Ashraf Ghani é reeleito presidente no Afeganistão

Os resultados foram anunciados com mais de três meses de atraso, quase cinco meses após a eleição. Um total de 16.500 denúncias de irregularidades foram apresentadas pelos candidatos

Escrito por AFP ,
Legenda: Ashraf Ghani
Foto: AFP

Ashraf Ghani foi reeleito presidente do Afeganistão, de acordo com os resultados finais das eleições de 28 de setembro divulgados nesta terça-feira (18) pela Comissão Eleitoral do país e já contestados por seu adversário Abdullah Abdullah.

"A Comissão Eleitoral declara que Ashraf Ghani, que obteve 50,64% dos votos, é o presidente do Afeganistão", disse Hawa Alam Nuristani, presidente da Comissão em entrevista coletiva em Cabul.

O anúncio do resultado da votação foi adiado quase cinco meses por causa de acusações de manipulação de votos apresentadas pelo principal adversário de Ghani, Abdullah Abdullah.

Será Ghani, portanto, quem se sentará com o Talibã para as futuras negociações destinadas a decidir o futuro do país. "Que Deus o ajude a servir o povo do Afeganistão. Também rezo para que a paz chegue ao nosso país", acrescentou Nuristani.

Os resultados, no entanto, já estão sendo contestados, como já havia ocorrido em 2014, pela equipe de Abdullah Abdullah. O principal oponente de Ashraf Ghani conquistou 39,52% dos votos, segundo a Comissão Eleitoral.

"Os resultados anunciados pela comissão não têm legitimidade", reagiu o porta-voz de sua equipe de campanha, Faraidoon Khwazoon, entrevistado pela AFP. "Nos retiramos do processo (eleitoral) há dois dias. As comissões não agiram de acordo com a lei e perderam sua legitimidade", afirmou.

O vice-presidente Abdul Rashid Dostum, um poderoso ex-senhor da guerra e aliado de Abdullah Abdullah, também ameaçou formar um governo paralelo se fossem anunciados resultados "fraudulentos". 

A população afegã e a comunidade internacional temem uma repetição do cenário de 2014, quando Abdullah Abdullah contestou os resultados das eleições, marcadas por graves irregularidades, o que levou a uma crise constitucional.

O anúncio ocorre quando Washington continua a negociar um acordo com o Talibã para a retirada das tropas estadunidenses do Afeganistão, principalmente em troca de garantias de segurança. 

Se o governo de Cabul ficou de fora até agora da mesa de negociações, ele deve participar das negociações internas com os insurgentes, que deverão começar após a assinatura de um acordo entre os estadunidenses e o Talibã.

Na segunda-feira, o enviado dos Estados Unidos, Zalmay Khalilzad, que representa Washington há mais de um ano nas negociações, disse que estava "cautelosamente otimista" com o progresso alcançado em vista de um possível acordo.

Os Estados Unidos atingiram "compromissos da parte do Talibã em questões de segurança", disse ele em uma conferência em Islamabad. Na semana passada, o presidente estadunidense Donald Trump estimou que um acordo bilateral estava "muito próximo".

O Talibã, as forças de segurança afegãs e os Estados Unidos concordaram em lançar uma "redução da violência" por sete dias, segundo as autoridades locais. No entanto, essa trégua parcial ainda não foi iniciada.

Para o analista Atta Noori, a eleição de Ghani é "um passo adiante" no processo de negociação. "Um governo vacilante não está em posição de falar com o Talibã", explicou. "Os próximos eventos são mais importantes do que as queixas de Abdullah sobre fraudes", acrescentou Noori.

Os resultados foram anunciados com mais de três meses de atraso, quase cinco meses após a eleição. Um total de 16.500 denúncias de irregularidades foram apresentadas pelos candidatos.

Os resultados preliminares divulgados no final de dezembro já mostravam uma vitória do chefe de Estado afegão.

Essa eleição presidencial foi marcada por uma participação muito baixa, com 1,8 milhão de votos levados em consideração pela Comissão Eleitoral, de um total de 9,6 milhões de eleitores registrados. Quase um milhão dos 2,7 milhões de votos computados foram descartados por irregularidades.