Estudantes e deputados se somam ao movimento de protesto no Iraque

Desde quinta-feira (24), 63 pessoas morreram nas operações de dispersão e ataques noturnos contra sedes de partidos e de grupos armados

Escrito por Agence France-Presse ,
Legenda: Bagdá e a região sul do país, xiita, são palcos desde quinta-feira (24) de um segundo capítulo desse movimento de contestação, inédito por sua natureza espontânea
Foto: AFP

Os estudantes tomaram as ruas do Iraque, neste domingo, para aumentar a pressão sobre o governo, mergulhado numa disputa com o principal bloco do Parlamento, que iniciou uma paralisação depois que mais de 200 pessoas morreram nos protestos do último mês.

Bagdá e a região sul do país, xiita, são palcos desde quinta-feira (24) de um segundo capítulo desse movimento de contestação, inédito por sua natureza espontânea. Nesta manhã, a Praça Tahrir, o epicentro dos protestos, parecia um acampamento organizado para durar.

"Queremos a queda do regime!", disse um manifestante à AFP, não muito longe das tendas e postos de distribuição de alimentos e proteção contra bombas de gás lacrimogêneo das forças de segurança.

Desde quinta-feira, 63 pessoas morreram nas operações de dispersão e ataques noturnos contra sedes de partidos e de grupos armados. Esse balanço se soma às 157 pessoas que morreram entre 1 e 6 de outubro, quase todos os manifestantes.

Durante o primeiro capítulo dos protestos, a conexão à Internet foi cortada e atiradores de elite semearam terror na capital e no sul do país. Na quinta-feira à noite, os manifestantes voltaram às ruas, mas numa atmosfera diferente.

Não houve tiros de bala de verdade pelas forças de segurança, e os manifestantes asseguraram protagonizar um movimento "pacífico", o que se viu reforçado neste domingo com a participação de jovens estudantes e universitários.

À noite, no entanto, a violência se intensificou no sul. Dezenas de sedes partidárias, escritórios de deputados e, acima de tudo, sedes de facções armadas, foram saqueadas e queimadas, incluindo o quartel-general das poderosas Unidades de Mobilização Popular, uma coalizão de paramilitares dominada por milícias xiitas pró-Irã, aliadas do governo.

A ONU denunciou que "entidades armadas tentam comprometer a estabilidade do Iraque" e "sabotar as manifestações pacíficas".  

Destruídos psicologicamente 
Na Praça Tahrir, as promessas de reformas sociais do governo não acalmam os manifestantes, em um país onde uma em cada cinco pessoas vive abaixo da linha da pobreza.

"Nossa geração foi destruída psicologicamente, mas estamos dispostos a fazê-lo se isso puder dar uma vida melhor a nossos filhos", afirma uma parteira, que não quis se identificar.

O movimento exige uma nova Constituição e a renovação total da classe política, que não mudou em 16 anos, período em que a corrupção desviou oficialmente 410 bilhões de euros (cerca de US$ 455 bilhões) dos cofres públicos.

E enquanto a pressão nas ruas não diminui, no Parlamento a disputa endurece. No sábado (26) à noite, os deputados do turbulento líder xiita Moqtada Sadr, que exige a renúncia do governo que ele ajudou a formar há um ano, começaram uma ação de paralisia no Parlamento. Anunciaram que passariam à oposição, fazendo a frágil maioria do governo ir pelos ares.

A Câmara ficou dividida: de um lado, a aliança "A marcha por reformas", de Moqtada Sadr e os comunistas; e, do outro, a lista de ex-combatentes das Forças de Mobilização Popular, que reafirmaram sua "confiança" no primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi, um independente.

Esta manhã, Salam Al Hadi, deputado de "A Marcha por Reformas", disse à AFP que "a manifestação continuará até que as reformas prometidas pelo primeiro-ministro estejam em andamento".