Direita de Kurz e Verdes selam acordo de governo na Áustria

Três meses depois das legislativas de 29 de setembro, vencidas pelo ex-chanceler Kurz, a Áustria terá pela primeira vez uma coalizão entre o ÖVP, peso-pesado da política nacional, e o partido ecologista, que registrou um avanço nas últimas eleições

Escrito por AFP ,
Legenda: Sebastian Kurz e Werner Kogler em coletiva de imprensa para o anúncio da coalizão
Foto: AFP

O conservador austríaco Sebastian Kurz e os Verdes selaram nesta quarta-feira (1) um acordo de coalizão que marca o retorno à chancelaria do jovem dirigente democrata cristão, que governou até maio com a extrema direita.

"Conseguimos unir o melhor dos dois mundos", declarou Kurz, líder do ÖVP, durante coletiva de imprensa em Viena ao lado de Werner Kogler, presidente do partido ecologista Die Grünen, que entrará no governo pela primeira vez.

Kogler, de 58 anos e que será vice-chanceler do novo governo chefiado por Kurz, comemorou que os dois partidos tenham conseguido "construir pontes" para "o futuro da Áustria". Após conversas "difíceis" entre dois partidos "muito diferentes", alcançou-se um "excelente" acordo de governo, disse Kurz.

Três meses depois das legislativas de 29 de setembro, vencidas pelo ex-chanceler Kurz, a Áustria terá pela primeira vez uma coalizão entre o ÖVP, peso-pesado da política nacional, e o partido ecologista, que registrou um avanço nas últimas eleições.

Este país da Europa central, com 8,9 milhões de habitantes, aparecerá ao lado de Suécia, Finlândia, Lituânia e Luxemburgo entre os países da União Europeia em que ministros ecologistas participam do governo, em um contexto em que os chamados a agir contra as mudanças climáticas são cada vez maiores.

A cooperação não é evidente: o liberal Kurz defende uma linha dura no tema da imigração, enquanto os Verdes, politicamente identificados com a esquerda, estiveram entre os mais duros opositores ao jovem dirigente de 33 anos quando ele decidiu, em dezembro de 2017, se aliar à extrema direita em seu primeiro mandato.

Esta união entre a direita conservadora e os nacionalistas foi acompanhada com atenção por uma Europa confrontada com a ascensão dos populismos, mas o governo Kurz com o FPÖ se despedaçou quando o líder da extrema direita e vice-chanceler, Heinz-Christian Strache, foi posto em xeque por um caso de corrupção conhecido como "Ibizagate".

O escândalo, que teve forte repercussão, surgiu da difusão, em maio passado, de um vídeo feito com uma câmera oculta em uma vila de Ibiza, em que Strache aparece disposto a negociar sobre mercados públicos com uma mulher que se fez passar pela sobrinha de um oligarca russo.

O escândalo provocou a ruína do governo. Obrigado a pôr um fim à sua coalizão, Kurz convocou eleições antecipadas que seu partido voltou a vencer (37,5%) e o líder da direita decidiu, então, se voltar para os ecologistas (a quarta força política, com 13,9% dos votos) para formar uma coalizão.

Os dois partidos fazem uma "aposta arriscada", levando-se em conta seus "enfoques políticos fundamentalmente diferentes", destacou o jornal Tiroler Zeitung.

Os Verdes serão "parceiros de coalizão mais exigentes que os divertidos de Ibiza", previu o tabloide Kronen Zeitung, estimando que "a perda de um certo conforto é um preço que Sebastian Kurz deve pagar para manter o poder".

Para o chefe dos conservadores se trata de uma "verdadeira acrobacia política" e "terá que andar na ponta dos pés" para não perder a margem de seu eleitoral conquistado às custas da extrema direita, comentou à AFP o cientista político Thomas Hofer.