Delegado Da Cunha agrediu e ameaçou ex-mulher de morte com tiro na cara, diz Boletim de Ocorrência

Policial e ex-esposa negam violência doméstica. Delegado está afastado do cargo

Escrito por Redação ,
Delegado da Cunha segurando metralhadora perto de viatura
Legenda: Delegado teria disparado arma de fogo durante briga com agressões à ex-mulher
Foto: reprodução/Facebook

A advogada Camila Rezende da Cunha, 44 anos, sofreu ameaças de morte pelo ex-marido, o youtuber Carlos Alberto da Cunha, 43, conhecido como "Delegado Da Cunha". "Olha bem no meu olho. Se você pedir para eu falar baixo mais uma vez, eu vou dar um tiro no meio da sua testa", disse o marido, segundo Boletim de Ocorrência (BO) registrado em dezembro de 2016 pela mulher. As informações são da Folha de S. Paulo.

A ameaça do então marido ocorreu em um restaurante, na frente da filha do casal, com três anos à época, de acordo com relato que consta no documento, feito após Camila buscar a Polícia Civil.

O policial ganhou fama nas redes sociais com a divulgação de vídeos de operações, mas era desconhecido naquele tempo. Atualmente afastado do cargo, Da Cunha afirma ser perseguido pela cúpula da Corporação — entre outros motivos, enumera, ele defende uma Polícia menos truculenta e respeita todas as pessoas.

O delegado também pontua a intenção de ser candidato ao cargo de governador de São Paulo.

Ameaça não foi única

Ainda conforme o BO registrado por Camila, aquela vez não tinha sido a única em que Da Cunha proferira ameaças. Em razão disso, a mulher solicitava medidas protetivas urgentes.

No documento, ela dizia temer por sua integridade física porque o então marido fizera novas ameaças durante a madrugada, na frente da casa da sogra dele.

“Por volta das cinco horas [da madrugada], o autor lá esteve [em frente à casa da mãe de Camila] e, aos gritos, pedia para que a vítima saísse para conversar com ele. Telefonou inúmeras vezes para o celular da vítima, enviou inúmeras mensagens, inclusive áudios, ameaçando-a, dizendo que ela deveria sumir, porque ele iria matá-la”, diz trecho do BO de ameaça, injúria e perturbação ao sossego alheio.

Procurada pela Folha, Camila negou, na segunda-feira (16), ter sofrido violência física ou psicológica do ex-marido — de acordo com ela, houve brigas normais de casal. Ela afirmou ainda se arrepender de ter registrado BO contra ele, de quem afirma continuar amiga.

Veja também

Em dezembro de 2016, 12 dias após o registro do BO, a advogada foi ouvida pela Corregedoria da Polícia Civil. Na ocasião, confirmou "integralmente os fatos narrados" no documento, incluindo nunca ter sido agredida fisicamente pelo delegado.

Processo menciona agressões

Um processo judicial de 2014, entretanto, põe os atos de Da Cunha em dúvida mais uma vez. Na ação, que tramitou em São Paulo, vizinhos do casal presenciaram o policial agredindo a advogada no meio da rua, no bairro de Aparecida, em Santos. O delegado teria disparado uma arma de fogo durante a briga.

Bianca Laino, moradora da área, disse ter ouvido gritos pouco após as 23h. Ao olhar pela janela, ela viu Da Cunha agredir Camila "com vários socos, sem a mulher reagir". Ainda conforme a testemunha, o agressor xingava ameaçando-a em seguida: "Entra no carro que vou te matar", descreveu a vizinha em depoimento.

Montagem com imagens do Delegado Da cunha com arma e operação e sem blusa numa praia
Legenda: Policial ficou famoso após divulgar vídeos de operações na web
Foto: reprodução/Facebook

Outra testemunha, Monise Inque, afirmou à Justiça ter se assustado com a cena e ouvido um disparo de arma de fogo ao se afastar do local. De acordo com ela, Camila foi agredida com socos.

Chegada da Polícia

Policiais militares foram acionados para o local, chegando a tempo de impedir que Camila entrasse no veículo. Segundo a Corporação, Da Cunha tinha colocado a arma, uma pistola nove milímetros, no chão, apresentando-se como delegado.

Detido, justificou que o tiro foi acidental, tendo ocorrido quando ele bateu a arma sobre o teto do carro durante a discussão com Camila. O argumento prevaleceu na Justiça, e o delegado foi absolvido.

A punição de Da Cunha pelo caso de setembro de 2014 foi uma advertência, mas a decisão da pena acabou prescrevendo. O caso de 2016 não teve punição. A Secretaria de Segurança Pública paulista (SSP-SP) informou, quando procurada, que os dois casos foram apurados, mas não detalhou os desfechos das investigações.

Delegado nega acusações

À Folha, o delegado negou ter praticado violência doméstica contra a ex-esposa. “Não existe nem existiu qualquer ocorrência instaurada contra minha pessoa por violência doméstica praticada contra minha ex-mulher, o que jamais aconteceu", frisou.

Da Cunha apontou também que até as versões das testemunhas foram inventadas, por motivos desconhecidos. "Assevero que não sei porque as pessoas mencionadas na matéria fizeram tais acusações, que não passam de invenções. Tanto que não foram levadas em consideração na decisão judicial”

Camila explicou, em mensagem à Folha, a ameaça de 2016 de forma diferente da registrada no BO e relatada à Corregedoria dias depois. Sobre as supostas agressões de 2014, pontuou que os testemunhos "não passam de delírios" de quem quer prejudicar o ex-marido dela, reiterando nunca ter sido agredida.

“Vocês estão tentando denegrir a imagem de um homem íntegro, que é um ser humano excepcional, além de ser um pai exemplar", escreveu a advogada.

Assuntos Relacionados