Audiovisual cearense em festa. A Casa Amarela Eusélio Oliveira (CAEO) completa exatos 50 anos de atividade. Neste meio século, o equipamento cultural da Universidade Federal do Ceará (UFC) consolidou-se como território de aprendizado para inúmeros profissionais da fotografia, animação e cinema.
É lar e testemunha do desenvolvimento percorrido pela sétima arte no Estado. Uma programação especial homenageia a contribuição deste espaço à cultura. Mostras especiais e uma série de projetos de resgate da memória estão entre as iniciativas.
A exposição “Os Habitantes”, composta por 50 fotografias de Celso Oliveira, poderá ser visitada a partir do dia 17 de junho no site e redes sociais da instituição. Já a atividade “50 anos em segundos”, reúne depoimentos em vídeo com personalidades do cinema, cultura e educação cearenses.
Cada participante divide um pouco da relação pessoal com a Casa Amarela. A lista inclui nomes como o cineasta Rosemberg Cariri; o secretário da Ciência, Tecnologia e Educação Superior do Estado do Ceará, Inácio Arruda; e o reitor da UFC, Cândido Albuquerque.
Ainda no contexto das comemorações de 50 anos, a CAEO programa a reinauguração do Cine Benjamin Abrahão, que completa 40 anos em agosto. O jornalista e pesquisador de cinema, Firmino Holanda, prepara um livro sobre a história do equipamento, que deve ser publicado em breve.
Lar generoso
A Casa Amarela abriga até hoje os sonhos de seu idealizador. O professor e cineasta Eusélio Oliveira (1933-1991) foi um defensor do acesso à cultura e educação, seja da comunidade universitária como do público geral. Desde a fundação, a CAEO oferece cursos de fotografia e cinema. A partir de 1993, tornou-se referência no ensino do cinema de animação.
Esta expressão está nas homenagens com “Anima 50”, uma série de 10 curtas de animação de até 30 segundos com temática relacionada às cinco décadas da CAEO. O primeiro, que será lançado até o final de junho nos canais da instituição na web, é de Telmo Carvalho, que assina a curadoria da série com Mariana Medina.
Anualmente, cerca de 300 alunos concluem os cursos na Casa. Nos corredores do prédio situado na movimentada Avenida da Universidade, atuaram nomes da fotografia como Delfina Rocha, Tiago Santana, José Albano e Silas de Paula. A lista de cineastas inclui Tibico Brasil, Glauber Paiva Filho, Jane Malaquias, Joe Pimentel, entre outros.
Um raro registro do espírito aguerrido do fundador consta no filme “Eu, sélio” (1991), dirigido por Glauber Paiva. Nesse trabalho comovente, Eusélio revela um pouco de sua trajetória e da criação do equipamento. Convicto, ele revela às lentes do documentário:
“A Casa Amarela foi inicialmente uma ideia, uma ruptura, um atrevimento. Em termos de presente, uma proposta. Em termos de futuro, um compromisso.”
"Se você pensar em equipamento cultural que atue na formação, produção e difusão, a Casa Amarela Eusélio Oliveira da UFC é pioneira" descreve o professor da UFC e diretor da CAEO, Wolney Oliveira, filho do fundador. Para o gestor, a atuação da Casa Amarela foi preponderante ao desenvolvimento do setor audiovisual no Ceará.
Surgimento
Em outro trecho da obra “Eu, sélio”, a mente por detrás da criação da Casa Amarela divide seu entendimento acerca da arte cinematográfica. “O cinema não é uma arte espontânea, não aparece por milagre, não aparece por iniciativa isolada das pessoas”, descreve o mestre.
Acreditando no valor de partilhar conhecimento, Eusélio Oliveira implantou o Cinema de Arte Universitário em 1971. Funcionou inicialmente em instalações precárias, no primeiro andar do prédio em que ficava o antigo Restaurante Universitário da UFC. O então professor do curso de Arte Dramática enfrentou resistência por parte de determinados setores da instituição.
A exibição de "O Pagador de Promessas" (1962) iniciou a extensa e profícua atividade do projeto. Posteriormente, o Cinema de Arte Universitário foi transferido para o local onde está até hoje. O casarão que faz parte da história arquitetônica do bairro Benfica abrigava o departamento de Geologia da UFC. O local funcionava como um depósito de pedras.
"Não tinha uma pedra no caminho, tinha uma pedreira!", contou o idealizador.
A invenção do apelido que rendeu o batismo da casa é repleta de ironia. À época, em virtude da pintura desbotada, o local não apresentava coloração definida. Quando perguntado por colegas da UFC onde poderia ser encontrado, Eusélio comentava que poderia ser achado numa "casa anêmica, subnutrida... 'amarela'”.
Trajetória da Casa
A CAEO testemunhou o Salão Experimental de Fotografia e a Exposição Universitária de Arte. Apoiou iniciativas oficiais no campo da arte tais como Salão de Abril. Realizou diversas retrospectivas das obras de cineastas brasileiros e estrangeiros, sendo exibidos filmes de ficção e documentários.
Foram promovidas, também, diversas mostras didáticas para os cursos da universidade, além de seminários e encontros. Em 1991, a criação da Vídeo Mostra Fortaleza foi a pedra fundamental para o surgimento do Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema, quem em 2021 chega à 31ª edição.
Na celebração dos 50 anos, outro presente à sociedade é a conservação do acervo deixado por Eusélio Oliveira. São centenas de documentos de diversos gêneros, tratando de assuntos ligados à prática cinematográfica e ao cinema brasileiro. O conteúdo passa por tratamento e digitalização da Casa Amarela, com apoio da Profa Dra. Ana Carla Sabino Fernandes, do Departamento de História da UFC. A etapa final deste processo será a publicação eletrônica do material.
Wolney Oliveira detalha que o histórico da CAEO está intrinsecamente ligada à criação de outros espaços de educação voltada a imagem no Ceará.
"O audiovisual cearense hoje é uma potência, basta acompanhar os resultados dos últimos filmes, as premiações. Somos um Estado com dois cursos superiores de cinema, o da Federal e o da Unifor, o curso sequencial da Vila das Artes (PMF), os cursos básicos da CAEO, o Porto Iracema", avalia o gestor.
Um dos projetos que deverá ser marco de uma nova era da CAEO é o Memorial do Cinema Brasileiro, um museu do cinema inteiramente digital e interativo. O Memorial é parte do projeto de ampliação do equipamento e deve ampliar o legado da Casa.
"Ela foi e é fundamental para o que nós temos hoje. A Casa Amarela Eusélio Oliveira colaborou decisivamente em toda essa política do audiovisual cearense", finaliza Wolney Oliveira.
Serviço:
Comemorações de 50 anos da Casa Amarela Eusélio Oliveira - Abertura com a exposição virtual “Os Habitantes”, de Celso Oliveira. A partir de 17/06 no site e página da CAEO no Facebook.