aberto à visitação, além de servir como restaurante e hospedagem para quem vai à capital baiana.

Foto: Foto: Ana Beatriz Farias

Chegar ao solo em que Vinicius de Moraes ocupou é motivo de muita emoção para quem é fã da obra do "poeta e diplomata, branco mais preto do Brasil", como ele se define em canção. A casa é grande, com 400m² de área construída, e o terreno bem maior. Um dos sócios do restaurante, o italiano Stefano Bof conta que, depois de Vinicius, a propriedade teve vários donos. Nenhum chegou a morar no lugar, que acabava servindo apenas como casa de veraneio.

Em meio ao verde, ainda na área externa da casa, onde comecei a entrevista, Stefano lembra que o artista era afeito aos animais. "Gessy me falou que tinha galinha, galinha-d'angola. Tem fotos lá dentro com papagaio também. Tem vários bichos, ele gostava muito de bicho", comenta rememorando diálogo que teve com a companheira do poetinha.

Foto: Foto: Ana Beatriz Farias

Interior

O lugar, que funciona como hotel há mais de 20 anos e como restaurante há quatro, preserva a estrutura base da casa de Vinicius. Na parte interna, os detalhes são o que realmente fazem brilhar os olhos de quem admira a obra de Vina. Quando se atravessa a área onde ficam as mesas, as quais revelam o aspecto comercial do ambiente, se desvela um lar. Quadros, imagens e esculturas vão contando a história do casal Gesse e Vinicius. Mentalmente é possível ouvir o claro som das obras "Vinicianas" tocando o coração. Especialmente as que foram feitas no fértil período em que ele se encantou pela baianidade.

Cheguei à Casa di Vina em dia de sorte. A suíte Vinicius, que também fica disponível para hospedagem, sendo uma das mais concorridas do hotel, estava desocupada. Pude adentrá-la e encontrar, por exemplo, a cama original do casal. Rica e cheia de detalhes, se assemelha a uma obra de arte como as tantas presentes no espaço. Sob o vidro de uma escrivaninha, diversos discos revelam algumas parcerias que se entrelaçaram à carreira do cantor e compositor. Entre as amizades musicais estão Toquinho, Miucha e o maestro Tom Jobim.

Foto: Foto: Ana Beatriz Farias

Ainda chamam a atenção as esculturas de nádegas expostas no ambiente. São várias. Estão acima do espelho, no banheiro e em um quadrinho afixado na parede. Há também, por toda parte, azulejos pintados à mão por Udo Knoff, artista alemão que possuía ateliê de cerâmica em Salvador.

Da janela da suíte, a vista de uma noite bonita traz ao peito a vontade de viver o que o poetinha já cantava sobre o lugar observado do alto: "É bom/ Passar uma tarde em Itapuã / Ao sol que arde em Itapuã / Ouvindo o mar de Itapuã/ Falar de amor em Itapuã".

Foto: Foto:Ana Beatriz Farias

Pura bossa

"Um velho calção de banho" é, inclusive, uma das peças que avisto ao entrar em uma sala rica em detalhes e histórias. A roupa e alguns chinelos no chão expressam o tanto de vida e movimento que existem ali. No espaço, várias fotos estampam as paredes e narram parte da história de amor entre Vinicius e Gesse. Em meio às molduras, o convite para a inauguração da casa, aparentemente feito à mão, com o desenho da construção no centro.

Partituras manuscritas ocupam um espaço na mesinha de canto, junto a um antigo gravador e a um exemplar do livro "Minha vida com o poeta", escrito por Gessy Gesse. A publicação faz parte do grupo de objetos que foram adicionados posteriormente ao local, assim como um violão, que não pertenceu a Vinicius, mas completa a atmosfera musical do espaço.

Receber os amigos era prática comum entre os dois. Toda a história contada por aqui aponta para um lar receptivo e de muita festa. Ainda assim, não era sempre que Vina, como fora apelidado pelos mais íntimos, estava disposto a alta frequência das visitas, em especial dos turistas curiosos que queriam conhecê-lo.

Em momentos de maior introspecção, corria para um cômodo no subsolo de onde dava para ver, por meio de uma janelinha, exatamente o portão de entrada. Assim, o poetinha tinha como avistar, de longe, quem chegava e saía.

Afeto à mesa

Em meio ao mergulho nos costumes e na arte de Vinicius, é possível uma pausa para jantar ou almoçar. O menu do restaurante traz duas homenagens aos moradores originais. Um drink, intitulado "Tarde em Itapuã", que leva sorvete de coco, vodka e água de coco. A receita foi passada de Gessy Gesse aos atuais responsáveis pela casa, assim como a do "Frango à Gesse e Vina": frango ao forno, revestido com banana-da-terra, acompanhado de arroz com brócolis e farofa de ovo. O prato, simples, carrega o charme de ser um dos preferidos de Vinicius de Moraes.

Foto: Foto: Ana Beatriz Farias

Para quem não simpatizar com a opção gastronômica mais afetiva da casa, há muitas alternativas. Saladas, massas, risotos, aves e carnes. É possível ainda experimentar refeições típicas da Bahia, a exemplo de moquecas e pratos com frutos do mar. A carta de sobremesas é bem diversa. Entre as possibilidades de doces, estão o sorvete de gorgonzola com creme de goiaba e o pudim de tapioca caramelizado com castanha de caju.

Convite

Por toda parte, do cardápio à placa de boas-vindas na entrada do restaurante, a palavra, uma das principais matérias-primas de Vinicius, se faz acolhimento. Dentre tantas, uma frase chama, especialmente, a atenção: "desfrute da magia do local, morada divina da poesia, onde todo o tempo vira uma tarde em Itapuã e frases ditas sem querer viram versos para sempre lembrar".

Foto: Foto:Ana Beatriz Farias

Se, como dizia o poeta, a vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida, vale a pena reservar um tempo na estadia em Salvador para conhecer a Casa di Vina, onde mora, até hoje, a poesia.

SERVIÇO

Como chegar: de Fortaleza a Salvador tem voos diretos pela Gol e pela Latam. Com escalas tem pela Azul.

Hospedagem: Suíte Vinicius tem preço medio de R$400 a diária e os demais aposentos do hotel têm preço médio de R$275 a diária. 

Restaurante: Frango à Gesse e Vina - R$56, Coquetel Tarde em Itapuã - R$23.

Informações: A Casa di Vina funciona de segunda à sábado, das 12h às 23h30, e aos domingos das 12h às 22h. Rua Flamengo, 44 - Itapuã, Salvador. Tel: (71) 3014-8730

 www.casadivinabahia.com.br

 

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