Esquerda e centro-direita disputarão segundo turno no Uruguai

A projeção da consultoria Cifra dá a Martínez 37% dos votos e a Lacalle Pou, 29%, enquanto a Factum dá 39,9% à governista Frente Ampla e 29,1% ao Partido Nacional

Escrito por AFP ,
Legenda: Da esquerda para a direita: Luis Lacalle Pou e Daniel Martínez
Foto: AFP

O candidato presidencial da governista Frente Ampla (esquerda), Daniel Martínez, e o ex-senador do Partido Nacional (centro-direita) Luis Lacalle Pou disputarão a Presidência do Uruguai no segundo turno, em 24 de novembro, após a votação deste domingo (27), segundo resultados da boca de urna.

A projeção da consultoria Cifra dá a Martínez 37% dos votos e a Lacalle Pou, 29%, enquanto a Factum dá 39,9% à governista Frente Ampla e 29,1% ao Partido Nacional. 

Depois de conhecidos os resultados, Lacalle Pou anunciou "futuros acordos" e "entendimentos" com outros partidos de oposição para um governo "multicolorido encabeçado pelo Partido Nacional".

Com vistas ao segundo turno em 24 de novembro, o favorito opositor recebeu na noite de domingo os apoios cruciais do liberal Ernesto Talvi, do Partido Colorado, que ficou em terceiro, com 12% a 13% dos votos, e do direitista e ex-comandante em chefe do Exército Guido Manini Rios, do Cabildo Abierto, que teve de 10% a 11% dos votos, do novo Partido da Gente (centro-direita, 1%) e do social-democrata Partido Independente (1%).

"O Uruguai precisa de uma mudança, e para que esta mudança se concretize, convocamos nossos eleitores a apoiar a candidatura do doutor Lacalle Pou para liderar a coalizão com que iremos transformar o país. Faremos campanha por sua candidatura", expressou Talvi ante seus militantes.

"O Cabildo Abierto anuncia que irá apoiar no segundo turno o doutor Luis Lacalle Pou", disse, por sua vez, o militar reformado Manini Ríos. Graças a estes dois apoios, Lacalle Pou poderá construir uma nova base eleitoral para novembro, frente a uma Frente Ampla que se disse disposta a lutar para manter o poder.

A Frente Ampla, que governa desde 2005, é "a força política mais importante do Uruguai", afirmou Martínez, anunciando que iniciará um caminho "de diálogo" visando à vitória no segundo turno.

Segundo Martínez, a Frente Ampla "aposta nas certezas" e oferece "estabilidade, e não ajustes com um destino de incertezas", motivo pelo qual pediu a seus militantes "redobrar o trabalho".

Os primeiros resultados representam um duro golpe para a Frente Ampla, que perde a maioria parlamentar com a qual governou por três períodos consecutivos a partir de 2005, e deverá disputar sozinha a presidência.

Duas visões de país 
Enquanto Martínez, um engenheiro de 62 anos, propõe a continuidade das políticas da Frente Ampla, que governa desde 2005 e busca o quarto mandato, Lacalle Pou, um advogado de 46, sugere mudanças em gastos públicos, comércio e política externa.

Durante a campanha, o candidato opositor foi um duro crítico do déficit fiscal persistente do país, que nos governos da Frente Ampla chegou a 4,8% do PIB, e propôs uma série de medidas para economizar no Estado sem elevar impostos, na contramão do modus operandi atual governo.

O candidato governista, enquanto isso, não descarta nenhuma ferramenta para sanar os problemas de caixa do Uruguai, que financia seu rombo financeiro com dívida.

Enquanto Lacalle Pou classificou de "vergonha nacional" a política uruguaia de aproximação da Venezuela, e Martínez declarou à AFP que manterá totalmente a posição atual do governo da Frente Ampla, que evita condenar o regime da Nicolás Maduro em fóruns internacionais e tem uma relação muito próxima desde sempre com o chavismo.

Em seu discurso de domingo, La Calle Pou voltou a atacar as afinidades internacionais da Frente Ampla e prometeu "um governo que não perca tempo abraçando ditadores e violadores dos direitos humanos".

Martínez se diz aberto em matéria comercial, mas hesita em assinar qualquer tipo de acordo de livre-comércio, principalmente se não houver salvaguardas para o desenvolvimento local de tecnologia e as compras públicas.

Lacalle Pou indicou, por sua vez, que seguirá uma diplomacia comercial para abrir mercados e atrair investimentos estrangeiros que permitam aliviar o desemprego, de 9%, após as dificuldades do governo Vázquez para avançar em acordos aos quais sua força política se opõe.

Apesar desta situação, o Uruguai conseguiu assinar em junho, com os demais sócios do Mercosul, um acordo de livre-comercio com a União Europeia, após 20 anos de negociações.

O tema segurança nas urnas 
Além de eleger presidente e Parlamento, os uruguaios rejeitaram uma reforma constitucional que promovia a criação de uma guarda nacional que colocaria 2 mil militares nas ruas para ações de segurança, segundo resultados da boca de urna divulgados pela imprensa.

Outrora considerado um oásis de paz em uma região turbulenta, o Uruguai viu suas estatísticas de segurança se degradarem nos últimos anos. O país registrou em recorde no número de homicídios em 2018. Foram 414 crimes, uma alta de 45% em relação a 2017.