Crise na Rússia acaba em banho de sangue

Escrito por Redação ,
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Foto: AFP
Beslan, Rússia - Acabou em tragédia o seqüestro de centenas de pessoas (em sua maioria crianças), na escola de Beslan, na Ossétia do Norte - república (região) russa do Cáusaco. Mais de 200 reféns morreram (segundo dados oficiais) e 700 ficaram feridos (259 crianças) depois que tropas de elite russas invadiram o local quando parte do telhado da escola desabou sob o impacto de explosões.

“Não tínhamos planos de invadir a escola, mas fomos obrigados a isso para defender os reféns”, argumentou Valery Andréyev, chefe do FSB (Serviço Federal de Segurança, ex-KGB). O governo russo informou que, dos mais de 30 terroristas envolvidos na ação, dez eram árabes, 27 foram mortos, quatro estão foragidos e três foram capturados. A operação, garantiu, foi financiada pela Al-Qaeda, a rede terrorista liderada por Osama bin Laden, e arquitetada pelo senhor da guerra checheno Shamil Basayev.

O seqüestro na escola Beslan começou na manhã de quarta-feira, quando um comando de cerca de 20 rebeldes, armados de metralhadoras e cinturões de explosivos, invadiu o local fazendo um número incerto de reféns (falava-se em 450, mas anteontem o governo admitiu que eram cerca de 1,5 mil).

O presidente regional Alexander Dzasokhov afirmou ontem que os terroristas exigiam a retirada das tropas russas da Chechênia, na primeira ligação clara entre o ataque à escola e a guerra em curso na região vizinha. Caso não fossem atendidos, ameaçavam explodir a escola. Após intensas negociações, os seqüestradores chegaram a libertar, anteontem, um grupo de 26 reféns (crianças e mulheres). O presidente Vladimir Putin chegou a garantir que não usaria a força para libertar as vítimas (“Nossa prioridade é salvar a vida das crianças”), que permaneciam sem água, comida e remédios no ginásio de esportes. Putin não fez declarações públicas ontem.

A invasão da escola ocorreu no início da tarde (horário local). As versões são conflituosas. De acordo com o governo russo, a ação foi precipitada pelos rebeldes. Eles teriam disparado contra reféns que tentavam escapar quando ocorreu algumas explosões no momento em que socorristas entraram na escola com a permissão dos terroristas para coletar cerca de 20 corpos de reféns mortos.

“Em determinado momento, foram ouvidas explosões, reféns fugindo e terroristas atirando contra eles. Para minimizar o número de vítimas abrimos fogo”´, alegou o chefe da FSB. Alguns reféns contam uma história diferente, e dizem que a invasão começou quando alguns reféns tentavam fugir e foram atingidos por tiros dos soldados russos.

Há quem garanta que as explosões começaram com um acidente. “Os terroristas haviam colocado explosivos, com fitas adesivas, em várias partes da escola (no teto e até nas tabelas de basquete). Uma delas se soltou e a bomba explodiu”, disse uma refém. Uma menina contou chorando à NTV que uma mulher-bomba se explodiu no meio da multidão no ginásio.

O que se viu em seguida foram crianças nuas, várias delas ensangüentadas, fugindo da escola em meio a um intenso tiroteio. Enquanto isso, vários helicópteros russos sobrevoavam a escola, que teve um dos tetos derrubados pelas explosões.

Quando as tropas russas invadiram um dos prédios, jornalistas e civis conseguiram entrar atrás. “Nosso cinegrafista pôde ver mais de cem corpos no interior do ginásio. Havia muita gente caída, queimada pela explosão”, relatou o repórter da TV ITN, Julian Manyon, à rede de TV CNN.

As cenas que se seguiram eram as de soldados e civis carregando corpos das vítimas para a entrada da escola. Os 700 feridos, muitos com queimaduras e ferimentos de bala, foram levados para hospitais de Beslan e região.

Na madrugada deste sábado, 531 feridos permaneciam hospitalizados, entre eles 283 crianças - 92 das quais em estado “muito grave”. “Minha vida está destruída, perdi minha esposa e meu filho”, lamentou-se um homem junto ao cadáver da mulher.

Enquanto isso, os combates entre terroristas e soldados russos continuaram tarde adentro.