Álbum clássico de Chico Science & Nação Zumbi, “Da Lama ao Caos” ganha livro sobre seus 25 anos

O jornalista José Teles (PE) publicou “Da Lama ao Caos: que som é esse que vem de Pernambuco?” (Edições Sesc), e revisa a trajetória de Chico e dos primórdios do mangue beat 

Escrito por Felipe Gurgel , felipe.gurgel@diariodonordeste.com.br
Legenda: Chico Science, há 25 anos, esteve em Fortaleza duas vezes, e fez shows na barraca Biruta (Praia do Futuro)
Foto: Reprodução/Arquivo Biruta

Em abril passado, o lançamento de “Da Lama ao Caos”, primeiro álbum de Chico Science & Nação Zumbi (CSNZ), completou 25 anos. A lembrança do disco – um clássico na história da música brasileira – ganhou relevo a partir da publicação de “Da Lama ao Caos: que som é esse que vem de pernambuco?” (Edições Sesc), de autoria do jornalista José Teles (PE), um dos especialistas no cenário do mangue beat.   

O livro faz parte da coleção “Discos da Música Brasileira”, organizado pelo jornalista musical Lauro Lisboa Garcia (SP), e revisa a trajetória de Chico Science (1966-1997) e do início da projeção da Nação Zumbi. Por ora, a edição só está disponível no formato de e-book, no catálogo de lojas virtuais.  

> Hits e a faixa-título "Da Lama ao Caos" marcam os shows da Nação Zumbi até hoje

“Conheci Chico acho que em 1992. Num bar que eu frequentava todos os dias, O Calabouço. (Mas) ele não me impressionou muito inicialmente”, rememora José Teles. Autor de outras publicações sobre o tema, como “Do frevo ao manguebeat” (Ed. 34, 2012), o jornalista identifica que a principal contribuição da nova publicação é a correção de alguns episódios que foram mal narrados, por ele mesmo, anteriormente.  

Teles encontrou Liminha, produtor do disco clássico, e escutou a fita original das gravações, no estúdio Nas Nuvens, onde CSNZ gravou o repertório. A irmã de Chico Science, Goretti França, contou ao jornalista histórias curiosas, como a do verso “fui no mangue/ catar lixo/ pegar caranguejo/ conversar com urubu”, do hit “Manguetown”. 

“Ele (Chico) bem garoto ia até lá (no mangue, em Olinda/PE), cascavilhava o lixo, e provavelmente dizia alguma coisa para os urubus que pousavam. Na letra fica meio como uma metáfora. E não é”, esclarece.   

Outro esclarecimento do novo livro toca na influência de Josué de Castro sobre Chico Science. “Que absolutamente não houve. Os dois só tinham em comum o amor pelo Recife”, detalha o autor. Em entrevista por e-mail ao Verso, Teles comentou os bastidores da divulgação do disco homenageado e suas impressões sobre o repertório.  

Quando escutou o álbum finalizado, você teve a impressão de que os tambores ficaram abafados na sonoridade? Alguns críticos fizeram essa ressalva sobre a produção do Liminha... 

O próprio Chico disse isso. Liminha explicou o motivo de as alfaias parecerem limadas. Elas têm uma frequência grave baixa. Ele contou que teve que dobrar os sons das alfaias, pra dar mais força. No palco, elas têm outra força por causa do visual. Alguns anos depois, o (guitarrista) Lúcio Maia fez elogios a Liminha, disse que o trabalho dele foi muito bom, e que com ele aprendeu muita coisa. Eu não lembro de ter estranhado os sons das alfaias, quando ouvi o disco a primeira vez. 

“A Praieira” chegou a virar trilha de novela global (Tropicaliente, 1993-94), e “A Cidade” foi muito bem recebida pela audiência da MTV, por exemplo. Você já identificou que o álbum trazia hits desde a primeira vez que ouviu?  

A música de Chico Science & Nação Zumbi não era o padrão do pop brasileiro. Muita gente estranhou, até porque os ritmos pernambucanos não eram tão conhecidos fora do estado. Antes de mais nada, o que a banda tocava não era maracatu, não tinha essa levada. Na verdade, Chico queria que a percussão cumprisse, no grupo, o mesmo papel que os metais (cumpriam) na música de James Brown. E ele não chegou a fazer tanto sucesso. “A Praieira” entrou na novela, mas era uma ciranda, e ninguém sabia o que era ciranda fora daqui. “A Cidade” tocou também, mas não tanto. Acho que a época não estava pronta pra música de CSNZ. 

Entre “Da Lama ao Caos” e “Afrociberdelia” (segundo e último álbum de Chico Science), qual a sua preferência? E por que? 

Gosto mais do “Da Lama ao Caos”, os caras tocavam aquele repertório fazia tempo, então entraram no estúdio com as músicas ensaiadíssimas. Já o “Afrociberdelia” traz as experiências que Chico adquiriu nas turnês internacionais, mas a produção é de Bid, que não tinha produzido nada importante. Na verdade, foi produzido por ele e a banda. Mas é um grande disco, e também mostrou caminhos para a MPB. 

Edições Sesc São Paulo 
2019, 136 páginas (e-book) 
R$ 15 

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