Suspeita de fraude em contagem de votos deixa Bolívia sob suspense

Evo Morales, que busca o quarto mandato como presidente, enfrenta um clima de desconfiança sobre o processo eleitoral do último domingo. Observadores internacionais são convocados para acompanhar a apuração

Escrito por Redação , mundo@verdesmares.com.br
Legenda: Morales, ex-líder dos produtores de folha de coca, governa desde 2006
Foto: Foto: AFP

A Bolívia mergulhou, ontem, em uma crise política, um dia após a eleição presidencial. Bastião da esquerda latina, o país é governado há quase 14 anos por Evo Morales, que foi um parceiro importante do Brasil na era petista. Só que o quarto mandato almejado pelo líder boliviano está sob risco. O adversário, o centrista Carlos Mesa, conseguiu votos suficientes para forçar um segundo turno. Só que crescem as suspeitas de fraudes no pleito do domingo, o que provoca incertezas sobre os desdobramentos do processo eleitoral.

"Os Estados Unidos observam de perto o primeiro turno das eleições na Bolívia, especialmente a repentina interrupção da contagem eletrônica dos votos. Autoridades eleitorais devem restaurar a credibilidade e transparência do processo já, para que seja respeitada a vontade do povo", escreveu no Twitter o subsecretário interino de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Michael Kozak.

Para impedir uma escalada no clima de desconfiança, o chanceler fez um convite público aos embaixadores da Argentina e do Brasil e ao gerente de negócios dos Estados Unidos, além de organizações internacionais, "para continuar o acompanhamento da contagem de votos".

Os primeiros movimentos de protesto contra o tribunal eleitoral ocorreram na cidade de Potosí (sudoeste), onde organizações não governamentais questionam a transparência do pleito. Manifestações ocorreram também em La Paz (oeste) e Santa Cruz (leste).

Análises

Morales, de 59 anos, que conta com os votos das zonas rurais e do exterior para vencer e tomar posse para mais um mandato em 22 de janeiro de 2020, cantou vitória na noite de domingo, sem fazer referência a um eventual segundo turno. "O povo boliviano decidiu continuar com o processo de mudança (política oficial)", disse num pronunciamento na sede do governo em La Paz.

Mas para ganhar no primeiro turno, Morales precisa de 40% dos votos válidos e ter uma vantagem de, pelo menos, 10 pontos sobre Mesa.

O analista Iván Arias considerou garantido o segundo turno, o que seria algo inédito na Bolívia. O analista político Carlos Borth seguiu a mesma linha e disse que com 84% da urnas "abriria o segundo turno", mas recordou que será importante contar os votos nas províncias mais remotas e no exterior, "onde vai ter um peso muito grande os resultados da Argentina".

Em um cenário de polarização, o segundo turno se transformaria em uma espécie de referendo para Morales sobre seus quase 14 anos de governo, afirmou Mesa, durante a coletiva de imprensa em que classificou de "triunfo inquestionável" sua participação no segundo turno.

"Se houver um segundo turno, isso se transforma em referendo", disse Gaspard Estrada, especialista em América Latina da universidade de Ciências Políticas de Paris.

Nesse caso, "a Bolívia terá que escolher entre duas opções" e "o país sabe perfeitamente qual é o caminho da construção democrática", afirmou Mesa.

"Essa será uma eleição na qual está em jogo o destino da Bolívia", disse o ex-presidente, de 66 anos, que governou o país de 2003 a 2005. Caso ocorra uma vitória de Morales em 1º turno, alguns setores da oposição pretendem convocar uma "rebelião".

Data do 2º turno

Na eleição presidencial da Bolívia, é necessário alcançar 50% dos votos mais um, ou 40%, com dez pontos percentuais de diferença com relação ao segundo colocado na disputa, para obter vitória já no primeiro turno. Caso haja segundo turno, a votação será realizada em 15 de dezembro. Evo Morales está no poder desde 22 de janeiro de 2006, posse do primeiro mandato presidencial.