Trump debateu FBI com russos, diz jornal
Presidente falou também aos russos que James Comey, o chefe da principal polícia federal americana, era um "maluco"
O presidente dos EUA, Donald Trump, disse ao chanceler russo, Sergei Lavrov, em encontro no Salão Oval da Casa Branca no último dia 10, que a demissão do diretor do FBI na véspera tirara uma "grande pressão" que ele sofria "por causa da Rússia", informou o "New York Times".
Trump disse também aos russos que James Comey, o chefe da principal polícia federal americana, era um "maluco", segundo ata da reunião à qual o "Times" afirma ter tido acesso por meio de um funcionário do governo que leu o documento ao telefone.
"Acabei de demitir o chefe do FBI. Ele era louco, um maluco", disse Trump, segundo o documento. "Eu estava sob grande pressão por causa da Rússia. Isso agora acabou."
O presidente afirmou ainda a Lavrov que não estava sob investigação do FBI.
Em resposta, o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, afirmou em nota nesta sexta (19) que Comey pusera "pressão desnecessária" na capacidade do presidente de conduzir contatos diplomáticos com a Rússia a respeito da Síria, da Ucrânia e da milícia terrorista Estado Islâmico.
"Ao fazer estardalhaço e politizar a investigação das ações da Rússia, James Comey criou pressão desnecessária sobre nossa capacidade de nos relacionarmos e negociarmos com a Rússia", disse. "A investigação seguiria, a demissão de Comey não acabaria com ela."
Obstrução
Comey anunciou nesta sexta que deporá em público à Comissão de Inteligência do Senado sobre o caso. Não foi anunciada data para ouvi-lo.
Nesta semana, foi criada ainda uma comissão especial para investigar as relações da Casa Branca com Moscou.
Se comprovado, o teor da conversa revelada pelo "Times" indica que o motivo da demissão foi a atitude de Comey ao investigar o possível elo de assessores de Trump com Moscou na campanha.
A justificativa da Casa Branca para a saída do chefe do FBI, no dia 9, foi a forma como ele conduziu o inquérito sobre o uso de e-mails pela ex-chanceler Hillary Clinton, que disputara a Presidência com Trump.
Na carta em que recomenda a demissão do então diretor do FBI, o vice-secretário da Justiça, Rod Rosenstein, citou a decisão tomada por Comey, em julho de 2016, de não recomendar o indiciamento da democrata.
Comey, porém, também supervisionava a investigação sobre a possível influência de Moscou nas eleições de 2016.
Na carta de demissão, o presidente sugere que essa questão pesou na decisão. "Mesmo que eu aprecie muito o fato de você ter me informado, em três ocasiões distintas, que eu não sou investigado, concordo com a avaliação do Departamento da Justiça de que você não está apto a liderar efetivamente o bureau (FBI)", escreveu.
Trump também disse em entrevista a uma TV que estava pensando "nessa coisa da Rússia" ao demitir Comey.
No mesmo encontro, segundo o "Washinton Post", ele teria revelado a Lavrov informação sigilosa sobre uma potencial ameaça do Estado Islâmico. Segundo o jornal, o chanceler e o embaixador russo, Sergey Kislyak, foram informados pelo presidente de "detalhes de uma ameaça terrorista do EI relacionada ao uso de laptops em aviões".
A informação teria sido passada aos EUA pela inteligência de Israel e repassada por Trump aos russos sem aval israelense, podendo por em risco a fonte –o que a Casa Branca nega ter ocorrido.
As duas medidas (a demissão de Comey no meio de uma investigação daninha à Casa Branca e a revelação de segredos aos russos) alimentaram o debate sobre impeachment, sob alegação de obstruir a Justiça no caso do FBI.