Boris Johnson repete que não vai pagar multa rescisória à Europa se sair sem acordo

O líder britânico insiste que sairá do bloco até o dia 31 de outubro, terceira data-limite dada ao Reino Unido, com ou sem acordo

Escrito por Folhapress ,
Legenda: O premiê afirmou que uma saída sem acordo desobriga os britânicos de desembolsar a soma prevista no acordo fechado
Foto: Ludovic Marin / AFP

Em mais um "ato de bravura" endereçado à plateia pró-brexit, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse neste domingo (25) que, se o Reino Unido deixar a União Europeia (UE) sem acordo, não pagará a "multa rescisória" de 39 bilhões de libras (R$ 198 bilhões).

Desde que assumiu a chefia de governo, no fim de julho, o líder conservador tem endurecido o discurso relativo às condições da saída britânica do bloco. De cara, prometeu retirar seu país do consórcio em 31 de outubro deste ano (terceira data-limite fixada entre as partes), "sem 'se' nem 'mas'".

Isso porque, segundo Johnson, o bloco insiste em manter no documento uma cláusula (o "backstop", que visa a evitar a volta de controles alfandegários na fronteira entre as Irlandas) que soa inadmissível a boa parte dos deputados britânicos — daí as três rejeições do texto até agora.

No domingo, ele voltou a jogar a bola para o lado adversário, dizendo que o brexit sereno, com um tempo de adaptação para os dois lados pós-despedida, só depende dos europeus.

Multa

Sobre a conta que Londres precisa pagar na hora do adeus, o premiê afirmou que um "no deal" (saída sem acordo) desobriga os britânicos de desembolsar a soma prevista no acordo fechado, em novembro de 2018, pela antecessora dele, Theresa May. O governo britânico estaria disposto a pagar, na melhor das hipóteses, 10 bilhões de libras (R$ 50 bilhões).

"Como eu já disse várias vezes, teremos, em 1º de novembro, somas consideráveis para gastar em incentivos aos nossos produtores rurais e em outras áreas", disse o primeiro-ministro, que participa em Biarritz, na França, da cúpula anual do G7 (clube de países ricos).

A União Europeia também já repetiu em algumas ocasiões que, com ou sem aprovação de acordo por seu Parlamento, o Reino Unido precisa pagar os 39 bilhões de libras para de desvencilhar do grupo. É isso, ou não haverá negociação de nova relação comercial entre os dois lados após o brexit.

No sábado (24), o jornal The Observer noticiou que o governo britânico buscou recentemente aconselhamento jurídico sobre a possibilidade de suspender as atividades parlamentares por cinco semanas, até bem perto da data-limite para o brexit. O objetivo seria impedir manobras dos deputados para evitar o "no deal".

O Parlamento volta do recesso no começo de setembro, e líderes da oposição já anunciaram a intenção de apresentar uma moção de desconfiança no governo Johnson — que, se prosperasse, poderia levar à convocação de eleições antecipadas e/ou ao adiamento do brexit. Em Biarritz, no domingo, o premiê pôs panos quentes na proposta, dizendo que não impedirá o Legislativo de prosseguir seus debates sobre o brexit.