A aliança de centro do presidente francês, Emmanuel Macron, perdeu, neste domingo (19), a maioria absoluta no Parlamento, diante do avanço da frente de esquerda e da extrema direita nas eleições legislativas. Segundo as projeções do instituto Elabe, a aliança "Juntos!", de Macron, obteria entre 230 e 245 assentos na Assembleia Nacional (Câmara baixa). A maioria absoluta é de 289 assentos.
A Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes, esquerda), teria entre 150 e 160, e o Reagrupamento Nacional (RN, extrema direita), de Marine Le Pen, de 85 a 90 cadeiras.
A participação era chave no segundo turno, mas segundo o ministério do Interior, 53,08% dos 48,7 milhões de franceses convocados às urnas não foram votar.
A primeira-ministra da França, Élisabeth Borne considerou um "risco" para o país estes resultados e prometeu buscar a partir da segunda-feira "uma maioria de ação". "Não há alternativa a esta união para garantir a estabilidade" do país, disse.
Necessidade de acordos
Embora a negociação seja comum na maior parte das democracias, a ausência de uma maioria absoluta no Parlamento pode virar uma dor de cabeça para o Governo.
Para alcançar os 289 assentos, o partido Os Republicanos (LR, direita) e seus aliados da UDI (67 a 71 assentos, segundo as projeções) poderiam se tornar chaves para o presidente de centro. O presidente do LR, Christian Jacob, assegurou que serão oposição descartando um pacto de governo.
A esquerda apresentou as legislativas como um "terceiro turno" das presidenciais, ao considerar que os franceses reelegeram Macron em 24 de abril para impedir a chegada ao poder de sua adversária da extrema direita Marine Le Pen, e não por suas ideias.
Mesmo o presidente perdendo a maioria absoluta, a primeira frente de esquerda em 25 anos - esquerda radical, ecologistas, comunistas e socialistas - está longe do objetivo de vencer e impor Mélenchon como primeiro-ministro.
"É uma situação totalmente inesperada, inédita, a derrota do partido presidencial é total e não aparece nenhuma maioria", assegurou Melénchon, que acusou a situação de ter reforçado a extrema direita.
O partido ultradireitista RN, embora na terceira posição, é um dos principais vencedores destas eleições, ao superar com folga os oito deputados de 2017 e conseguir, assim, formar um grupo parlamentar próprio pela primeira vez desde 1986.
"Vamos encarnar uma oposição firme, sem conivência, responsável, respeitosa das instituições", disse Le Pen de seu bastião em Hénin-Beaumont (norte), onde revalidou seu assento, vangloriando-se por ter feito de Macron um "presidente minoritário".
Este pleito encerra um ciclo de votações crucial para o rumo da França nos próximos cinco anos. O próximo compromisso eleitoral serão as eleições ao Parlamento Europeu em 2024, dois anos nos quais os partidos poderão consolidar a recomposição em curso.