A obra e a presença da pernambucana Lia de Itamaracá, 76 anos, falam por si só. Reconhecida como um dos nomes mais célebres da tradição cirandeira no Brasil, ela não se prolonga na fala, em entrevista ao Verso. Identificada com Pernambuco e com a ilha onde mora até hoje, Lia é simples ao comentar mais uma passagem em Fortaleza: “é sempre bom sair da minha praia pra outro lugar”.
Neste domingo (8), às 18h, ela se apresenta no Cineteatro São Luiz. O espetáculo “Ciranda de Ritmos” acontece quatro meses depois do lançamento do último disco, “Ciranda sem Fim”, com direção musical do DJ Dolores. Neste show, Lia também reforça a tradição do coco de roda e do maracatu.
A artista roda o Brasil e a agenda itinerante mal lhe permite, hoje, assistir ao premiado filme “Bacurau”. Lia integrou o elenco da produção e interpretou “Dona Carmelita”, a matriarca da cidade fictícia do longa-metragem dirigido pelos conterrâneos Kléber Mendonça Filho e Juliano Dornelles.
Sobre a repercussão do filme, que se tornou um xodó do cinema brasileiro no ano passado, sucesso de público e crítica, Lia responde: “meu filho, ando viajando tanto, que ainda nem tive tempo de ver”.
Após o reconhecimento do Governo de Pernambuco como “Patrimônio Vivo” do Estado, Lia de Itamaracá ganhou, em 2019, o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A cirandeira observa que as honrarias, enquanto ela está viva, ainda fazem sentido. “Recebo muito bem, porque gosto do que faço. É um reconhecimento da minha vida. A gente não pode esperar alguém morrer pra ser feito alguma coisa”, reflete.
Mestra da cultura, Lia identifica que as gerações mais jovens têm abraçado as tradições, reconhecem manifestações como a ciranda, mas vivem ligadas a uma variedade grande de outros estímulos da realidade. Para chegar ao atual patamar de reconhecimento no cenário cultural brasileiro, a artista é realista e destaca o papel de Beto Hees, seu produtor.
“Sou grata à minha família, que apoia meu trabalho, aos meus fãs, aos amigos de Itamaracá. E tenho de agradecer ao Beto, né? Se não fosse por ele, eu nem saía da Ilha”, reconhece.
Percurso
Cantora de ciranda, coco e maracatu, Lia de Itamaracá construiu um percurso artístico diferente do hábito da indústria fonográfica. Seus discos foram lançados em datas bem espaçadas ao longo do tempo. O primeiro álbum é de 1977, o LP “Rainha da Ciranda”. O segundo, “Eu sou Lia”, é de 2000; e o terceiro, “Ciranda de Ritmos”, saiu 8 anos depois.
Filha de uma família de 13 irmãos, Lia, nascida Maria Madalena Correia do Nascimento, não foi criada pelos pais biológicos. Na terra natal praiana, teve experiências profissionais de cozinheira a guia turística. É cantora desde os 12 anos de idade e seu nome artístico surgiu nos versos de Teca Calazans, em 1962: “Essa ciranda quem me deu foi Lia/Que mora na Ilha de Itamaracá”.
Serviço
Lia de Itamaracá
Show da cirandeira pernambucana neste domingo (8), às 18h, no Cineteatro São Luiz (Rua Major Facundo, 500, Centro). Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). Contato: (85) 3252-4138