Ator Luciano Lopes fala das dificuldades dos artistas na pandemia: 'Revi tudo que estava fazendo'

Criador da personagem Luana do Crato explica que sem eventos no setor de cultura e entretenimento, a situação de inúmeros trabalhadores e trabalhadoras do setor agravou-se

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Legenda: "Vivemos do que fazemos diariamente. Não temos um fixo. Esse trabalhador faz seu salário todo dia”, divide o ator, diretor e humorista

Há pouco menos de dois anos, Luciano Lopes concretizou uma importante decisão. Escolheu investir no sonho de viver apenas do trabalho com a arte. Até então, o criador da espevitada Luana do Crato se enquadrava na situação de outros colegas de profissão. A realidade mostra que muitos artistas precisam manter outros empregos para sobreviver e conciliar a carreira.

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Luciano deixou um emprego fixo no qual já tinha 18 anos de estrada. Aos 46, quando se dedicava apenas à lida na cultura, a pandemia da Covid-19 eclodiu. Com o isolamento social, exigência para se retardar a proliferação do vírus, casas de shows e espaços públicos precisaram cerrar as portas. Sem eventos, o já contado dinheiro desses brasileiros veio a zero. 

"Com o fechamento, o primeiro mês foi tranquilo. Acaba que você até tem uma reserva ou tendo algo para receber. Em relação a trabalho cessou tudo. Nós, trabalhadores da cultura, vivemos do que fazemos diariamente. Não temos um fixo. Esse trabalhador faz seu salário todo dia”, divide. 

Ator, produtor, humorista. A persona por detrás da Luana do Crato é graduada em jornalismo e tem formação em direção teatral. Tem pós em gestão e realiza outra pós em arte-educação e cultura popular. Com sua produtora, a Marmota Produções, trabalha na realização de projetos culturais, humor e eventos infantis. Em paralelo toca uma loja especializada em maquiagens e adereços para teatro, cinema, palhaçaria e cultura drag. 

Luciano Lopes e sua criação Luana do Crato: sonho de viver apenas da arte
Legenda: Luciano Lopes e sua criação Luana do Crato: sonho de viver apenas da arte

“Minha vida estava a 220 por dia”, relata. Além das produções em desenvolvimento, Luciano atuava bastante com a Luana nos palcos. Chegava a ter cinco datas por semana nas casas de Fortaleza. Em 2019, foram três temporadas por São Paulo. Duas outras viagens estavam agendadas para esse ano. Parou tudo.

“Para mim foi aterrorizante chegar a semana e não ter ganho nada, não ter feito nenhum evento. Não ter previsão de quando isso tudo ia acabar”, divide Luciano.  

Solidariedade 

Mesmo com o drama repentino, Luciano entendeu a necessidade de olhar para amigos em situação bem mais vulnerável. Ainda em março, ele e outras estrelas do humor cearense organizaram o movimento "Crise do Humor Cearense". Cerca de 70 artistas se uniram pela causa. À época, Luciano relatou que muitos trabalhadores ligados ao humor já tinham uma situação complicada. A pandemia só agravou o cotidiano de quem vive com tão pouco. 

A campanha foi idealizada por outro nome da comédia local, o ator e comunicador Amadeu Maya. Ciro Santos, Aluísio Jr, Elvis Preto e Luciano completaram o grupo realizador. 155 cestas básicas foram entregues. “Doamos para artistas de circo, para o pessoal do humor, para algumas pessoas do teatro”, aponta. 

Cestas básicas arrecadadas pelo movimento 'Crise do Humor Cearense'
Legenda: Cestas básicas arrecadadas pelo movimento 'Crise do Humor Cearense'
Foto: Foto: Reprodução

Para lidar com a severa recessão, o ator procurou se reinventar. “Fiquei muito mal, deprimido. Revi tudo que estava fazendo. Procurei fazer uma planilha diária e estou tentando me virar até agora”, aponta Luciano. A opção foi atuar em ‘lives’ e adequar a loja para o atendimento virtual. A situação é drástica.  

Reflexão

O futuro vai exigir mais consciência. Para Luciano, não só a classe artística, mas todos os trabalhadores devem aprender a se resguardar. Ter uma economia financeira. Guardar mais. “Ultimamente, a população estava gastando muito. Muita gente vivendo de status e glamour. Depois dessa pandemia espero que as pessoas se conscientizem mais do seu dinheiro. Que uma outra situação sofredora como essa não aconteça”. 

O desejo por melhores dias mostra a mesma determinação que Luciano teve quando decidiu dedicar-se exclusivamente à profissão que mais ama. “Quero poder trabalhar e me equilibrar. Quero voltar a fazer meus shows, pagar minhas contas e ter uma vida digna como sempre procurei. E poder viver de arte”, finaliza o cearense por detrás da Luana do Crato. 

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