Presidente do Inep diz que gráfica do Enem pode ser penalizada

Primeira edição do exame sob responsabilidade do governo Bolsonaro teve erros nas correções das provas de quase seis mil estudantes

Escrito por FolhaPress ,

O presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), Alexandre Lopes, disse que a gráfica Valid pode ser penalizada pela falha que provocou, segundo o governo Jair Bolsonaro, a divulgação de notas erradas do Enem 2019.

O Inep ainda não sabe qual protocolo de controle falhou dentro da gráfica para que os erros de associação entre o participante e a cor de sua prova não tenham sido identificados antes da divulgação dos resultados. 

O Enem acumula algumas falhas ao longo dos anos, mas esta é a primeira vez que um erro como este é registrado. O Enem 2019 foi a primeira edição do exame sob responsabilidade do governo Bolsonaro.

"O que aconteceu no ambiente da gráfica é a gráfica que tem de responder", disse Lopes. 

De acordo com ele, as possíveis sanções seguirão o que é previsto no contrato com a Valid e serão precedidas de todo o processo legal de apuração.
Lopes concedeu entrevista coletiva na noite desta segunda-feira (20) em Brasília para prestar esclarecimentos sobre os erros, que atingiram 5.974 participantes. O ministro da Educação, Abraham Weintraub, não compareceu.

Estudantes prejudicados

Na véspera do anúncio dos erros, Weintraub havia comemorado o que descreveu como a melhor edição de Enem de todos os tempos. De acordo com sua assessoria, a ausência na entrevista desta segunda se deu por conflitos de agenda.  

O Ministério Público Federal encaminhou, na noite desta segunda, um ofício ao MEC em que solicita a suspensão da abertura das inscrições do Sisu (Sistema de Seleção Unificada). A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão considera que as inconsistências na correção podem prejudicar milhares de estudantes. 

O governo manteve a abertura das inscrições para esta terça-feira (21), como previsto no cronograma inicial. Já o prazo foi estendido até domingo (26).

Foram constatados erros na identificação dos candidatos e da respectiva cor de sua prova. O problema teria ocorrido por causa de falhas pontuais nas máquinas de impressão. Os equipamentos teriam engasgado, provando pequenas interrupções no trabalho.  

Essas falhas é que teriam provocado a dissociação entre as informações dos candidatos e a cor da prova, segundo o Inep.

A gráfica Valid imprime a prova desde o ano passado. A empresa foi contratada sem licitação, mesmo sem ter experiência em trabalhos similares.

"O erro estava na associação, mas que tipos de erros geraram isso ainda não sabemos dizer", afirmou Lopes.

Mais de 95% dos casos de erros são concentrados em quatro cidades: Viçosa, Ituiutaba, Iturama (todas em MG) e Alagoinhas (BA). Os outros casos ficaram espalhados por praticamente todo o país. Somente nos estados de Roraima a Amapá não houve registro de falhas. Do total de erros, 30 referem-se ao primeiro dia de prova e o restante, ao segundo dia. 

Conferência das notas

O Inep iniciou a conferência das notas a partir de reclamações de participantes nas redes sociais. 

O órgão identificou inconsistências nos primeiros quatro casos ainda na noite sexta-feira (17), dia em que as notas foram liberadas.

O governo recebeu 172 mil emails com reclamações. Há, portanto, milhares de participantes que estranharam seus desempenhos e não tiveram a nota alterada.

Lopes disse que o Inep garante a confiabilidade dos resultados porque a análise do órgão não se ateve às reclamações. 

Todos os 3,9 milhões de participantes tiveram seus desempenhos conferidos a partir de critérios do Inep para encontrar inconsistências.

A conferência de erros não resultou apenas em elevação das notas. Cerca de 20% das notas alteradas do segundo dia de prova tiveram o desempenho reduzido. Das notas relacionadas ao primeiro dia, 10% foram de correções para baixar o resultado.

O presidente do Inep disse que não houve erros na correção da redação, uma vez que o problema identificado na gráfica não se aplica a essa prova. Cerca de 300 pessoas participaram desse processo de análise. 

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