Vendedora é demitida após denunciar chefe por assédio em loja no Rio

Vítima relata ter sofrido ameaças do gerente caso fizesse alguma denúncia

Escrito por Redação ,
fachada da delegacia de polícia
Legenda: Caso é investigado na 23ª Delegacia de Polícia, no Méier, Zona Norte do Rio de Janeiro
Foto: Google Street View

Uma mulher foi demitida por justa causa após denunciar abuso sexual do gerente e de um colega da loja na qual trabalhava, em um shopping da Zona Norte do Rio de Janeiro. De acordo com delegado que apura o caso, uma parte da loja, onde a vítima foi assediada, chegou a ser nomeada "sala da sarrada". As informações são do portal UOL.

Segundo a vítima, as brincadeiras "sem noção" aconteciam desde sua chegada à empresa. No entanto, em 15 de abril, um dia antes de ela entrar de férias, ela viveu o pior dia de sua vida.

"Entrei na cozinha como de costume, subi para beber água e fui pega de surpresa pelo meu colega de trabalho, um consultor igual a mim, e pelo meu gerente geral. Eles apagaram a luz e fui empurrada para o gerente pelo 'colega de trabalho'", contou ela, em postagem no Instagram. 

No relato, a vítima detalha o assédio e diz que pedia para o homem parar. "Não conseguia assimilar por que comigo e o porquê de estarem fazendo aquilo. Foram minutos angustiantes", destacou ela.

Pedido de socorro

A vítima diz ter lembrado de estar com outra funcionária da loja quando subiu para almoçar. Ao pedir por socorro, a amiga tentou ajudá-la, mas não conseguiu abrir a porta da cozinha. Mesmo pedindo para parar, a vendedora pontua que os dois agressores ficaram aos risos.

"Em todo momento eles rindo e minha agonia só aumentava. Até que essa colega de trabalho fala: 'denuncia eles' [pelo canal interno que a empresa de telefonia Tim disponibiliza]. Foi aí que eles abriram a porta e eu consegui sair", relata.

A vendedora afirma que, no dia 3 de maio, quando voltou de férias, tremia só de pensar no retorno ao trabalho. "Eu chorava sozinha, com vergonha e medo de perder o emprego", diz.

Depois do ocorrido, a vítima diz ter desencadeado problemas, como ansiedade e depressão, além de queda no rendimento no ofício. O gerente da loja, segundo ela, chegou a ameaçá-la caso alguma denúncia fosse feita.

O caso foi registrado na 23ª Delegacia Policial (DP), no Méier, no início de junho. O delegado responsável pela ocorrência, Deoclécio Francisco de Assis, indicou que os homens foram indiciados por importunação sexual, coação e difamação.

"A vítima, apesar de buscar o canal interno de notícia da empresa, jamais foi recebida por nenhum representante da mesma, tendo que relatar os fatos por chat, mesmo depois de implorar por atendimento pessoal", frisa o delegado, avaliando que a empresa conduziu o caso "muito mal", pois "simplesmente não apurou". 

Conforme Deoclécio de Assis, a vendedora denunciou o caso no canal interno, e a empresa requeria mais detalhes, mesmo com a vítima não querendo se identificar. "Quando ela se identificou e identificou quem fez, o gerente da loja tomou conhecimento", explicou.

Ainda segundo o delegado, o gerente alegou, no depoimento, que a vendedora já tinha se relacionado com outro funcionário, mesmo ele sendo casado, o que foi configurado como crime de difamação. "Ele, muito mal orientado, tentou desacreditá-la o tempo todo", pontuou.

Vendedora foi chamada para conversa

Alguns dias após prestar queixa, a mulher foi chamada pela coordenadora para uma conversa na loja. "Foi quando ela me demitiu por justa causa, no meio de uma crise de ansiedade", relembra. "E me demitiu de forma humilhante, falando sobre eu ter ferido a honra dos meus superiores e colegas de trabalho, quebrando assim o código de ética da Tim", complementa a vendedora.

No inquérito, pelo menos oito pessoas foram ouvidas. Uma acareação entre a vítima e o gerente da loja chegou a ser realizada.

A empresa de telefonia, em nota, lamentou o caso, afirmando que "trata com máxima atenção, seriedade e sigilo as denúncias e manifestações recebidas em seu Canal de Denúncias, como ocorreu no presente caso". A Tim indica ainda que, "em função da abertura do processo criminal", afastou os dois colaboradores arrolados no inquérito e "repudia qualquer situação de assédio".

Questionada sobre a demissão da vendedora, a companhia disse que o afastamento dela se deu por "causas anteriores e totalmente alheias aos fatos relatados". A identidade dos homens envolvidos no abuso não foi relevada.

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