Campanha de Trump intensifica ataques à vice do candidato rival

Escolha da senadora negra Kamala Harris como companheira de Joe Biden na chapa presidencial provoca ofensiva por parte do presidente Donald Trump

Escrito por Redação ,
Legenda: Kamala Harris, escolhida como vice de Joe Biden, passou a sofrer ataques por parte da campanha de Donald Trump
Foto: AFP

A decisão do candidato democrata à Casa Branca, Joe Biden, de escolher Kamala Harris como companheira de chapa, levou o presidente Donald Trump a intensificar os ataques à imagem da popular senadora da Califórnia, vista como uma ameaça à reeleição do republicano em 3 de novembro.

Atualmente, o Trump aparece em segundo lugar nas pesquisas sobre a corrida presidencial. Diante disso, a campanha republicana começou a explorar aspectos da biografia de Kamala em uma tentativa de reduzir seu potencial eleitoral, no momento em que os EUA discutem questões raciais após a morte de George Floyd, um homem afro-americano de 46 anos, nas mãos da Polícia de Minneapolis, em maio, estopim para uma série de protestos antirracistas.

Trump afirmou ter ouvido que Kamala não é elegível para o cargo porque não cumpre as exigências legais, alimentando uma falsa alegação que ecoa a mesma teoria infundada sobre o nascimento que ele promoveu sobre Barack Obama. Kamala nasceu em Oakland, Califórnia, em 1964, filha de pai jamaicano e de mãe indiana.

"Eles estão dizendo que ela não se qualifica porque não nasceu neste país", disse Trump, insinuando que ela não pode integrar a chapa.

Trump fez referência a um artigo do professor de Direito John Eastman, da Universidade Chapman, publicado na revista Newsweek, que afirmou que Kamala não seria elegível para o cargo porque não era uma "cidadã natural", pois seus pais não eram cidadãos americanos naturalizados no momento de seu nascimento.

De acordo com a Constituição, qualquer cidadão nascido no país e com mais de 35 anos pode disputar a vice-presidência. Laurence H. Tribe, professor de Direito Constitucional na Universidade de Harvard, afirmou que as alegações contra Kamala eram uma "teoria idiota".

Simpson

Além dos questionamentos sobre a origem da família de Kamala, a campanha republicana também tenta retratar a vice de Biden como uma pessoa sem preparo para o cargo.

Jenna Ellis, conselheira de campanha de Trump e advogada, escreveu no Twitter que Kamala "soa como Marge Simpson", em referência à dona de casa de "Os Simpsons".

Trump já chamou Kamala de "dona de casa suburbana". "Normalmente não me meto em política, mas a conselheira do presidente, Jenna Ellis, acabou de dizer que Kamala Harris soa como eu", comentou a personagem Marge em um vídeo no qual aparece em um palco, postado pela conta verificada de "Os Simpsons", no Twitter.

"(Minha filha) Lisa acha que isso não foi um elogio", disse a personagem, na voz da atriz Julie Kavner. "Como uma dona de casa suburbana comum, começo a me sentir um pouco desrespeitada", continuou. "Eu ensino meus filhos a não insultar... Jenna".

Kamala, convidada na terça-feira para compor a disputa presidencial democrata, é duas décadas mais jovem que Biden e Trump e pode atrair eleitores e mulheres mais jovens, especialmente dos subúrbios que pararam de apoiar o presidente republicano, segundo as pesquisas.

Trump também descreveu Kamala como uma pessoa de "esquerda radical" e disse que a presidência de Biden provocaria um desastre econômico.

Quanto ao avanço da pandemia do novo coronavírus, que os democratas usam para criticar a Casa Branca de incompetência na gestão da crise sanitária, "ele irá embora", rebateu Trump.

"Desafio é levar eleitor às urnas"

Ex-secretário de Planejamento do Ceará, o advogado Eduardo Diogo, que viveu quase três anos e meio em Washington, diz que a escolha de Kamala Harris como vice de Joe Biden representa muito para a chapa democrata.

"Com a Kamala, eles (democratas) têm a primeira vice mulher. Como nos EUA o voto não é obrigatório, eles têm de manter a população interessada em ir às urnas. Em 2016, eles não conseguiram", analisa Diogo, autor de um livro sobre eleição americana.

Sobre os ataques de Trump à Kamala, Diogo diz que isso "faz parte da política do Trump para manter a base dele interessada".