BC da Inglaterra prevê queda da libra e do crescimento com um Brexit sem acordo

Reino Unido deve deixar a União Europeia no próximo dia 31 de outubro

Escrito por AFP ,
Legenda: Em Fortaleza, libra esterlina é vendida, em espécie, por cerca de R$ 5, incluindo o IOF de 1,10%
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O Banco de Inglaterra (BoE) acredita que um Brexit sem acordo se traduzirá em uma queda da libra e um crescimento lento no Reino Unido, em um momento em que essa hipótese é reforçada com a chegada de Boris Johnson a Downing Street. 

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"No caso de um Brexit sem acordo, a taxa de câmbio da libra provavelmente recuará, a inflação aumentará e o crescimento do PIB desacelerará", escreveu o BoE na ata de sua reunião de política monetária. 

O Brexit está agendado para 31 de outubro e Johnson advertiu que o Reino Unido deixará a UE nessa data, com ou sem acordo.

Premiê

O novo primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, enfrenta seu primeiro teste nas urnas nesta quinta-feira, em uma eleição parcial que poderá reduzir sua pequena maioria parlamentar a apenas um voto, o que dificulta a implementação de sua estratégia para o Brexit.

O Partido Conservador no poder, e liderado por Johnson desde a semana passada, pode perder a região eleitoral de Brecon e Radnorshire, no País de Gales, em favor de um candidato pró-europeu.

Isso enfraquecerá o novo governo que acaba de anunciar que vai duplicar o orçamento para a preparação de um Brexit sem um acordo, com 2,1 bilhões de libras (2,3 bilhões de euros, 2,54 bilhões de dólares) adicionais este ano.

Esse dinheiro servirá para "acelerar os preparativos na fronteira e nas empresas, bem como para lançar uma nova campanha de comunicação sobre o Brexit", disse o Tesouro britânico.

"Esse governo poderia ter descartado um Brexit 'sem acordo' e gastar esses bilhões em nossas escolas, hospitais e cidadãos", criticou John Mcdonnell, ministro das Finanças do gabinete da oposição trabalhista, denunciando o que chamou de "desperdício".

A oposição não está apenas nas fileiras do Partido Trabalhista. Philip Hammond, ministro das Finanças do governo conservador anterior, já advertiu que fará qualquer coisa para bloquear um "não acordo". 

A candidata do Partido Liberal Democrata em Brecon, Jane Dodds, que lidera as pesquisas, alertou contra um Brexit sem acordo que afetará os fazendeiros do País de Gales economicamente.

Johnson quer renegociar o acordo de de retirada alcançado pela ex-primeira-ministra Theresa May e Bruxelas, que exclui tal coisa. 

Efeito Boris

Mesmo que fracasse, afirma que o Reino Unido sairá da União Europeia, com ou sem acordo, em 31 de outubro.

A eleição parcial desta quinta-feira acontece depois do impeachment do deputado conservador Chris Davies, causada pelos eleitores, como permitido por um procedimento introduzido em 2015 pelo ex-primeiro-ministro conservador David Cameron. 

Os eleitores puniram Davies após sua condenação por falsas declarações de despesas. Reconhecendo ter cometido um erro, o deputado se apresenta novamente à disputa.

Mas, de acordo com o Number Cruncher Politics Institute, o Partido Liberal Democrata deve ganhar com 43% dos votos, à frente dos conservadores (28%), do Partido do Brexit presidido por Nigel Farage (20%) e do Partido Trabalhista (8%).

No entanto, outra pesquisa realizada no País de Gales pelo instituto YouGov gerou resultados inesperados: os conservadores se beneficiariam de um aumento súbito, interpretado como um "efeito Boris", segundo analistas. 

O distrito eleitoral de Brecon e Radnorshire votou 52% a favor de um divórcio com a UE no referendo sobre o Brexit em 2016, do qual Johnson foi um dos grandes artesãos. 

Johnson foi à localidade na terça-feira para se encontrar com Davies e pediu aos eleitores que não confiem no Partido do Brexit, uma força populista que aproveitou o impasse no processo para abrir passagem nas eleições europeias de maio com 31% dos votos (contra 9% para conservadores).