Biografia revela que Marisa cogitou se divorciar de Lula

O autor da biografia, Camilo Vannuchi, é filho de Paulo Vannuchi, petista desde os primórdios e que entre 2005 e 2010 foi ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos

Escrito por Agência Folha ,
Legenda: Paulo Vannuchi conta em livro que Marisa Letícia tinha ciúmes do ex-presidente
Foto: Agência Brasil

Se Guilherme Boulos, líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), ler a biografia "Marisa Letícia Lula da Silva", sobre a esposa do ex-presidente petista morta em 2017, provavelmente terá uma surpresa. Lula, uma das referências de Boulos na vida pública, já mandou policiais expulsarem uma família de sem-teto de um imóvel desocupado. O caso se deu em 1975, segundo o livro escrito pelo jornalista Camilo Vannuchi. A casa em questão havia sido comprada por Lula, ainda sindicalista. Quando ele e Marisa se mudaram para a residência, descobriram uma família ocupando o lugar.

"Porra, tanto imóvel vazio por aí, tanto prédio desocupado, e os caras tinham que entrar justamente na minha casa?", disse Lula, segundo Camilo Vannuchi. "Você tá na única casa que eu tenho. E eu tenho que mudar para cá", disse Lula, segundo o livro. A resposta do sem-teto foi que eles não arredariam pé dali. A solução encontrada pelo então sindicalista foi chamar um cunhado, policial militar, para dar jeito na situação.

O policial, por sua vez, recorreu a um sargento, seu superior, que se ofereceu para "dar um susto" nos sem-teto – entre eles havia uma mulher grávida. Lula topou, contanto que não houvesse violência, segundo o livro. "Vocês têm quinze minutos para sair daqui. Se não saírem, vou colocar toda a tralha de vocês na rua e tocar fogo. Com vocês junto!", teria dito o sargento, segundo o livro. Em meia hora o imóvel foi desocupado, relata o jornalista.

Camilo Vannuchi não faz segredo sobre sua proximidade com o PT e a simpatia pela biografada. Ele é filho de Paulo Vannuchi, petista desde os primórdios e que entre 2005 e 2010 foi ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos.

No epílogo, o autor relata que seu primeiro contato com a ex-primeira-dama aconteceu em 1986, em São Bernardo do Campo (SP), quando ele tinha 7 anos. Seu pai, então assessor do Sindicato dos Metalúrgicos, estava envolvido na campanha de Lula para deputado federal. Camilo passou a noite sob os cuidados de Marisa, brincando com seus filhos. A proximidade com a família possibilitou acesso a documentos, fotos e histórias pouco conhecidas e inéditas sobre Marisa e o ex-presidente.

O livro relata com riqueza de detalhes episódios espinhosos da vida do casal, como notícias de adultérios que teriam sido cometidos por Lula. O primeiro, com a enfermeira Miriam Cordeiro. Recém-casado com Marisa, Lula teve uma relação extraconjugal que resultou no nascimento da filha Lurian.

O jornalista conta que o petista já se relacionava com Miriam havia tempo, mas teria parado de visitar a enfermeira depois de assumir o relacionamento com Marisa. Um dia, porém, após encontrar Miriam na casa de sua irmã Maria, Lula deu uma carona para a enfermeira. Foi quando engravidou Miriam.

O petista demorou a contar para Marisa sobre a gravidez. Quando a notícia veio, ela ficou chateada, mas não rompeu o relacionamento e admitiu que o petista assumisse a filha fora do casamento, contanto que ele evitasse contato com a mãe da menina.

Em 1989, durante a campanha presidencial, Miriam deu entrevista à campanha de Fernando Collor de Mello, que disputava o segundo turno contra o petista, dizendo que Lula teria oferecido dinheiro para que ela abortasse. Lula sempre negou a história, mas acabou perdendo a eleição.

Camilo descreve Marisa como uma mulher atormentada pelo ciúme, sempre desconfiada da traição do marido. Ainda no início do casamento ela suspeitou de um disco de Raul Seixas que Lula havia levado para casa. O marido dizia que havia emprestado de um amigo chamado Devanir. Ela não acreditou.

"Num acesso de fúria, Marisa pegou e quebrou o disco. Ao longo de semanas, Lula ficou quieto, envergonhado. Não tinha coragem de contar a verdade pro Devanir", relata o jornalista. Em outra ocasião ela se irritou ao ver uma foto de Lula no jornal Folha de S.Paulo sendo beijado por uma militante.

Camilo diz que conforme Lula cresceu no noticiário político, aumentou a desconfiança. "Uma vez, preocupada com a demora do marido, Marisa colocou os filhos para dormir e se sentou ao lado do telefone", diz o jornalista. "Passava das duas da madrugada quando Lula chegou, de carona com uma jovem."

O episódio quase resultou em divórcio, segundo o autor. "Dias depois, Marisa entrou sozinha no escritório de um advogado de sua confiança", diz Camilo. "Quero me separar do Lula", teria dito Marisa. O advogado, segundo o autor, recusou o caso. Disse que não trabalhava com separação e a demoveu da ideia do divórcio.

Em 2012, uma operação da Polícia Federal apontou que uma funcionária da Presidência da República chamada Rosemary Noronha havia se aproveitado do cargo para fazer negócios particulares. Junto com a denúncia, foi dito que ela seria amante do petista. Rosemary acompanhava o ex-presidente nas viagens oficiais em que Marisa não ia. A ex-primeira-dama nunca deu declaração sobre o caso, mas, segundo o autor, acreditou que o marido a traía.

Camilo não entrevistou Marisa. O projeto já havia sido apresentado a ela, mas antes da primeira entrevista Marisa sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) e morreu aos 66 anos. O jornalista, porém, conversou com Lula, seus filhos e uma centena de outras pessoas.