Irã estende horário de eleições em que conservadores são favoritos

Eleitores estão ressentidos com presidente moderado Hassan Rohani devido à crise econômica e casos de corrupção

Escrito por AFP ,
Legenda: Eleitores votam em Teerã, capital iraniana
Foto: Foto: AFP

O Irã estendeu nesta sexta-feira o horário para o encerramento das eleições legislativas que têm os conservadores como favoritos, uma consequência do ressentimento de boa parte da população com o presidente moderado Hassan Rohani, sobretudo pela crise econômica e denúncias de corrupção.

Segundo as últimas informações do ministério do Interior, a taxa de participação às 15h00 (8h30 de Brasília) era de 19%.

Às 18h00, quando os colégios eleitorais deveriam suspender a votação, as autoridades eleitorais anunciaram uma prorrogação, até às 20h00 (13h30 de Brasília). Depois adiaram o encerramento para às 22h00. 

O guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, que foi um dos primeiros a depositar seu voto, reiterou o apelo para que os quase 58 milhões de eleitores participem no processo, com o objetivo de "garantir o interesse nacional".

Imagens transmitidas pela televisão mostraram eleitores fazendo fila em cerca de 20 cidades.

No sul de Teerã, onde os conservadores têm uma sólida base de apoio, as filas eram grandes, testemunhou a AFP. Nos bairros do norte, menos eleitores eram vistos.

A 11ª legislatura que sairá das urnas desde a revolução islâmica de 1979 começará em um contexto de tensão elevada entre Teerã e Washington e de grande recessão no país.

As eleições acontecem um mês e meio depois que as Forças Armadas iranianas derrubaram "por engano" um avião ucraniano, uma tragédia que aumentou a desconfiança a respeito do governo.

Inicialmente as autoridades civis negaram qualquer relação com a queda da aeronave, mas três dias depois da tragédia o Estado-Maior admitiu sua responsabilidade.

O reconhecimento tardio provocou manifestações contra os governantes, quebrando a aparente unidade nacional manifestada dias antes no funeral do general iraniano Qasem Soleimani, morto por um ataque americano no Iraque em 3 de janeiro. 

Em Teerã, muitos moradores afirmaram à AFP que se negam a votar.

Amir Mohtasham, 38 anos, desempregado há dois anos, resume o pensamento: "As eleições são algo em vão. Não confio nos conservadores nem nos reformistas".

Como a justiça eleitoral vetou milhares de candidaturas de reformistas e moderados, a votação ficou praticamente reduzida a um duelo entre conservadores e ultraconservadores, o que pode provocar um elevado índice de abstenção.

Dependendo do peso dos ultraconservadores na futura Assembleia, a política externa de abertura, aplicada por Rohani desde sua eleição em 2013, pode ter mudanças.

Os ultraconservadores se opõem a qualquer negociação com o Ocidente e acusam Rohani de ser passivo ante as ameaças do presidente americano, Donald Trump.

Além disso, eles desejam sair do acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano assinado em 2015, a grande conquista de Rohani, ameaçado desde que Trump se retirou unilateralmente do pacto em 2018.

Rohani esperava que o acordo de Viena iniciasse uma era de prosperidade para o Irã, acabando com o isolamento internacional do país.

Porém, a retomada das sanções americanas após a decisão de Trump levou o país à recessão. 

Alguns reformistas alertaram para uma possível vitória dos ultraconservadores em caso de abstenção elevada. 

Desde quarta-feira, a televisão exibe apelos de líderes políticos e de aiatolás para a votação.