Com novo recorde, Brasil segue como 2º em óbitos ao dia no mundo

Depois dos EUA, o país com o maior número de mortes pela Covid-19 em um único dia é o Brasil, que ontem ampliou o recorde com 881 novos registros de falecimentos pela doença. Opas vê situação do País com "preocupação"

Escrito por Redação , pais@svm.com.br
Legenda: Em Brasília, manifestação de enfermeiros lembra colegas mortos durante a pandemia do novo coronavírus
Foto: Foto: AFP

O Brasil atingiu, ontem, novamente, o posto de segundo país do mundo com o maior número de mortes registradas em um único dia pela Covid-19, atrás apenas dos EUA, campeão global em número de contágios e óbitos.

Foram 881 novas mortes confirmadas pelo Ministério da Saúde, em seu boletim. O novo recorde diário eleva para 12.400 o total de vítimas do novo coronavírus, desde o primeiro registro de morte, no último dia 17 de março. O número de infectados já supera 177 mil no País.

No fim do mês passado, o ministro da Saúde, Nelson Teish, projetou a possibilidade de o Brasil notificar cerca de 1.000 óbitos em um único dia. O Sudeste segue como a região mais afetada, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro. No Nordeste, os destaques são o Ceará e Pernambuco. Na região Norte, a situação no Amazonas é crítica.

Paciente zero

O Ministério da Saúde identificou 39 casos suspeitos de Covid-19 que teriam surgido no País antes do dia 26 de fevereiro, data em que foi confirmado oficialmente o primeiro caso da doença no País. A informação foi dada, ontem, pela pelo secretário substituto de Vigilância em Saúde, Eduardo Macário. Segundo ele, a Pasta enviou ofícios aos estados para investigar esses casos.

Esta é a segunda vez que o Ministério da Saúde admite a possibilidade de que os primeiros casos da Covid-19 tenham surgido no Brasil antes do dia 26 de fevereiro, quando o caso de um homem de 61 anos de idade em São Paulo se tornou o primeiro caso oficial da doença no país.

De acordo com Macário, dos 39 casos suspeitos, 25 teriam ocorrido em São Paulo e o restante em outros oito estados. Ele afirmou que, antes de o ministério confirmar oficialmente que esses casos foram, de fato, os primeiros do país, as secretarias estaduais de saúde terão que fazer investigações locais. Na segunda-feira, um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicou a existência de casos da doença em janeiro, antes da confirmação oficial do primeiro caso da Covid -19 no País.

Preocupação

A Organização Pan-americana da Saúde (Opas) afirmou, ontem, que vê com "preocupação" a propagação da Covid-19 no Brasil e pediu às autoridades que continuem implementando medidas para conter o avanço da pandemia.

"Certamente, o aumento de casos nos últimos dias é motivo de preocupação e o pedido é que continuem fortalecendo as medidas e ações recomendadas pela OMS e pela OPAS", disse Marcos Espinal, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis e Análise de Saúde da organização regional, ao responder à pergunta de se a rápida disseminação da doença no Brasil é um risco para a região.

Em videoconferência com jornalistas, Espinal destacou o alto número de casos no Brasil, um país com "um vasto território" e onde "está ocorrendo a transmissão comunitária", lembrando que o fato de ter fronteiras "muito porosas" faz com que seus vizinhos também devam agir.

Espinal ressaltou que o Brasil é uma república federativa onde os estados têm prerrogativas para tomar decisões em questões de saúde e o estão fazendo. "Vemos que os governadores no Brasil estão tomando medidas e é importante que as medidas continuem sendo implementadas e reforçando em um país grande, amplo, onde nem tudo é igual".

Já a diretora da OPAS, Carissa Etienne, alertou para a pressão que a Covid-19 representa para o sistema de saúde de grandes centros urbanos da América do Sul, entre os quais mencionou o Rio de Janeiro.

"Também estamos presenciando um impacto similar da Covid-19 nas grandes cidades da bacia do Amazonas", acrescentou.

Corrupção torna crise desafiante

O quadro dramático na saúde do Amazonas, onde o novo coronavírus já matou mais de mil pessoas até ontem, tem também motivos anteriores à pandemia. A Covid-19 atingiu um Estado com um sistema fragilizado por má gestão e desvios milionários de verbas, que ocorrem há vários governos, disse o presidente do Conselho de Medicina local, José Bernardes Sobrinho.

Desde 2016, o Operação Maus Caminhos, do Ministério Público Federal (MPF), investiga o mau uso de verbas.