Congresso do Peru destitui Dina Boluarte, e José Jerí assume presidência

A troca de comando no Executivo aprofunda a crise institucional no país, que desde 2016 já teve sete presidentes

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Redação producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 16:08)
A presidente do Peru, Dina Boluarte, durante uma cerimônia de promulgação de uma lei de anistia para militares e policiais processados por violações de direitos humanos no Palácio do Governo, em Lima, em 13 de agosto de 2025.
Legenda: A decisão contra Dina Boluarte foi tomada com 122 votos favoráveis em um Congresso de 130 cadeiras.
Foto: ERNESTO BENAVIDES/AFP.

O Congresso do Peru destituiu a presidente Dina Boluarte, em meio a uma crise de segurança pública e instabilidade política, nesta sexta-feira (10). Em uma sessão relâmpago, os parlamentares aprovaram a saída dele por "incapacidade moral permanente" e nomearam o então presidente do Legislativo, José Jerí, como novo chefe de Estado até julho de 2026.

A decisão foi tomada com 122 votos favoráveis em um Congresso de 130 cadeiras, consolidando a queda de Boluarte menos de três anos após assumir o cargo. Aos 38 anos, Jerí prestou juramento ainda nesta manhã, prometendo "declarar guerra" ao crime organizado, que, segundo ele, "é o principal inimigo do povo peruano".

"Aos inimigos devemos declarar guerra", afirmou em seu primeiro discurso como presidente, fazendo referência à crescente onda de violência, extorsões e assassinatos atribuídos a grupos criminosos que atuam nas principais cidades do país.

Sétimo presidente em menos de 10 anos

A troca de comando no Executivo aprofunda a crise institucional no Peru, que desde 2016 já teve sete presidentes.

Três deles foram destituídos pelo Congresso, incluindo Boluarte; dois renunciaram antes de sofrer o mesmo destino, enquanto outro completou um mandato interino.

Agora, José Jerí assume com a missão de conduzir o país até as eleições gerais previstas para abril de 2026.

Queda anunciada

A situação de Boluarte se tornou insustentável diante da escalada da criminalidade e de uma sucessão de escândalos.

Sem base parlamentar nem apoio popular expressivo, a ex-presidente foi alvo de quatro moções de vacância em menos de 24 horas. A sessão final que decretou sua saída aconteceu sem sua presença. Convocada para se defender na noite anterior, Boluarte se recusou a comparecer. Seu advogado alegou falta de tempo hábil para preparar a defesa e criticou a condução do processo.

Veja passagem de faixa presidencial:

Boluarte enfrentou múltiplas investigações do Ministério Público. A mais recente, apelidada de "Rolexgate", surgiu após a aparição pública da presidente com joias de luxo não declaradas. Além disso, era investigada por suposto abuso de poder durante os protestos de 2022 e por ter se ausentado do cargo sem notificar o Congresso durante uma cirurgia estética.

A instabilidade no país aumentou nos últimos meses, com protestos em diferentes regiões e a deterioração da segurança pública. Cidades como Lima e Trujillo registraram recordes de homicídios, extorsões e sequestros — cenário que fortaleceu o discurso de endurecimento adotado pelo novo presidente.

Reações nas ruas

Logo após o anúncio da destituição, manifestantes se reuniram em frente à sede do Congresso, em Lima, para celebrar a decisão.

Cartazes com frases como "Cai Dina. Fora pacto mafioso" foram vistos no local. Segundo relatos da imprensa local, cerca de cem pessoas participaram do ato, agitando bandeiras do Peru e entoando gritos contra a corrupção.

Com a destituição, Boluarte perde o foro presidencial e poderá ser julgada nos processos que tramitam contra ela. A Procuradoria já sinalizou que poderá acelerar as investigações, principalmente as relacionadas ao uso da força durante os protestos de 2022, que deixaram cerca de 50 mortos, segundo organizações de direitos humanos.

Em pronunciamento divulgado após sua queda, Boluarte afirmou que sempre buscou a unidade do país. "Não pensei em mim, e sim nos mais de 34 milhões de peruanos", disse. A transmissão, feita pelo canal estatal, foi interrompida antes do término da fala.

 

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