Tatuador que usou foto de criança negra sem autorização começa a cobrir desenho

Primeira sessão foi na última sexta-feira (16) e uma segunda está marcada para janeiro

Neto Coutinho, que tatuou a imagem de Ayo, filho de quatro anos de idade de Preta Lagbara, na pele de outra pessoa, sem autorização dos pais e do profissional responsável pela foto, começou a cobrir a tatuagem. O anúncio foi feito em sua conta no Instagram. "Como eu havia me comprometido", escreveu.

A primeira sessão para cobrir o rosto da criança foi feita, segundo Coutinho, na última sexta-feira (16). Uma nova sessão já está marcada para o dia 29 de janeiro de 2023 para continuar o processo após a cicatrização da pele.

"A pessoa que serviu de tela naquele evento, em face das graves ameaças que foram feitas em diversos comentários nas redes sociais, teme seriamente por sua integridade física", contou o tatuador, acrescentando que a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) não o autoriza a divulgar os dados do cliente.

Apesar disso, Coutinho criticou uma suposta demora em receber retorno de Preta e de seus representantes jurídicos. "Meu novo advogado enviou uma mensagem ao advogado da mãe da criança e do fotógrafo, no dia 17, que ainda não foi respondida, o que causa perplexidade e contradiz o discurso 'da busca rápida e consensual da questão'".

Há alguns dias, porém, Preta disse, em suas próprias redes sociais, que Coutinho a procurou para pedir desculpas a ela e ao Ayo e que ela exigiu estar presente no momento da remoção da tatuagem, ainda que por chamada de vídeo. No entanto, a proposta não teria sido aceita pelo tatuador.

"De acordo com a nota publicada [por Coutinho], a remoção começou a ser feita no dia 16, mas o advogado [dele] entra em contato com o meu advogado no dia 17. Por que eu não posso acompanhar? Por que não posso ter a certeza de que é o rosto do meu filho que estava lá? Por que não posso ter a certeza de que a remoção foi feita?", contrapõe Preta. "Acreditei que as pessoas pudessem ser honestas e honradas", lamentou ela.

Entenda o caso

Preta, que mora na zona norte do Rio de Janeiro, soube pelas redes sociais que o rosto de Ayo, seu filho de quatro anos, havia sido tatuado em uma pessoa desconhecida. A tatuagem de Coutinho chegou a vencer dois prêmios na convenção 'Tattoo Week', realizada em outubro, em São Paulo. 

Ao G1, Preta disse que ficou "muito assustada". "Ele não teve cuidado de saber sobre meu filho. Uma mãe nem ser consultada para saber se podia tatuar na pele de uma pessoa a foto do filho dela? Não existe isso. É absurdo", disse. "Imediatamente entrei em contato com o tatuador. Comentei na foto que ele publicou e pedi o contato, mas ele não me respondeu por um bom tempo", contou a mãe.

Foi aí que ela decidiu pedir ajuda ao fotógrafo Ronald Santos Cruz, responsável pela imagem de Ayo. "Ele [Ronald] compartilhou, achou um absurdo também, e aí repercutiu muito. Com a repercussão, o tatuador veio me procurar falando que achou a foto no Pinterest, achou bonita e tatuou durante o evento", disse.