Nordeste supera Sudeste e vira região mais infectada do País
Quase quatro meses depois da notificação do primeiro caso brasileiro do novo coronavírus, nove estados do Nordeste registram mais pacientes contaminados do que os quatro estados do Sudeste, onde iniciou a pandemia
O Nordeste superou o Sudeste e, desde ontem (8), é a região com o maior número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus, segundo dados do Ministério da Saúde.
Ontem, dos 15.654 novos contágios confirmados pelo Governo Bolsonaro, 6.697 foram dos nove estados nordestinos, que tiveram 353 óbitos registrados em 24 horas.
Já os quatro estados do Sudeste tiveram 4.483 novos casos e 160 mortes contabilizados em um único dia, de acordo com o boletim publicado pelo Ministério da Saúde às 18h30 de ontem.
Considerando desde o início das notificações da doença no Brasil, em fevereiro, o Nordeste já registra mais de 230 mil infectados e mais de 11 mil mortos. Ontem, dos 679 novas vítimas no País, foram 352 óbitos no Nordeste, ante 160 no Sudeste, segundo o boletim do Ministério da Saúde.
Mesmo com os estados do Rio de Janeiro e São Paulo tendo sido os primeiros a registrar casos da doença e a região Sudeste ser a mais populosa do País, o Nordeste se tornou o território com maior número de casos do coronavírus.
Juliana Reis, virologista do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), aponta a desigualdade social como um dos principais fatores para essa mudança. "Nós vivemos em um País de proporções continentais, onde o clichê se torna real: temos muitos Brasis dentro de um único país", reflete sobre os diversos cenários socioeconômicos contidos no País.
Os desafios são inúmeros, visto que há cidades do interior com pouca estrutura, e os problemas sociais se agravam nas regiões mais pobres do País, como o Nordeste e Norte, pontua a virologista. "Temos cidades que não possuem infraestrutura para cuidar dos pacientes mais graves, temos uma falta de esclarecimento generalizada, das classes A à D".
Desafio do isolamento
A falta de água, problema recorrente no interior do Nordeste, é uma das principais causas que explicam a impossibilidade de aplicação das medidas sanitárias na população mais vulnerável, segundo Juliana. "Para essa população ainda falta também o acesso ao básico para higiene: água. Então, fica realmente difícil controlar os casos no País".
Quanto às soluções para que o Brasil consiga conter o avanço da doença, a médica afirma que o distanciamento social é a medida mais eficiente contra o vírus. "Já vimos em outros países que passaram pelo pico de contaminação que a única forma de fazê-lo é dando suporte ao distanciamento social".
No entanto, Juliana revela ser difícil manter um bom nível de isolamento num País desigual socialmente. "Para a grande maioria, sem trabalho não há alimento. Então, fica claro que a morte é iminente nessa fatia de brasileiros. Ou pela fome, ou pela Covid-19".
"Há a real impossibilidade de ter essas medidas efetivadas, como as pessoas em situação de rua e aquelas que vivem em moradias lotadas, onde o isolamento é impossível". Para ela, a solução é a união da sociedade, dos políticos ao setor produtivo. "Caso contrário, nossa recuperação será extremamente dolorosa para todos".
Divulgação
OMinistério da Saúde recuou e anunciou, ontem (8), que vai manter disponíveis os números acumulados de mortes e de casos confirmados da Covid-19. No entanto, a Pasta também confirmou que vai promover uma mudança na divulgação, dando destaque para os dados efetivamente registrados nas últimas 24 horas. Os números de mortes, portanto, serão menos impactantes. Isso porque o compilado dos óbitos pela data da notificação considerava não apenas os casos das últimas 24 horas mas também as mortes anteriores, mas que ainda aguardavam a confirmação da infecção pelo novo coronavírus.
Ontem, foram registrados 679 novas mortes e 15.654 casos confirmados, nas últimas 24 horas. A Pasta informou que Santa Catarina e Alagoas não divulgaram seus dados até a conclusão do boletim.