Versátil. Talvez seja esta a característica mais marcante do fotógrafo brasileiro Bob Wolfenson. Com currículo de quase 50 anos de experiência, o paulistano não se limita. "Eu advogo a ideia de transitar por várias disciplinas da fotografia, eu sou fotógrafo de moda, de retrato, de nu, de publicidades e eu preciso de todos os outros que me habitam para fazer qualquer um", relata em entrevista ao Verso.
O consagrado artista estreia, neste sábado (5), a exposição "Bob Wolfenson: Retratos", no Museu da Fotografia Fortaleza. Com curadoria do gestor cultural Rodrigo Villela e assistência do documentarista Fábio Furtado, a mostra reúne mais de 150 imagens icônicas. A primeira montagem aconteceu em 2018, em São Paulo, e foi vista por mais de 9 mil visitantes. No dia da abertura em Fortaleza, o fotógrafo dará uma palestra seguida de uma visita guiada.
Proximidade
Bob descreve a arte de fazer retratos como um encontro. Um momento imprevisível e breve. Não atribui a ele a característica de ser definidor da personalidade de alguém.
."Sou contra essa ideia de que o fotógrafo tem esse poder de retratar a alma de alguém, o retrato é um encontro, um encontro breve e não dá o direito a trancar a personalidade da pessoa"
Dos encontros da vida, Bob chegou à fotografia. Não foi por vocação que iniciou na área. Aos 16 anos, precisou buscar um emprego e foi quando a produção de imagens chegou como possibilidade. "Fui ser fotógrafo muito mais por necessidade do que por vocação, meu pai morreu e tive que trabalhar. Eu arrumei um emprego num estúdio e me tornei fotógrafo", lembra.
O formato dos retratos o conquistou ainda no início da carreira. "O que dá contundência a um retrato é que ele se comunica com o espectador por aspectos estéticos ou psicológicos que não sejam exatamente a persona da pessoa", explica sobre a escolha. "O texto que a Fernanda (Montenegro) escreveu para o meu livro fala que o retrato depois de um tempo se torna mais interessante do que na época em que foi feito, porque ele captura o momento, a atmosfera", acrescenta.
O encontro com a atriz pelas lentes de Bob é singelo, mas imponente. O fundo branco como cenário e um sorriso à la Monalisa mostram uma Fernanda incorporando leveza. Outro destaque é o que estampa nossa capa. O retrato de Caetano Veloso por Bob data de 1988, registrado em terras cariocas. A face expressiva do cantor, no entanto, é enigmática. O que causa a ele tanta estranheza? O clique é tão famoso que, ao buscar pelo nome do fotógrafo no Google, é a primeira a aparecer.
Em seus retratos, personalidades das mais diversas áreas: da cultura, da moda, da música, do esporte. Caetano Veloso, Maria Bethânia, Fernanda Montenegro, Lázaro Ramos, Malu Mader, Caio Fernando de Abreu, Laerte, Sebastião Salgado, Leonilson e Belchior são alguns dos nomes que estarão na mostra. Para ele, não é possível pontuar qual foi o mais marcante. No entanto, confirma:
."Há algumas mais icônicas, que transcenderam a proposição delas. Fotos que se desprenderam do momento em que foram geradas e se transformaram em outras coisas"
Trajetória
Bob passou por diferentes fases da fotografia, inclusive, a mais transformadora delas: a transição do analógico para o digital. Estudos remontam esse início ao ano de 1957, mas foi somente na década de 1990 que ela se consolidou. Apesar da técnica ter mudado, o fotógrafo acredita que o olhar de quem está por trás das lentes é o que realmente vale. "O que mudou foi o ritual. Não tem mais tanto tempo de espera, eu tenho possibilidade de rever, corrigir, mexer, houve um ganho muito grande", observa.
"Fotografia analógica é uma coisa para jovem, para aprender as coisas mais primárias. É preciso saber matemática, física e, para revelar, precisa saber sobre química. E tudo isso é muito importante para quem quer se transformar fotógrafo", conta, ressaltando a relevância dessa técnica.
Com relação ao próprio estilo de fotografar, ele não acredita que tenha feito tantas mudanças assim. "Segui numa linha mais ou menos constante, de ir a esse encontro desarmado e poder mostrar esses acontecimentos. Hoje em dia, eu tenho muito mais reputação, e as pessoas querem fazer um retrato comigo. Mas se você pegar fotos minhas dos anos 1980 e as de agora são na mesma linha", reflete.
O paulistano iniciou sua carreira no mundo por trás das lentes ainda muito jovem, como assistente do fotógrafo publicitário Chico Albuquerque. Aos 28 anos, mudou-se para Nova York, onde trabalhou com o norte-americano Bill King. Após uma temporada de um ano e meio nos Estados Unidos, voltou ao Brasil. A experiência com King rendeu renome e Bob foi chamado para fazer trabalhos com grandes jornais e revistas do País.
Alguns de seus trabalhos foram colocados em oito livros. O último, lançado em 2017, leva o nome do fotógrafo e reúne 58 retratos de personalidades femininas, como as modelos Gisele Bündchen e Luiza Brunet, e a atriz Taís Araújo. A exposição, portanto, é mais um dos compilados dessa rica trajetória do exercício de captar expressões eternamente.
Serviço
Bob Wolfenson: Retratos
Abertura: Sábado (5), às 10h, no Museu da Fotografia Fortaleza (Rua Frederico Borges, 545, Varjota). Visitação de terça-feira a domingo, das 12h às 17h. Grátis. (3017.3661)