Iniciativas locais aproximam clientes e lojistas em meio ao isolamento

Para fazer frente aos obstáculos impostos pela pandemia, plataformas virtuais são elaboradas com rapidez por cearenses e reconectam lojistas ao público, dando apoio à transformação digital de pequenos negócios

Legenda: Iniciativa do IFCE, plataforma "Fique no Lar" conecta consumidores com pequenos e médios serviços e comércios
Foto: Kid Júnior

Não tão distante da era das páginas amarelas das listas telefônicas, soluções para reconectar os pequenos negócios cearenses aos clientes em meio às medidas de isolamento social foram indispensáveis para resguardar a sobrevivência desses estabelecimentos.

A tendência era apontada pelo sucesso das gigantes do varejo e de seus marketplaces, que se adiantaram às mudanças no comportamento dos consumidores aceleradas pela pandemia de Covid-19. Uma das soluções criadas para manter o elo entre lojistas e clientes logo no início da crise no Estado foi a plataforma cearense "Fique no Lar".

Só no Ceará, a iniciativa desenvolvida pelo Instituto Federal do Ceará (IFCE) hospeda 763 estabelecimentos, distribuídos em 12 categorias. A plataforma, que inclui um site e um aplicativo, mapeia pequenos e médios serviços e comércios por cidade, entre farmácias, restaurantes, pet shops, papelarias ou supermercados, e disponibilize as informações à população.

"Foi uma demanda que surgiu de prefeituras da região do Vale do Jaguaribe, no litoral Leste. Fomos provocados se a gente conseguia desenvolver alguma solução para colocar no ar, de forma muito rápida, um catálogo de serviços que estariam disponíveis durante a fase inicial da pandemia", explica a coordenadora do projeto, Carina Oliveira.

Presente em 21 estados e 390 cidades, com predominância no Ceará e Bahia, a plataforma é uma parceria entre o IFCE e os governos dos dois estados. "Já que os empreendedores não precisam pagar nada para realizarem o cadastro, a contrapartida desses governos e também dos municípios que desejaram aderir, era fazer a divulgação da ferramenta. Na Bahia, eles a adotaram como a plataforma oficial e, por isso, concentram 5.360, dos 6.183 negócios cadastrados (na plataforma)".

Outras funcionalidades, como a realização de compras dentro da plataforma, ainda não estão disponíveis. "Nosso trabalho está evoluindo aos poucos, já que surgiu de maneira emergencial e gratuita. Estamos com alguns editais abertos, o que deve acelerar esse processo de melhorias de performance, mas ainda não temos mão de obra remunerada, então, todo o trabalho é voluntário", afirma Carina.

Plataformas locais

Há outros dois marketplaces cearenses em processo de finalização: Lojas Aqui, da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL/CE) e Tá Fácil Comprar, da Fecomércio/CE. Ambas estão em processo de finalização, com expectativa de pleno funcionamento a partir de setembro.

De acordo com o presidente da FCDL, Freitas Cordeiro, a plataforma deve funcionar com três opções de planos para os lojistas: um gratuito, que permite expor três produtos, um intermediário, que custará mensalmente R$ 30 a associados à CDL e R$ 60 ao público geral para expor até 30 produtos, e um mais amplo, de R$ 60/R$120, sem limites para exposição e possibilidade de compra na própria plataforma. Todas as opções de planos informam os canais de comunicação das lojas.

"Queremos oferecer um produto que caiba no bolso de cada lojista, por isso também há uma opção gratuita, para que ele possa ir se adaptando ao comércio digital. Estamos na fase final de discussões de tarifas e taxas com as empresas operadoras de pagamento, estamos fechamos isso até o fim da semana para poder, em setembro, estar funcionando completamente", explica Freitas, que estima serem cadastradas ao menos 300 empresas na plataforma em setembro, número que deve aumentar conforme a confiança do comerciante.

Já na plataforma Tá Fácil Comprar, a estratégia de adesão foi outra: o lojista não precisará pagar uma taxa para cadastrar seu negócio no site, mas terá de pagar um percentual do faturamento de vendas online. "Vamos começar com aproximadamente oito categorias ativas, com um percentual de 4% do volume de vendas da plataforma, nos três primeiros meses. A partir do quarto mês, esse percentual vai variar entre 10% e 14%, a depender do setor", explica a gerente comercial da Fecomércio, Fabíola Macêdo.

Alimentação

Adaptar os negócios também foi a única alternativa possível para quem estava acostumado a lidar, em todas as fases de produção, cara a cara com os clientes. Especializada em produtos orgânicos, a empresa Viver Bem criou uma plataforma digital para vender as mercadorias. Qualquer agricultor com produção orgânica pode aderir de maneira gratuita ao site.

"Como nossa produção preza pelo ciclo da natureza, o prazo de entrega é de mais ou menos três dias. Aceitamos pedidos a partir de R$ 40, para diminuir o repasse do frete para os clientes. Os pedidos acima de R$ 80 já têm frete grátis. Hoje, nós atendemos em torno de mil clientes mensais, com um ticket médio perto de R$ 60", explica Priscille Gomes, sócia da empresa.

No início da pandemia, a Viver Bem abastecia apenas Fortaleza. Em agosto, municípios da Região Metropolitana também já estão sendo atendidos. "Nossa ideia é dar facilidade ao acesso aos produtos orgânicos no Estado e localizar cada vez mais produtores. Essa digitalização já deveria ter acontecido, a pandemia veio para mostrar como ela é realmente necessária e pode dar certo, se for utilizada com responsabilidade", afirma.

A situação não é tão diferente nos serviços. Mesmo com atividades presenciais, os restaurantes seguem funcionando com uma série de restrições e a necessidade de alcançar mais clientes fez com que estabelecimentos apostassem mais fichas em cardápios e pedidos digitais.

Idealizado por dois cearenses, o aplicativo Servit propõe que os clientes façam pedidos, solicitem talheres e paguem a conta de maneira digital, sem a necessidade de chamar o garçom a cada demanda. Embora tenha sido criada antes da pandemia no Estado, em março, o primeiro contrato da empresa só foi oficializado quando os restaurantes voltaram a funcionar, há aproximadamente um mês.

"Tínhamos um incômodo (dos clientes) muito grande ao ter que esperar para pagar uma conta, para fazer um pedido e depois para receber e agora, na pandemia, com a necessidade extrema de evitar aglomeração, percebemos que era o momento ideal de colocar em prática uma ideia de muito tempo. O nosso investimento nesse projeto foi de aproximadamente R$ 150 mil, mas ainda não temos data certa para começar a colher os frutos, talvez em dois ou três anos", estima Marcos Tiago, desenvolvedor do Servit.